Irreverência ou MORTE - Reynaldo Domingos
Ferreira De: Reynaldo Ferreira
Date: seg., 5 de set. de 2022
Subject: Irreverência ou MORTE
IRREVERÊNCIA OU MORTE
Entre os inúmeros livros, com os quais sou
regularmente presenteado por amigos - o que
interpreto, naturalmente, como elogio -,
gostaria de dar evidência aos demais de um
opúsculo, " Irreverência ou Morte", uma
coletânea de trocadilhos, de muito humor, e, por
isso, bastante oportuno para o tenebroso
momento, que vivemos neste país, em que, entre
outras barbaridades, atenta-se contra a
liberdade de expressão, assegurada inutilmente
por nossa Carta Magna, que deveria ser
consagrada e reverenciada, no dia a dia, pelos
inaptos governantes.
O opúsculo, a que me refiro, é de um poeta,
José Gaspar Chemin, cultuador do haicai, também
conhecido como "poeta das pedras ", nascido no
distrito de Apiaba, no município de Imbituba, no
Paraná, em junho de 1942. A primeira obra
escrita por ele, que se tornou, ainda jovem,
escritor antes de leitor, foi " Domingario ",
uma narrativa de aventuras juvenis de seus dias
de folga do trabalho. Outros livros do poeta
paranaense são: " poeminhos sentimáximos ", "
tentes VER vertentes", " quando AMO versos
TRAMO". Pois muito bem, vamos agora a alguns
trocadilhos, que constam do opúsculo "
Irreverência ou Morte " : " devendo em popa ", "
BRASÍLIA você é um AVIÃO ", " No dia de FINADOS,
ficamos CONFINADOS " , Moléstias a parte ", "
promessa é duvida", " rogai por nós pescadores
", " - Niemeyer é religioso? - não, ele só crê
no concreto".
PENSE BEM - COMO ENFRENTAR ESSES DIAS
SOMBRIOS
No mesmo diapasão com que dou destaque ao
livro do "poeta de pedra", do Paraná, quero lhes
falar de " Pense Bem - Como enfrentar esses dias
sombrios ", uma coletânea de ensaios, críticas e
crônicas, de Julianne Meirelles de Brito e José
Bernardes, ambos de Brasília. Ela possui
rutilante inteligência, que, em seus ensaios,
faz lembrar Susan Sontag, pois percorre os mais
variados temas, com voz própria, acuidade e
personalidade. Ele é jornalista - 43 anos de
profissão - e escritor, com dois anos de
atividades literárias, mas já com diversos
livros publicados, como " Vestígios", " Sobre as
Ruínas da Imprensa", " Odisseia dos Kenji, de
Damasco a Brasília ", " Imprensa Tóxica " e "
Sobre As Ruínas Da Imprensa ( Redes sociais
quebraram o monopólio da informação ) ". Em um
de seus ensaios, José Bernardes adverte seus
leitores de que o celular está, a galope,
matando os seus pensamentos. " Como assim? -
vocês, de pronto, perguntam. Sim, já notaram que
ele está pensando por vocês? Datas de
aniversário, datas de pagamentos, localização, o
que vocês fizeram há um ano e por aí vai. Isto
é, a sua memória está ficando preguiçosa porque
a tarefa de pensa foi " deslocada " para uma
máquina: ela pensa por vocês! Há pessoas que
acham isso admirável, mas não é. É um "
deslocamento " apocalíptico." Julianné Meirelles
de Brito, por sua vez, ataca a politica de
cotas, que, a seu ver, estimula a discriminação.
" Com tantas cotas pó aí - ela diz -, não seria
o caso de os brancos e os amarelos, italianos,
argentinos, russos, com nacionalidade
brasileira, terem também direito a uma? Há muita
gente que entende que sim. Afinal, existem hoje,
no Brasil, cotas raciais, cotas de gênero
sexual, cotas socioeconômicas. Por que, então,
não se ampliar o leque dos protegidos sob o
argumento, usado até hoje pelos incentivadores (
as universidades, sobretudo ) de que isso
desenvolve a igualdade social. Há nessa política
de cotas um aspecto que não foi levado em conta
pela esquerda, que a originou. Ela, na
verdadeade, estimula a segregação, a
discriminação racial, até o ódio, ao privilegiar
pessoas desta ou daquela raça ou situação
econômica. Há quem garanta que essa política
fere o direito constitucional da igualdade, que
diz que todos são iguais perante a lei."
DIÁRIO VERMELHO ( COMO SE VIVIA NUM PAÍS
COMUNISTA )
Um livro empolgante para se ler, no momento
em que acontece uma guerra da Rússia contra a
Ucrânia - o que se pode considerar quase como
uma guerra civil -, a mim ofertado pelo autor,
Flávio Mesquita, é " Diário Vermelho ( Como se
Vivia Num País Comunista )" . Flávio é
fluminense, nascido em Niterói, em 1943, mas
vive hoje em Curitiba, PR, dedicado à
literatura. Ele se formou em Engenharia
Elétrica, pela Universidade Federal Fluminense,
tendo trabalhado, na CHESF - Companhia
Hidrelétrica do São Francisco, diretamente na
construção da Paulo Afonso - BA, onde permaneceu
por dez anos. Em seguida, passou por várias
obras localizadas no Brasil e no exterior. A
origem do livro " Diário Vermelho ( Como se
Vivia Num País Comunista ) " se deu a partir de
um curso feito pelo autor, em Kiev, sob o
domínio da União Soviética, em 1972. Surgiu
então a oportunidade para o Flávio conhecer como
realmente viviam as pessoas, naquele país e como
o governo tratava o seu povo. Através da leitura
dos fatos narrados pelo autor, bem como das
ilustrações fotográficas, por ele realizadas,
pôde-se compreender como tudo acontecia, naquela
época, na Rússia e na Ucrânia, dominadas ambas
pelo regime comunista. Vale a pena ler.
RESGATAR A HONRA DA PALAVRA " POLÍTICA "
Em sua participação na antologia " Escritos
IX ", editada no Rio Grande do Sul, a
jornalista, escritora, professora universitária,
tradutora, conferencista e produtora cultural,
Theresa Catharina de Góes Campos, natural do Rio
Grande do Norte, Natal, nascida em janeiro de
1945, encarece a necessidade de se resgatar a
honra da palavra "Política". Ela afirma: " - O
motivo de nossas considerações está na
deterioração que a palavra " política" vem
sofrendo, ao assumir uma conotação negativa,
relacionada às ações nada louváveis de
candidatos e ocupantes de cargos públicos
envolvidos em atos de corrupção dos mais
variados tipos, iludindo, mentindo, praticando a
ambiguidade de atitudes em nome de interesses
inconfessáveis ". Prosseguindo, a jornalista
esclarece: " Muitos não conhecem o significado
etimológico: historicamente, " Política" é a
arte de promover o bem comum. Esse legado
cultural nós devemos à civilização greco-romana,
que, na antiguidade clássica ocidental, definia
a pessoa humana em sua condição de cidadã,
portanto, em suas relações com a "polis", sua
cidade, em contexto de direitos e
responsabilidades".
LANTERNAS FLUTUANTES ( HABITANDO POETICAMENTE
O MUNDO )
O autor, jornalista Aylé-Salassié Quintão, é
ex-correspondente em Londres, professor, doutor
em História Cultural e membro da Academia de
Letras do Brasil, tendo publicados também os
seguintes livros: " Pinguela"," Codinome ",
"Rupturas ", " Americanidade ", " Ténodé Porá",
" Projeto Clandestino ", " Cidade Sem Pecado " e
" Jornalismo Econômico ". Em elucidativo
prefácio, o poeta e escritor, Anderson Braga
Horta, esclarece que o leitor de "Lanternas
Flutuantes " não deve iludir-se de que seguirá,
no livro, " um fio condutor narrativo ou vereda
coerente de ensaios interligados, ver-se-á a
braços, isso sim, com uma espécie de caos - em
todo caso, um caos ordenado". E aconselha,
finalmente: " É ler sem parti pris, sem bitolas,
ao léu, como se estivesse ante a gratuidade de
um poema, o que de certo modo é verdadeiro e não
pela parte final, em versos; O CONJUNTO, ACHO,
DEVE COMPOR UM POEMA NA MEMÓRIA DO LEITOR " (
grifo nosso ). Por sua vez, o autor explica que
" esse texto foi desenvolvido de maneira tão
lúdica e autônoma que torna quase indispensável,
para alguns, a leitura dos capítulos iniciais,
que reúnem dois pequenos livros: o primeiro é
uma explicação sobre os conceitos que dão forma
à liberdade poética; o segundo é constituído de
poemas livres, envolvendo seis figuras
arquetípicas ( Jung ), com quem conviveu o
narrador e que súbito emergiram no imaginário. É
nesse segundo livro que se pode ler poemas, como
este: " Escuridão Sedutora " , " Atiçados pela
insônia / três inconsequentes estudantes / sete
notas percorriam / quebrando a nostalgia, / com
fragmentadas canções / e suaves melodias / como
se fossem orações. / Camuflados entre a
folhagem, / agrediam / o silente retumbante / de
noite, já madrugada / expondo a imaturidade, / a
claudicante coragem / configurada em sonhos e
fantasias ( ... )
OS ESCRITORES BRASILEIROS SÃO RELEGADOS EM
SEU PAÍS
A preferência por dar aqui destaque a livros
de escritores brasileiros, entre os que me foram
doados, ultimamente, por amigos, justifica-se
porque, em nossa triste realidade, os autores
nacionais são maltratados, em toda parte, nas
livrarias, nos teatros - assuntos nacionais não
sobem aos nossos palcos desde os tempos do
Teatro Brasileiro de Comédia, do Teatro de Arena
e do Teatro Maria Della Costa -, da televisão,
dos cinemas e tutti quanti. O escritor angolano
Mia Couto, que goza de prestígio, entre nós, já
observou isso, com muita propriedade. O
tratamento dado aqui é, de fato, absolutamente
desigual, entre os nacionais - principalmente os
que não são da esquerda - e os estrangeiros. A
Lei Rouanet, de incentivo à cultura, por
exemplo, não estabelece, em se tratando de
teatro, nenhum tipo de prioridade para encenação
de textos nacionais. É lamentável.
HAWTHORNE E SEUS MUSGOS
Entre os livros de autores estrangeiros, que
recentemente me foram ofertados por amigos, há
essa preciosidade, " Hawthorne E Seus Musgos ",
de Herman Melville, em edição de bolso, da Hedra
Editora, de São Paulo, um trabalho de
organização e tradução de Luiz Roberto Takayama.
É a história de uma amizade, entre dois
escritores, Herman Melville ( " Moby Dick " ) e
Nathaniel Hawthorne ( " A Carta Escarlate " ),
dos maiores da literatura norte-americana. Essa
história é narrada através das cartas de apenas
um deles, Melville, pois as respostas do outro,
Hawthorne, se perderam. Como nada dura para
sempre, também essa amizade teve começo, meio e
fim. Esclarece Takayama, na introdução, que "
Hawthorne e seu musgos " aparece em 17 e 24 de
agosto de 1850 no " The Literary World ",
prestigiado periódico da época. " Trata-se - ele
explica - de um ensaio sobre " The Mosses from
an Old Manse " ( Os musgos de um velho
presbitério ), livro de contos de Nathaniel
Hawthorne. Através de uma análise profunda e
apaixonada dessa obra, Melville expõe suas
ideias fulgurantes a respeito da literatura,
defendendo ardorosamente uma literatura
americana autônoma e original, livre de sua
dependência da tradição inglesa. Alguns dias
antes de ver publicado seu artigo, Melville
havia se encontrado com Hawthorne num piquenique
em Berkshire. Vizinhos um do outro a poucas
milhas de distância, nasceria a partir daí uma
forte amizade, como atesta a correspondência que
o leitor terá a oportunidade de ler ao fim do
ensaio, também inédita em português. Nela fica
explícita a relação fraternal cultivada entre os
dois escritores, as ideias de Melville a
respeito de literatura, sobretudo da Americana,
o argumento para um conto, baseado em uma
história real, oferecido a Hawthorne, assim como
as curiosas informações sobre o desenvolvimento
de um romance que ele elaborava à época e que
mais tarde ficaria conhecido como " Moby Dick".
Nas cronologias, Takayama informa que Herman
Melville esteve no Rio de Janeiro, em 1841, a
bordo do Acushnet, seguindo depois para Cape
Horn e Ilhas Galápagos.
( PROSSEGUE ) Grato pela leitura. Reynaldo
Domingos Ferreira |