Theresa Catharina de Góes Campos

     
MENSAGEM DE AGRADECIMENTO ao escritor e jornalista REYNALDO FERREIRA

Estimado Reynaldo Domingos Ferreira:

Ao ler seu competente artigo "IRREVERÊNCIA OU MORTE", antológico e abrangente, com a partilha generosa de incontáveis informações literárias e culturais sobre livros ( linguagem, forma, contexto, conteúdo, importância) e autores, mais uma vez me surpreendo, emocionada, com a inclusão de meu nome, destacando um texto que escrevi em defesa e resgate da palavra "política"_ arte e ciência de promover o bem comum. Reconheço, porém, que esta manifestação de minha gratidão está sempre muito aquém do que você merece. Obrigada. Abraço amigo de Theresa Catharina de Góes CamposBrasília - DF, 6 de setembro de 2022

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Prezada amiga Theresa Catharina,

Muito grato lhe fico eu por reproduzir em seus prestigiosos sites os meus escritos, que assim se tornam mais lidos, conhecidos e gravados. Não há por que, de sua parte,me agradecer pela citação, neste artigo, de apenas uma de suas excelentes crônicas constantes daantologia " Escritos IX ", com a qual me presenteou. O objetivo do artigo é o de despertaro interesse dos leitores pela leitura. Forte abraço do amigo de sempre, Reynaldo

Reynaldo Domingos Ferreira

Brasília - DF, 7 de setembro de 2022

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IRREVERÊNCIA OU MORTE

Entre os inúmeros livros, com os quais sou regularmente presenteado por amigos - o que interpreto, naturalmente, como elogio -, gostaria de dar evidência aos demais de um opúsculo, " Irreverência ou Morte", uma coletânea de trocadilhos, de muito humor, e, por isso, bastante oportuno para o tenebroso momento, que vivemos neste país, em que, entre outras barbaridades, atenta-se contra a liberdade de expressão, assegurada inutilmente por nossa Carta Magna, que deveria ser consagrada e reverenciada, no dia a dia, pelos inaptos governantes.

O opúsculo, a que me refiro, é de um poeta, José Gaspar Chemin, cultuador do haicai, também conhecido como "poeta das pedras ", nascido no distrito de Apiaba, no município de Imbituba, no Paraná, em junho de 1942. A primeira obra escrita por ele, que se tornou, ainda jovem, escritor antes de leitor, foi " Domingario ", uma narrativa de aventuras juvenis de seus dias de folga do trabalho. Outros livros do poeta paranaense são: " poeminhos sentimáximos ", " tentes VER vertentes", " quando AMO versos TRAMO". Pois muito bem, vamos agora a alguns trocadilhos, que constam do opúsculo " Irreverência ou Morte " : " devendo em popa ", " BRASÍLIA você é um AVIÃO ", " No dia de FINADOS, ficamos CONFINADOS " , Moléstias a parte ", " promessa é duvida", " rogai por nós pescadores ", " - Niemeyer é religioso? - não, ele só crê no concreto".

PENSE BEM - COMO ENFRENTAR ESSES DIAS SOMBRIOS

No mesmo diapasão com que dou destaque ao livro do "poeta de pedra", do Paraná, quero lhes falar de " Pense Bem - Como enfrentar esses dias sombrios ", uma coletânea de ensaios, críticas e crônicas, de Julianne Meirelles de Brito e José Bernardes, ambos de Brasília. Ela possui rutilante inteligência, que, em seus ensaios, faz lembrar Susan Sontag, pois percorre os mais variados temas, com voz própria, acuidade e personalidade. Ele é jornalista - 43 anos de profissão - e escritor, com dois anos de atividades literárias, mas já com diversos livros publicados, como " Vestígios", " Sobre as Ruínas da Imprensa", " Odisseia dos Kenji, de Damasco a Brasília ", " Imprensa Tóxica " e " Sobre As Ruínas Da Imprensa ( Redes sociais quebraram o monopólio da informação ) ". Em um de seus ensaios, José Bernardes adverte seus leitores de que o celular está, a galope, matando os seus pensamentos. " Como assim? - vocês, de pronto, perguntam. Sim, já notaram que ele está pensando por vocês? Datas de aniversário, datas de pagamentos, localização, o que vocês fizeram há um ano e por aí vai. Isto é, a sua memória está ficando preguiçosa porque a tarefa de pensa foi " deslocada " para uma máquina: ela pensa por vocês! Há pessoas que acham isso admirável, mas não é. É um " deslocamento " apocalíptico." Julianné Meirelles de Brito, por sua vez, ataca a politica de cotas, que, a seu ver, estimula a discriminação. " Com tantas cotas pó aí - ela diz -, não seria o caso de os brancos e os amarelos, italianos, argentinos, russos, com nacionalidade brasileira, terem também direito a uma? Há muita gente que entende que sim. Afinal, existem hoje, no Brasil, cotas raciais, cotas de gênero sexual, cotas socioeconômicas. Por que, então, não se ampliar o leque dos protegidos sob o argumento, usado até hoje pelos incentivadores ( as universidades, sobretudo ) de que isso desenvolve a igualdade social. Há nessa política de cotas um aspecto que não foi levado em conta pela esquerda, que a originou. Ela, na verdadeade, estimula a segregação, a discriminação racial, até o ódio, ao privilegiar pessoas desta ou daquela raça ou situação econômica. Há quem garanta que essa política fere o direito constitucional da igualdade, que diz que todos são iguais perante a lei."

DIÁRIO VERMELHO ( COMO SE VIVIA NUM PAÍS COMUNISTA )

Um livro empolgante para se ler, no momento em que acontece uma guerra da Rússia contra a Ucrânia - o que se pode considerar quase como uma guerra civil -, a mim ofertado pelo autor, Flávio Mesquita, é " Diário Vermelho ( Como se Vivia Num País Comunista )" . Flávio é fluminense, nascido em Niterói, em 1943, mas vive hoje em Curitiba, PR, dedicado à literatura. Ele se formou em Engenharia Elétrica, pela Universidade Federal Fluminense, tendo trabalhado, na CHESF - Companhia Hidrelétrica do São Francisco, diretamente na construção da Paulo Afonso - BA, onde permaneceu por dez anos. Em seguida, passou por várias obras localizadas no Brasil e no exterior. A origem do livro " Diário Vermelho ( Como se Vivia Num País Comunista ) " se deu a partir de um curso feito pelo autor, em Kiev, sob o domínio da União Soviética, em 1972. Surgiu então a oportunidade para o Flávio conhecer como realmente viviam as pessoas, naquele país e como o governo tratava o seu povo. Através da leitura dos fatos narrados pelo autor, bem como das ilustrações fotográficas, por ele realizadas, pôde-se compreender como tudo acontecia, naquela época, na Rússia e na Ucrânia, dominadas ambas pelo regime comunista. Vale a pena ler.

RESGATAR A HONRA DA PALAVRA " POLÍTICA "

Em sua participação na antologia " Escritos IX ", editada no Rio Grande do Sul, a jornalista, escritora, professora universitária, tradutora, conferencista e produtora cultural, Theresa Catharina de Góes Campos, natural do Rio Grande do Norte, Natal, nascida em janeiro de 1945, encarece a necessidade de se resgatar a honra da palavra "Política". Ela afirma: " - O motivo de nossas considerações está na deterioração que a palavra " política" vem sofrendo, ao assumir uma conotação negativa, relacionada às ações nada louváveis de candidatos e ocupantes de cargos públicos envolvidos em atos de corrupção dos mais variados tipos, iludindo, mentindo, praticando a ambiguidade de atitudes em nome de interesses inconfessáveis ". Prosseguindo, a jornalista esclarece: " Muitos não conhecem o significado etimológico: historicamente, " Política" é a arte de promover o bem comum. Esse legado cultural nós devemos à civilização greco-romana, que, na antiguidade clássica ocidental, definia a pessoa humana em sua condição de cidadã, portanto, em suas relações com a "polis", sua cidade, em contexto de direitos e responsabilidades".

LANTERNAS FLUTUANTES ( HABITANDO POETICAMENTE O MUNDO )

O autor, jornalista Aylé-Salassié Quintão, é ex-correspondente em Londres, professor, doutor em História Cultural e membro da Academia de Letras do Brasil, tendo publicados também os seguintes livros: " Pinguela"," Codinome ", "Rupturas ", " Americanidade ", " Ténodé Porá", " Projeto Clandestino ", " Cidade Sem Pecado " e " Jornalismo Econômico ". Em elucidativo prefácio, o poeta e escritor, Anderson Braga Horta, esclarece que o leitor de "Lanternas Flutuantes " não deve iludir-se de que seguirá, no livro, " um fio condutor narrativo ou vereda coerente de ensaios interligados, ver-se-á a braços, isso sim, com uma espécie de caos - em todo caso, um caos ordenado". E aconselha, finalmente: " É ler sem parti pris, sem bitolas, ao léu, como se estivesse ante a gratuidade de um poema, o que de certo modo é verdadeiro e não pela parte final, em versos; O CONJUNTO, ACHO, DEVE COMPOR UM POEMA NA MEMÓRIA DO LEITOR " ( grifo nosso ). Por sua vez, o autor explica que " esse texto foi desenvolvido de maneira tão lúdica e autônoma que torna quase indispensável, para alguns, a leitura dos capítulos iniciais, que reúnem dois pequenos livros: o primeiro é uma explicação sobre os conceitos que dão forma à liberdade poética; o segundo é constituído de poemas livres, envolvendo seis figuras arquetípicas ( Jung ), com quem conviveu o narrador e que súbito emergiram no imaginário. É nesse segundo livro que se pode ler poemas, como este: " Escuridão Sedutora " , " Atiçados pela insônia / três inconsequentes estudantes / sete notas percorriam / quebrando a nostalgia, / com fragmentadas canções / e suaves melodias / como se fossem orações. / Camuflados entre a folhagem, / agrediam / o silente retumbante / de noite, já madrugada / expondo a imaturidade, / a claudicante coragem / configurada em sonhos e fantasias ( ... )

OS ESCRITORES BRASILEIROS SÃO RELEGADOS EM SEU PAÍS

A preferência por dar aqui destaque a livros de escritores brasileiros, entre os que me foram doados, ultimamente, por amigos, justifica-se porque, em nossa triste realidade, os autores nacionais são maltratados, em toda parte, nas livrarias, nos teatros - assuntos nacionais não sobem aos nossos palcos desde os tempos do Teatro Brasileiro de Comédia, do Teatro de Arena e do Teatro Maria Della Costa -, da televisão, dos cinemas e tutti quanti. O escritor angolano Mia Couto, que goza de prestígio, entre nós, já observou isso, com muita propriedade. O tratamento dado aqui é, de fato, absolutamente desigual, entre os nacionais - principalmente os que não são da esquerda - e os estrangeiros. A Lei Rouanet, de incentivo à cultura, por exemplo, não estabelece, em se tratando de teatro, nenhum tipo de prioridade para encenação de textos nacionais. É lamentável.

HAWTHORNE E SEUS MUSGOS

Entre os livros de autores estrangeiros, que recentemente me foram ofertados por amigos, há essa preciosidade, " Hawthorne E Seus Musgos ", de Herman Melville, em edição de bolso, da Hedra Editora, de São Paulo, um trabalho de organização e tradução de Luiz Roberto Takayama. É a história de uma amizade, entre dois escritores, Herman Melville ( " Moby Dick " ) e Nathaniel Hawthorne ( " A Carta Escarlate " ), dos maiores da literatura norte-americana. Essa história é narrada através das cartas de apenas um deles, Melville, pois as respostas do outro, Hawthorne, se perderam. Como nada dura para sempre, também essa amizade teve começo, meio e fim. Esclarece Takayama, na introdução, que " Hawthorne e seu musgos " aparece em 17 e 24 de agosto de 1850 no " The Literary World ", prestigiado periódico da época. " Trata-se - ele explica - de um ensaio sobre " The Mosses from an Old Manse " ( Os musgos de um velho presbitério ), livro de contos de Nathaniel Hawthorne. Através de uma análise profunda e apaixonada dessa obra, Melville expõe suas ideias fulgurantes a respeito da literatura, defendendo ardorosamente uma literatura americana autônoma e original, livre de sua dependência da tradição inglesa. Alguns dias antes de ver publicado seu artigo, Melville havia se encontrado com Hawthorne num piquenique em Berkshire. Vizinhos um do outro a poucas milhas de distância, nasceria a partir daí uma forte amizade, como atesta a correspondência que o leitor terá a oportunidade de ler ao fim do ensaio, também inédita em português. Nela fica explícita a relação fraternal cultivada entre os dois escritores, as ideias de Melville a respeito de literatura, sobretudo da Americana, o argumento para um conto, baseado em uma história real, oferecido a Hawthorne, assim como as curiosas informações sobre o desenvolvimento de um romance que ele elaborava à época e que mais tarde ficaria conhecido como " Moby Dick". Nas cronologias, Takayama informa que Herman Melville esteve no Rio de Janeiro, em 1841, a bordo do Acushnet, seguindo depois para Cape Horn e Ilhas Galápagos.

( PROSSEGUE ) Grato pela leitura. Reynaldo Domingos Ferreira

 

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