*Lula fracassou em enterrar o tema da corrupção
e seus adversários notaram* J.R. Guzzo
O primeiro debate entre os candidatos à
presidência na Band teve pelo uma grande
utilidade – além, é claro, de ser um verdadeiro
programa de jornalismo, em vez do interrogatório
enfurecido feito contra um dos candidatos, o
presidente da República, e o bondoso comercial
de margarina feito a favor do outro, o
ex-presidente Lula, na “sabatina” da Rede Globo.
O assunto corrupção,essencial nesta campanha, e
mantido como um segredo de Estado pela Globo,
surgiu, enfim, aos olhos do público no debate.
Na “sabatina”, o apresentador agiu como um
assessor de imprensa ou o advogado criminal de
Lula; em vez de perguntar sobre aquele que foi o
maior surto de corrupção da história do Brasil,
fez um manifesto à nação dizendo que “o senhor
não deve nada à justiça”. Até Lula parece ter
ficado surpreso. Mas no programa da Band não
houve esta parceria. Lula, enfim, foi colocado
diante da necessidade de falar sobre a
incomparável roubalheira do seu governo – e
deu-se muito mal, o que prenuncia problemas
complicados para o resto da campanha que tem
pela frente.
Sem a indulgência plenária que ganhou na
“sabatina”, Lula teve de responder sobre a
desesperada, maciça e indiscutível corrupção na
Petrobras – ou nas delações premiadas, nas
provas materiais da ladroagem, no dinheiro
roubado que foi devolvido e por aí afora. Não
explicou nada, é claro, pois é impossível
explicar. Como faz automaticamente, em todas as
ocasiões em que não pode dizer nada em seu
favor, fugiu do assunto. Perguntavam de
corrupção, e ele respondia dizendo que abriu
“dezessete universidades”. Falavam na delação do
seu ministro Antônio Palloci, e ele diz que
“acabou com a fome” no Brasil etc. etc. À uma
certa altura, disse que foi “absolvido até pela
ONU”, como se isso valesse alguma coisa. É claro
que garantiu, também, que foi “absolvido por
todos os tribunais” deste país. Trata-se de uma
dessas mentiras com teor de 100% de pureza –
Lula não foi absolvido de absolutamente nada.
Foi apenas “descondenado” na decisão mais
desvairada da história da justiça brasileira,
por um ministro que foi advogado do MST, militou
na campanha presidencial de Dilma Rousseff e
ganhou dela o seu cargo no STF.
Lula quer passar esta campanha sem falar de
corrupção; fora umas moles e vagas tentativas de
mencionar uma hipótese de propina levantada na
CPI da Covid, e que não rendeu até hoje um único
e miserável inquérito policial (nem Alexandre de
Moraes se interessou pelo caso), o candidato do
PT fala de outras coisas. Diz que o agronegócio
é “fascista”, por exemplo, que a classe média
“gasta demais” e que vai trazer de volta o
imposto sindical – mas de ladroagem, mesmo, nem
um pio. Alguém já viu um candidato da oposição
passar uma campanha inteira sem dizer o tempo
todo que o candidato do governo é ladrão? Só
mesmo no Brasil de hoje. Aqui a roubalheira não
é problema da situação; quem quer enterrar o
assunto é justamente o candidato que deveria
estar deitando e rolando nas denúncias de
corrupção. O problema, pelo que mostrou o debate
na Band, é que ele pode ficar em silêncio – mas
os outros vão falar.
Gazeta do Povo - 29/08/2022
https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/jr-guzzo/lula-fracassou-em-enterrar-o-tema-da-corrupcao-e-seus-adversarios-notaram/ |