Bastou ser anunciada a vitória de Lula na eleição presidencial para que o chamado Orçamento secreto (“um escândalo comparável ao Mensalão”, berrava a imprensa velha) fosse reduzido a um inofensivo punhado de “emendas do relator”. Com a mesma brandura, a Folha comunicou na manchete que a “equipe de Lula vai propor ‘PEC da transição’ para autorizar gastos extras em 2023”. Tradução: o chefão do PT pretende estourar o teto de gastos e colocar em risco a estabilidade econômica do país, conquistada depois da catastrófica herança legada por Dilma Rousseff.
Na mesma semana que se sucedeu à eleição, o ministro Luís Roberto Barroso, em nome do STF, publicou um despacho que modifica uma das cláusulas pétreas da Constituição: o direito à propriedade. E Alexandre de Moraes, presidente do TSE, continuou convencido de que manda no Brasil ao ameaçar de prisão o chefe da Polícia Rodoviária Federal. “Qual a lei que permite ao chefe da “justiça” eleitoral se intrometer em greve de motorista de caminhão?”, pergunta J.R. Guzzo nesta edição de Oeste.
“O PT, a esquerda e o STF, mais a mídia em peso, estão falando há quatro anos que Bolsonaro é o maior perigo que jamais surgiu para a democracia brasileira; a única salvação era votar em Lula”, registra Guzzo. “Pois aí está: não há mais Bolsonaro nenhum, e querem continuar violando a lei para salvar as ‘instituições’”.
O PT juntou-se a essa marcha da insensatez com a ideia de criar uma “Guarda Nacional” que substituiria o Exército como a principal força armada do país. “Lula nunca presidiu o país com um PT tão extremista como o de hoje, nem com um Supremo que se comporta como esse, e nem com uma mídia que está à esquerda de ambos”, observa Guzzo.
Essa mesma mídia encampou alegremente a censura a veículos de comunicação, que suprime o sagrado direito à informação. “Durante todo o governo Bolsonaro, quem quer que enxergasse alguma virtude na agenda ou na equipe era logo tachado de ‘blogueiro bolsonarista’”, lembra Rodrigo Constantino. “Aconteceu o mesmo com empresários: nunca antes tínhamos ouvido falar em empresários petistas ou empresários tucanos, mas aqueles empresários que apostavam no governo de direita foram logo rotulados de empresários bolsonaristas, o que, para a mídia militante, é sinônimo de golpista”.
A caça às bruxas teve como um de seus alvos preferenciais a emissora Jovem Pan, bombardeada por invencionices, surtos de inveja, ataques de intolerância e restrições arrogantes baixadas por Alexandre de Moraes. O resultado da queda de braço foi a demissão, no dia seguinte à apuração dos votos, de um grupo de jornalistas que inclui Augusto Nunes, Guilherme Fiuza e Caio Coppolla.
Em 2 de novembro, irromperam em todo o país manifestações de protesto contra o desempenho do Poder Judiciário, com destaque para o Tribunal Superior Eleitoral, numa campanha manchada por preferências políticas e ideológicas de autoridades obrigadas por lei a agir com imparcialidade. A paralisação dos caminhoneiros e as multidões nas ruas avisam que o governo Lula vai provar do próprio veneno: pela primeira vez, enfrentará uma oposição tão feroz quanto a que moveu contra todos os presidentes que não pertenciam ao PT.