J. R. Guzzo, na Revista Oeste, em 14 de novembro
de 2022
https://revistaoeste.com/politica/a-boca-livre-dos-ministros-do-stf-em-ny/
A boca-livre dos ministros do STF em NYLei
veda aos magistrados brasileiros a participação
em atividades de cunho lucrativo
Seis ministros do STF, nada menos que seis, e
tudo de uma vez só, estão participando de um dos
mais constrangedores momentos jamais vividos
pela suprema corte do Brasil – uma boca livre
explícita, na base do “tudo pago”, em Nova York.
A coisa se chama “O Brasil e o Respeito à
Democracia e a Liberdade”; são umas palestras
dos ministros para elogiar a si próprios e
cantar os seus atos de heroísmo na guerra que
movem há quatro anos contra o governo de Jair
Bolsonaro e a favor da volta de Lula à
presidência da República. É coisa de dar
vergonha – se ainda houvesse alguém capaz de
sentir vergonha nessa história toda. Os
ministros, muito simplesmente, estão
participando de um empreendimento comercial,
armado pela empresa de eventos do ex-governador
João Doria – especializada em vender para
grandes empresas cotas de “participação” em
seminários e coisas assim. Não pode. Não é
apenas um desastre moral, com os ministros se
beneficiando de uma viagem para Nova York, com
acompanhante e bandos de seguranças. É contra a
lei, que veda aos magistrados brasileiros a
participação em atividades de cunho lucrativo.
Mas quem é que se preocupa com a lei no STF de
hoje?
O piquenique internacional Doria-Supremo é um
desses momentos, cada vez mais frequentes, em
que os juízes do STF se mostram como aquilo que
realmente são – pequenos chefetes de república
bananeira, que fazem cara de “Primeiro Mundo”
civilizado e são apenas um caso de
subdesenvolvimento que não tem cura. O “evento”
é em Nova York, mas as palestras são em
português. O apresentador contratado é
brasileiro. A plateia também – ou seja, todos
poderiam perfeitamente ficar por aqui mesmo para
ouvir os manifestos de Suas Excelências, mas
peixe gordo de Terceiro Mundo nunca resiste a
este tipo de festa na laje. De mais a mais, as
empresas que pagaram o passeio dos ministros
ficam prontas a lembrar, caso tenham amanhã
alguma causa no STF (amanhã ou hoje mesmo) que
foram elas que permitiram a festa. É uma coisa
grosseira. Passa na cabeça de alguém que
magistrados das cortes supremas de alguma nação
séria deste mundo aceitem participar de um
negócio como esse?Os ministros, enfiados em suas
roupas de brasileiro que viaja para os Estados
Unidos em época de frio, foram chamados de
“bandido”, “ladrão” e “vagabundo” às portas do
hotel, em bares e nas ruas de Nova York, para
onde foram já no fim se semana; estão hoje,
seguramente, entre as figuras mais detestadas da
vida pública nacional. Se pensavam que isso se
limita ao Brasil, estão enganados – os
manifestantes brasileiros, capazes de reunir
milhares de pessoas num protesto em pleno Times
Square, não lhes deram sossego. (Em Nova York o
ministro Alexandre de Moraes não pode mandar que
a polícia impeça manifestações contra “as
instituições democráticas; ninguém lá entendeu,
também, que diabo uns juízes brasileiros
estariam fazendo na sua cidade. Por que não
ficam no Brasil?) É um prenúncio do que vai
acontecer na próxima vez que estiverem lá, ou em
outro grande centro internacional. Os ministros
do STF não podem, já há muito tempo, andar nas
ruas de seu próprio país – estão sempre cercados
por vaias, xingatório e manifestações de
desprezo. Estão vendo, agora, que também em Nova
York a vida não está fácil. |