COMEÇOU A CAÇA ÀS BRUXAS!!! 04/01/2023
J. R. GUZZO
O governo Lula criou, já nestes seus
primeiros dias de atuação, um serviço oficial de
repressão à discordância política – algo que o
Brasil nunca teve antes em toda a sua história,
mesmo nas ditaduras mais evidentes. É isso, e
apenas isso, embora digam que é outra coisa. Por
decreto assinado pelo presidente, existe desde o
dia 3 de janeiro uma “Procuradoria Nacional de
Defesa da Democracia”, um tipo de polícia
ideológica disfarçada em órgão da justiça, para
combater “atentados” à eficácia do que chamam de
“políticas públicas”. Que diabo quer dizer isso,
exatamente? É crime, agora, dizer que uma
“política pública” é ruim? Fazer isso,
obviamente, é contestar sua eficácia. Não pode
mais, a partir de agora? Em suma: fica proibido
falar mal do governo?
O decreto, como sempre acontece neste tipo de
coisa, vem carregado de palavrório em favor da
virtude – falam ali em “democracia defensiva”,
em combate à “desinformação” e em defesa de
medidas de política “ambiental”. É tudo dinheiro
falso. “Democracia defensiva” é objeto
não-identificado na prática de regimes baseados
na lei. “Desinformação” é toda a informação que
o governo não queira que se publique. Defesa de
medidas voltadas ao ambiente é não abrir a boca
para discordar de uma política ambiental baseada
na multa, na repressão e na sabotagem à
produção. A nova Procuradoria Nacional de Defesa
da Democracia é, quando se desconta essa
mentirada, mais um instrumento de perseguição ao
adversário político – talvez o pior de todos os
que se anunciam a cada cinco minutos desde que
Lula assumiu o governo. Na verdade, quase não se
faz outra coisa: falam em processo penal contra
manifestantes que estão na rua, mais poder para
os fiscais, punição para integrantes do governo
anterior, censura, quebra por atacado de sigilo
telefônico e de computador, Polícia Federal e
por aí afora.
“Democracia popular”, do tipo que se pratica
em Cuba ou Venezuela e que é a única admitida
pelo PT, é isso. Passaram a campanha eleitoral
inteira dizendo que o regime democrático e o
Estado de Direito estavam sendo destruídos pelo
governo – e que era indispensável votar em Lula
para salvar um e outro. “Defender a democracia”,
no seu manual de operações, é suprimir as
liberdades públicas e os direitos individuais.
Contaram com o STF para fazer isso. Agora
contam, além dele, com toda a máquina do Estado
– a que já existe e novidades como a nova
procuradoria e os seus inquisidores. Criticar na
imprensa os possíveis desastres que a política
econômica do ministro Haddad promete trazer, e
trazer bem logo – isso seria, por exemplo, um
delito a ser castigado? Afinal, política
econômica é “política pública”, não é mesmo?
Outro problema é o Congresso Nacional. O que
vai acontecer com os deputados e senadores que
protestarem contra as “políticas públicas” sobre
invasão de terras, ou demarcação de territórios
indígenas, ou libertação de criminosos das
penitenciárias através do “desencarceramento”
que tanto encanta o governo Lula? Serão punidos
pela Procuradoria Nacional de Defesa da
Democracia? E protestar na rua contra essas e
outras “políticas” – os manifestantes vão ser
denunciados à justiça, ou indiciados no
inquérito perpétuo do ministro Alexandre de
Moraes para a repressão de “atos
antidemocráticos”? O novo advogado-geral da
União, velha figura do governo Dilma Rousseff,
disse ao anunciar a criação da Procuradoria, que
“ataques às instituições” não vão ser mais
“tolerados”. Quando se leva em conta que “ataque
às instituições” pode ser, a qualquer momento, o
ato de falar mal do governo, dá para se ver bem
o que estão querendo.
https://www.estadao.com.br/politica/j-r-guzzo/lula-cria-policia-ideologica-disfarcada-de-orgao-da-justica/ |