Theresa Catharina de Góes Campos

     
A LUTA DE TODOS NÓS

Reportagem do Correio Braziliense de 26 janeiro deste ano, feita pelo repórter Arthur de Souza, informa sobre as operações contra a pornografia infantil, realizadas pela Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos da Polícia Civil do Distrito Federal. Intitulada de Guerra contra aqueles que armazenam e comercializam pornografia infantil. Material encontrado nas mãos de um pedófilo incluía crianças de 5 a 9 anos. Um outro acumulava material sobre crianças, equipamentos e filmava a enteada adolescente sem conhecimento dela. Mas não foi preso porque não houve flagrante. (!)Qual o volume dessa Operação com o pomposo nome de Black Pack 3? De acordo com as informações do jornal, em 2022 foram investigados 5 homens. Em 2023 foi investigado somente um homem - o que não foi preso. Não se trata de uma guerra, portanto. Não com tão poucos envolvidos. Afinal, de que se trata? Onde estão os outros? Os investigados continuam presos? Em todo o material apreendido as crianças apareciam exploradas sexualmente. A pena para o crime em questão pode chegar a 8 anos de prisão. Ou seja, após esse curto espaço de tempo, ele retorna aos trabalhos de exploração sexual de menores. Um delegado afirma na reportagem: “É uma coisa horrível, que ninguém gosta de falar, mas acontece. Tem imagens de crianças de DOIS ANOS sendo estupradas.”

Enquanto isso, ao falar sobre Políticas ligadas ao Ministério da Justiça, o Ministro Dino somente se referiu a drogas e ao feminicídio. Nossas crianças não existem? Ou estão à salvo de predadores? Bem cuidadas, alimentadas e educadas? Por todos os santos deuses, somos uma sociedade pedófila, que não investiga suficientemente e com amplitude, que não prende e ainda condena os investigados a uma curta permanência na prisão. Pelo crime de profanar e agredir violentamente o corpo de uma criança e matar sua alma. Permanecemos indiferentes ao olhar das crianças ao redor? Lembramos daquelas que estão imersas em um horror que não acaba nunca e nos perguntamos se permanecem vivas depois de tudo?Precisamos falar sobre esse crime. Precisamos pensar que não somos covardes ao ponto de não tentarmos proteger nossas crianças, e evitar que sejam crucificadas nas mãos de assassinos. Que deveriam sofrer a pena de morte. Por que preferimos o silêncio? Por que não conscientizarmos a sociedade de que precisamos abandonar a indiferença e lutarmos juntos contra esse mal? Até quando vamos ignorar tamanha crueldade, esquecendo de realizar uma Política Pública de Combate intenso contra a pedofilia e a pornografia infantil nas redes sociais?

Diante da situação de calamidade pública desse problema ele deveria ser a prioridade entre as Políticas Sociais. Poderíamos pensar algumas questões: por que tão poucos resultados nos processos oficiais investigativos, se de fato foram detectados apenas cinco criminosos durante todo o ano passado? Se muitos crimes sexuais acontecem em casa, a escola é um bom lugar para se descobrir sinais deles nas crianças. E professores têm feito acontecer. Portanto, recursos e preparação específica dos professores, escolas com psicólogos e assistentes sociais. O primeiro para acompanhar os casos. O Serviço Social sensibilizando pais e comunidade para o problema. Discutindo a realidade e soluções a curto e longo prazo que podem ser realizadas a partir da escola.

Talvez o Governo pudesse envolver um maior número de especialistas ou jovens que dominam o computador, oferecendo recompensa para quem denunciasse tais crimes ou participassem da investigação. Precisamos pensar nos motivos de nossa passividade diante da exploração sexual das crianças. Como aconteceu em relação a crianças e adolescentes Yanomamis, explorados pelos garimpeiros. No Programa Studio 1 da Globo News, foi apresentado hoje pelo Otávio Guedes, partes de um Relatório feito por uma organização sobre a situação dos Yanomami. Onde aparecem referências sobre a relação dos indígenas com os garimpeiros. Se o que consta no Relatório é verdade, está comprovada a total falta de avaliação das Políticas no Brasil. Pois como aceitar que vários órgãos federais e até o STF desconfiavam dos problemas com a nação indígena, e nenhuma autoridade se prontificou a ver a realidade de perto? Limitando-se a interrogar o Executivo através de documentos e e-mails? Já pensaram quanto sofrimento poderia ter sido evitado se uma só autoridade estivesse presente na aldeia? Quantos poderiam ter sido salvos? Talvez a culpa não tenha sido somente de quem cometeu o genocídio, mas de todos quanto calaram e não agiram, preferindo permanecer em suas confortáveis cadeiras, mesmo sabendo dos problemas.

Trata-se da burra e excessiva burocratização dos problemas sociais, a normalização da passividade, a institucionalização da indiferença e da valorização do discurso em vez da eficiência das ações. Como gestores ou juízes, às vezes optamos pelo status da função, pela exibição do cargo em lugar da coragem e da verdadeira sensibilidade ao sofrimento do outro. Mesmo quando esse outro é uma criança.

LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>

26 de jan. de 2023

 

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