De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qui., 2 de fev. de 2023
O CAMINHO DA INSENSATEZ
Estamos diante de um processo de
governabilidade cuja natureza é, por princípio,
uma acomodação de interesses personalistas.
Somente. Onde benesses e cargos são trocados
pelos votos dos parlamentares. No Poder
Legislativo, para amanhã elegerem o Presidente
do Senado e da Câmara Federal. Sendo que nas
mãos dos dois reside a autoridade de criar ou
engavetar CPIs. E com o presidente da Câmara o
inconcebível poder de decidir instaurar o
processo de impeachment do Presidente da
República. Uma decisão monocrática para a qual
não cabe questionamentos.Provavelmente, muitos
parlamentares comprometem seu voto com o
comércio das relações políticas de poder.
Trocando o apoio aos candidatos à Direção das
duas casas do Congresso por cargos nas Mesas
Diretoras ou nas Comissões. Ou a indicação de
apaniguados para a máquina burocrática de
governo. Do outro lado, as direções partidárias
trocando apoio ao Governo por indicações de
cargos importantes, como o de Ministros.
Parlamentares que foram eleitos pelo voto do
povo para, no Parlamento, desempenharem a função
precípua de fiscalizarem o Executivo. Amanhã, no
entanto, um total de 14 ou 12 Ministros terão de
se afastar dos seus cargos para tomarem posse de
seus mandatos recentes no Parlamento. Depois
voltarão às suas funções ministeriais e deixarão
em seu lugar um suplente desconhecido de todos.
A situação é tão estranha, tão perversa para
a democracia! E, no entanto, é vista com
naturalidade por muita gente. Banalizou-se o mal
de tal forma que não há uma avaliação crítica da
substância do processo. Vejam, o que se encontra
em jogo não são ideias, compromissos com
projetos, avaliação crítica de resultados. Basta
um aumento no auxílio moradia, dado pelo sr.
Lira ou a criação de mais cargos em uma
estrutura inchada como a Mesa da Câmara, para
caber mais apaniguados. E, certamente, mil
promessas, para conseguir a reeleição. Assim
como a reeleição para Presidente do Senado do
Dr. Rodrigo Pacheco, capitaneada por David
Alcolumbre, que parece desejar a Presidência da
Comissão de Justiça. Quantas vezes se reuniu
esta Comissão o ano passado, quando ele a
presidiu? Quantos processos foram concluídos?
Não consigo me convencer que um processo de
governabilidade baseado nessas premissas seja
bom para o país. São trocas materiais, são
compromissos pessoais, servem para satisfazer
egos e alcançar mais poder. Um Parlamento que
explora o povo brasileiro com despesas
incompatíveis com o decoro parlamentar. Por
exemplo? Imaginem cada parlamentar ter direito a
quatro viagens para seu Estado todo mês.
Multipliquem pelo número de mais de quinhentos
deputados federais. Assim, abdicam de se
responsabilizarem: pela racionalização das
despesas do Parlamento, considerado o segundo
mais caro do mundo. Não se responsabilizam pela
administração dos partidos e campanhas, ou pela
estrutura de privilégios e mordomias, ou de se
apossarem dos recursos públicos para fazerem
propaganda eleitoral gratuita. Em função de
obras que, ou já foram previstas em planejamento
de governo ou, o que é pior, atendem a
interesses particulares, coloquiais. Quando não
servem à corrupção.
E mais, o Legislativo tem aumentado,
progressivamente, a amplitude de seu poder sobre
os Recursos Públicos, cuja responsabilidade de
administrar é do Executivo. A sanha de poder do
Legislativo impede, em muitos casos, a aprovação
de reformas necessárias ao desenvolvimento do
país e o combate da desigualdade social. “Essa
associação entre a dependência da governança ao
apoio parlamentar e a correlação entre sucesso
eleitoral dos parlamentares e acesso a recursos
e a cargos governamentais gera poderosos
incentivos ao toma -lá-dá-cá, ao clientelismo e
à patronagem.” Abranches, Sérgio.
Presidencialismo de coalizão - Raízes e evolução
do modelo político brasileiro).Ocorre que
Partidos e candidatos são financiados agora por
recursos públicos, as mídias estão ao alcance do
cidadão facilitando as campanhas eleitorais. Mas
a corrida ao ouro continua, tão violenta como no
oeste americano. E a governança continua frágil
e a corrupção continua presente. O Orçamento
Federal não é respeitosa e responsavelmente
analisado e aperfeiçoado pelo Parlamento. O
autor do livro “O Brasil visto por dentro”,
Vinod Thomas, afirma que a corrupção nos
processos políticos tem surgido como um grande
obstáculo ao desenvolvimento brasileiro. E que
em alguns países, juntamente com as crises
políticas, esses fenômenos podem se tornar
oportunidades para implementar reformas
necessárias.
Não aqui e não com nossas lideranças
políticas. Nós fizemos reformas. Entre outras:
culpabilizamos os que combateram a corrupção e
não os corruptos, regredimos em práticas que
flexibilizaram leis que protegiam os recursos
públicos. Chegamos ao ponto de criarmos um
Orçamento Secreto. Seu principal coordenador
será reeleito amanhã Presidente da Câmara
Federal.
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO |