Em busca do retrocesso perpétuo - J.R.Guzzo
(Revista Oeste)
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“Lula enfia mais uma vez o pé na jaca ao
falar sobre guerra na Ucrânia”
J.R. GUZZO -Jornal O Estado de São Paulo - 12
ABRIL 2023
“Ninguém, em nenhuma chancelaria do mundo,
tinha pedido até agora algum palpite do Brasil,
e muitíssimo menos do presidente Lula, sobre a
guerra na Ucrânia. É natural: não há nada de
construtivo, do ponto de vista prático, que um
ou outro possam fazer a respeito. Mas Lula, no
seu surto atual e cada vez mais agressivo de
arrogância desqualificada e sem controles,
enfiou mais uma vez o pé na jaca: disse que a
Ucrânia tem de entregar uma parte do seu
território invadido pela Rússia, a Crimeia, se
quiser voltar a ter paz um dia. O presidente tem
se empenhado, desde que voltou ao governo, em
fazer o máximo de afirmações cretinas no mínimo
de tempo possível. Mais uma vez, conseguiu
acertar bem no centro do alvo.
Ninguém, nem a mais tosca figura com alguma
responsabilidade de governo, tinha dito algo
assim até agora– mesmo que ache isso, ou mais ou
menos isso, não pode dizer o que acha em
público, em hipótese nenhuma. É coisa que se
aprende nos cursos primários de diplomacia em
qualquer lugar do mundo. Lula não fez curso
nenhum sobre nada; tem certeza de que sabe tudo,
sem nunca ter se esforçado cinco minutos para
aprender o que quer que seja. Não sabe o que é a
Crimeia, nem onde fica, nem qual é a sua
história. Por que saberia, se já disse que
Napoleão invadiu a China? Nesse caso, disse para
o mundo uma estupidez em estado puro. Qual chefe
do Estado pode recomendar que um país, depois de
invadido militarmente por outro, entregue ao
inimigo parte do seu território? “A Ucrânia não
pode querer tudo”, disse Lula. Como assim, tudo?
Ela quer o mínimo, que é manter o território que
tinha antes de ser atacada.
O presidente brasileiro passou a vergonha de
ouvir de um homem público ucraniano a seguinte
recomendação: “Porque o senhor não dá o
território do Rio de Janeiro para a Rússia?” O
Brasil também não pode querer “tudo”, não é
mesmo? Lula ouviu e ficou de boca fechada; não
tem nada para falar sobre esse assunto, nunca
mais. Foi também um tiro no meio do pé: dizer o
que disse vai diretamente contra tudo o que as
democracias “globalistas” da Europa, apaixonadas
há anos por ele e por seu “espírito
democrático”, acham a respeito de Rússia,
Ucrânia e Crimeia. Não só acham: mandam armas,
sustento e bilhões de dólares para os
ucranianos. Sua posição é exatamente contrária à
de Lula; isso é jeito de tratar países aliados?
“Ao tentar desempenhar, com esforço demais, o
papel de pacificador global, Lula corre o risco
de parecer ingênuo, em vezde um velho
estadista”, escreveu o The Economist, um dos
maiores devotos que o presidente tem na mídia
internacional. Disseram “ingênuo” porque estão
falando de um dos seus ídolos. O que quiseram
dizer, mesmo, foi: “idiota”.
Nessa sua campanha para redesenhar o mapa do
mundo, Lula não se contenta com a Ucrânia. Quer,
também,entregar a potências estrangeiras parte
do território do Brasil – a maior parte, aliás.
“A Amazônia não pertence só a nós”, acaba de
dizer ele. Se não pertence “só a nós”, pertence
também a outros, certo? É o que ele, Lula, disse
em público – ele, e ninguém mais. Já vinha dando
a entender, há tempos, que é a favor de algum
tipo de “internacionalização” da floresta
amazônica; agora, avançou mais do que tinha
avançado até hoje. Sua desculpa é que é preciso
“abrir” a Amazônia à “pesquisa científica” –
como se fosse proibido, atualmente, pesquisar
alguma coisa por ali. A reza é para que a
entrega da Amazônia seja a mesma coisa que a
entrega da Ucrânia – uma idiotice, e só isso. Se
Lula, o PT e a esquerda quiserem mesmo doar
território do Brasil a países “bons” e
“responsáveis”, o STF vai dizer que é legal e o
comandante do Exército brasileiro, na sua ideia
fixa de servir à “legalidade”, vai receber os
ocupantes com banda de música e desfile de onça
com coleira.” |