O PODER PELO PODER - LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Em seu artigo “1984 - a obra atemporal de George
Orwell” , Maria Carolina de Jesus Ramos começa
por informar que, após a vitória de Donald Trump
nos EUA ,o livro "1984" de Orwell foi um dos
mais vendidos. A vitória de Trump foi produto de
uma sórdida campanha de mentiras e ataques à sua
adversária que, apesar de tudo, perdeu por pouco
a eleição. Ou seja, fora criada uma persistente
e contínua rede de controle de notícias, que
conseguiu intervir diretamente na forma de
pensar e decidir de muitos americanos.
Desaguando na eleição de um outsider,
conhecido por suas aventuras extraconjugais, sua
misoginia, seus problemas empresariais e,
segundo até seus amigos mais íntimos, sua total
falta de preparo para o cargo.
Uma lavagem cerebral com métodos mais
rigorosos e variados e um controle absoluto nas
relações de poder acontece no filme “1984”, do
livro de Orwell, escrito em 1949. O Estado é
liderado pelo Grande Irmão e um Partido que tem
controle sobre todos. Através de uma propaganda
intensa, punições sérias até a morte e as
teletelas, que espionavam cada minuto de cada
cidadão. Winston, que trabalhava no Departamento
da Verdade, que só produzia mentiras, se
apaixona por Julia. No entanto, os dois não
podem concretizar seu amor pois o Estado não
permite que sentimentos sejam vivenciados.
Casamentos são feitos através de um acerto com a
intervenção do Governo.Jaqueline Vieira
Ferreira, em seu artigo “O Poder e o controle no
filme 1984”, menciona esta estratégia de
adestramento - a propaganda, as punições e o
regramento das condutas a controlar toda a vida
dos cidadãos. A vigilância sendo o principal
instrumento de controle. Que no filme “era
permanente e nos lugares mais recônditos.”
São estratégias até hoje empregadas pelos
regimes totalitários. Vide a Rússia, levando
hoje à prisão por 25 anos um ativista que ousou
falar contra a guerra na Ucrânia. A manipulação
da opinião pública e o controle estão cada vez
mais presentes, em um mundo onde a tecnologia se
encontra em mãos criminosas. Nas quais se quer o
poder pelo poder, como objetivo último e baseado
em ideais nazistas de dominação, incluindo
mortes de inocentes. E alcançando a camada mais
desprevenida da população, com incipiente
educação política e sem muito apego à cultura.
As crianças também são um alvo fácil. Essa
dominação alcança também os adversários, sobre
os quais se realizam campanhas de difamação,
destruindo sua reputação.
O filme “1984”, baseado no livro, iniciou
suas filmagens em 1964. Seu elenco tinha como
principais atores John Hurt, Richard Burton e
Cyril Cuscuch. John e Richard empataram quanto
ao prêmio de melhor ator. E Michael Radford
recebeu o prêmio de melhor direção. Dois meses
após sua conclusão, Richard Burton morreu na
Suíça e o filme foi dedicado a ele. “1984” me
veio à mente ao saber que o senador Moro será
julgado pelo Ministério Público por afirmações
contra o Ministro Gilmar Mendes.
Alguns fatos cercaram a vida do Juiz Sérgio
Moro e do Dr. Dallagnol ao longo de sua
trajetória e a partir de um determinado momento.
Primeiramente, sua intimidade foi exposta
durante meses, por jornais que publicavam
diariamente diálogos seus gravados
indevidamente. E a falta de uma séria e efetiva
investigação não identificou os financiadores.
Um verdadeiro acinte à democracia, uma vez que
nenhum cidadão deveria ter sua intimidade
exposta desta forma. Por outro lado, a dupla
recebeu vários xingamentos públicos do Dr.
Gilmar Mendes. E foram questionados em sua
capacidade profissional com a anulação dos
processos do sr. Luiz Inácio. Lembrando que não
houve a identificação de qualquer prova indevida
ou falsa sob a responsabilidade da Lava Jato.
Recentemente, surgiram denúncias sobre um
possível sequestro do senador Moro e de sua
família, por membros da criminosa organização
PCC. O atual Presidente da República afirmou que
o caso poderia ser arquitetado pelo Dr. Sérgio
Moro para aparecer. E afirmou na mídia que
queria f. com ele. E hoje, comentários do
senador Sérgio Moro sobre o dr. Gilmar Mendes,
são publicados em rede nacional. E dizem
respeito à facilidade de concessão de habeas
corpus pelo referido Ministro. Prontamente,
houve o encaminhamento de um processo pela PGR
(Procuradoria Geral da República) com pedido de
prisão do senador.
Circunstâncias do fato? Dizem, salvo engano,
que ele estava em uma festa de S. João. E, no
ambiente descontraído, sem maiores intenções,
soltou o tal comentário. Por todos os santos
Deuses! Tem coisa a descobrir. Primeiro, quem
fez a pergunta, quem estava perto, quem teve a
ousadia do incompreensível ato de gravar a
resposta. E divulgar. Não existe nada de
aleatório nas circunstâncias. Seria o caso de
uma investigação profissional? Quem está por
trás de tudo? Imaginem o que falam em particular
aqueles que difamam o senador Moro em público!
Na verdade, somos todos relativamente
controlados. Com a privacidade limitada. E não é
de agora. Os donos do poder estão mais do que
atentos a quem pode lhes causar dano. Por outro
lado, as promessas de concórdia, construção e
paz podem esconder uma sede interminável e
tormentosa de vingança.
O fato é que precisamos ter muito cuidado com
o futuro. Jaqueline Vieira Ferreira menciona uma
frase do livro "1984": “Se queres uma imagem do
futuro, pensa numa bota pisando um rosto
humano”. Uma bota que poderia ser um sapato, sem
relação direta com o poder militar. Só não
convém esquecer que os constantes ataques ao
senador Sérgio Moro estão lhe colocando no lugar
de vítima. Isto tem implicações contrárias ao
que desejam seus inimigos. (04/2023/luiza)
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: seg., 17 de abr. de 2023 |