Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
 FOTOGRAFIA DA GUERRA!

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO

Date: qui., 11 de mai. de 2023

Felipe Dana, em seu magnífico trabalho fotográfico sobre a guerra na Ucrânia, mostra a realidade da barbárie e do imenso sofrimento por que passa o povo ucraniano. Sofrimento que não tem sentido e somente pode ser explicado pela insanidade e maldade de Putin e a excessiva leniência da Europa e dos demais países, incluindo os EUA, Canadá e China, diante de um povo dizimado de um pequeno país afundado em ruínas. Com mulheres e crianças tentando fugir da desolação de suas vidas, enquanto os homens permanecem lutando no front. Essas fotos fazem tanto pela paz como os esforços das lideranças mundiais. Lideranças que parecem subjugadas pela força da indústria de armas. Em última instância, uma das verdadeiras causas de todos os conflitos.

É preciso que todos vejam essas fotos. Há muito mais tempo do que seria possível o mundo permanece aceitando a duração infinita da catástrofe que sofre o povo ucraniano. Trata-se de um crime de guerra. E, no entanto, crianças, idosos, mães de famílias, adolescentes continuam a morrer tragicamente ou vêm seus entes queridos morrerem ou se submeterem ao exilio. Em meio a bombardeios e caminhos destruídos, os sobreviventes tentam conseguir um lugar de temporário descanso. O tempo do sofrimento do povo ucraniano é por demais longo. E os países do mundo deveriam ter se unido para revidarem os ataques russos. Em nome da humanidade e da própria defesa futura. Pois ninguém pode imaginar a próxima maldade e loucura de mais um líder mundial. Ou o poder de influência da indústria de armas. Seja por quais recursos forem.

As fotos de Felipe mostram um cachorro que se aproxima cautelosamente do fotógrafo para receber um carinho, mas em seguida volta rápido para a casa, onde na porta jaz o corpo de seu dono. E na cozinha o corpo de sua dona. Uma outra foto, feita de claros e escuros, na qual a silhueta de um homem sozinho aparece em um monte alto de escombros, onde poderia ser sua casa. Com um céu cinzento a lhe rodear. Ou um enorme número de pessoas amontoadas atrás de uma grade a esperar a possibilidade de fuga do inferno. Em um caminho destruído, famílias carregando suas crianças, tentam passar por cima de estreitas tábuas, para evitar a água que corre do solo. Há um corpo carbonizado em cima de uma espécie de forquilha. E um bebê com uma chupeta na janela de um trem a olhar espantado o mundo lá fora. Mas há uma foto, que não sei se é de Felipe, e que correu o mundo: na extrema desolação de famílias inteiras com suas crianças e idosos tentando fugir pelas estradas, em meio a bombardeios, um menino sozinho de uns 10 anos caminha cansado, desolado, com passos já descoordenados e chorando convulsivamente. Sua família não pudera sair da Ucrânia e ele estava só.

Até quando? Por que esperar tanto para dar fim a esta guerra? Por que crianças sofrem tanto sem que nenhum líder mundial coordene um movimento efetivo de enfrentamento da insanidade do líder russo? A mesma demora em relação ao conflito Israel e Palestina. Gerações inteiras prejudicadas pela tensão, pelos ataques, pelas mortes. Nenhum povo pode desenvolver sua capacidade minado pelo perigo constante de uma guerra. Pelo fomento do ódio entre raças, como acontece no solo que se diz santo. Onde afirmam que Cristo caminhou sua Via Crucis. Por uma imensa ironia, os mesmos religiosos que veneram o lugar onde passou o líder que pregava a caridade e a união entre os homens, são incapazes de estabelecerem a paz e a convivência fraterna entre judeus e palestinos. Para que serve a devoção de vocês? Os rituais? As orações no Muro das Lamentações? Serão sepulcros caiados? Ou fantoches nas mãos da indústria das armas?

A indiferença diante do sofrimento das crianças, da destruição das cidades na Ucrânia revela insensibilidade e covardia. Assim como a fragilidade de todos nós diante da capacidade de decisão de poucos, prisioneiros de muitos interesses, de infligirem tanta destruição. Como entre nós aconteceu com os Ianomâmis. Nossa indiferença nos coloca distantes da imensa desolação de muitos povos. Enquanto isto, Felipe Nada venceu com coragem seu sofrimento diante da realidade da guerra e continuou a fazer as fotos que hoje comovem muitos de nós.

(05/2023/luiza)

 

Jornalismo com ética e solidariedade.