Vou-me embora para Andorra - Aylê-Salassié
Quintão
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: ter., 9 de mai. de 2023
Subject: Fwd: Dispensando Pasárgada
Repassando: Belo artigo esse, do jornalista,
professor, escritor, acadêmico, Aylê-Salassié
Quintão que, em anexo, envio aos amigos.
Nostálgico da monarquia, pois vive numa
republiqueta safada e golpista - atentem para o
fato recente de um coronel estar preparando
golpe em pleno Ministério, que se diz, da Saúde
- como é esta nossa, ele dispensa a fictícia
Pasárgada, do poeta pernambucano Manuel
Bandeira, pela realidade de Andorra, principado,
que conheci, nos anos setenta, encravado entre
montanhas, localizado entre a França e a
Espanha. Digo nostálgico da monarquia, como, sem
o saber, somos todos nós, que, por um golpe de
estado, a mando dos EUA, no final do século XIX,
mandamos embora a nossa família real, para
vivermos sob a tutela voraz desta republiqueta
militarizada.
Sim, porque tanto a Pasárgada, de Bandeira,
como Andorra, são monarquias, fato esse que o
autor, de formação republicana, omite. Mas
Andorra tem as mesmas características de vida
paradisíaca de todas as demais capitais de
países monárquicos da Europa, que, da mesma
forma, também conheço, como Mônaco, que fica ali
perto, ou como Oslo, mais distante, na Noruega.
Ou ainda Pasárgada, de Bandeira, inspirada
certamente no tempo em que o poeta viveu, num
hospital, em Davos, nos Alpes suíços. A base da
felicidade desses países é certamente a
educação, a cultura, que as republiquetas, como
essa nossa, desprezam.
Tudo o mais, o que se observa, nesses países,
são organização, disciplina e trabalho... Eis o
segredo de Andorra, onde passei três dias
inesquecíveis. Em outra vida, prometo que
nascerei em um país monárquico, em Pasárgada ou
em Andorra. Não me importa!... Leiam agora a
matéria do Aylê-Salassié Quintão:
De: ayle quintão
Date: seg., 8 de mai. de 2023
Subject: Dispensando Pasárgada
Vou-me embora para Andorra
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*
Brics, bracs, brecks ; Pacs, pic, pocs; pocs
pics, Pecs...
Frente a uma enorme caneca de cerveja bitter
(escura), olhar meio perdido, tamborilava com os
dedos sobre a mesa , impaciente e pensativo
sobre o nosso paraíso cada dia mais caótico e
caricato. Ah! É isso... Vou me embora para
Andorra. Lá nos Pirineus! Ali não tem moeda ,
não há inflação, imposto de renda, controle
cambial, nem taxa de juros, muito menos as tais
fake news. Aceita-se qualquer cartão ou cheques
avulsos. A longevidade é superior a 82 anos. A
taxa de desemprego dois por cento, a de
criminalidade menor ainda.
No mundo das finanças, o principado de
Andorra é conhecido como paraíso fiscal, mas
como um Éden pelos naturalistas e praticantes de
ski (esqui) , biathlon e snowboard. Recebe até
um milhão deles por ano. São apenas 80 mil
habitantes, distribuídos por 468 km2, montanhas
com altitudes superiores 2.900 m, cercadas por
bosques, rios e lagos de águas cristalinas .Sua
capital Andorra la Vella está espraiada num vale
a 1023 m acima do nível do mar, e é marcada pela
quantidade de bancos, joalherias, bares, cafés e
restaurantes.
O ano civil tem 300 dias de sol e o restante
dos dias acumula neve suficiente e adequada para
atrair os milhares de jovens desportistas. Os
bares, cafés e danceterias vivem cheios de gente
bonita e alegre. Não há espaços para videntes ou
feiticeiros pensarem o futuro como promessa de
felicidade . Ela já está lá materializada . Não
tem também essa história de propriedade privada
no meio rural como reserva de valor. As que
existem são distribuídas àqueles que quiserem
produzir, de fato, dentro das vocações reveladas
pela terra. Quem gostava de Andorra era o Airton
Sena.
Andorra conquistou sua soberania em 1278.
Politicamente, caracteriza-se como uma diarquia,
um principado dirigido por dois príncipes: um da
igreja, outro do parlamento, chamado de Conselho
dos Vales (comunitários). Economicamente é auto
suficiente. É mesmo o paraíso, concordam os
estrangeiros que conhecem o país. A cozinha é
francesa , ao mesmo tempo, espanhola e catalã.
Come-se ali uma saborosa truta com castanhas .
- Ei, beba seu chope!...
Não, não dá para comparar com o nosso paraíso
tropical, estigmatizado pelos cientistas e
artistas estrangeiros dos séculos XVII, XVIII e
XIX que, ambiguamente, viam aqui também o
inferno. Isolados nas montanhas, os andorranos
não se metem com ninguém, e fazem de tudo para
evitar que alguém os aborreçam. São protegidos ,
ao mesmo tempo, pela Espanha e pela França. O
principado está fincado na fronteira entre os
dois. Não querem mais do que tem.
Ao contrário dos brasileiros, e dos russos -
maiores territórios e PIBs enormes -
insatisfeitos com o que conquistaram . Nossas
lideranças políticas não só querem para muito
além dos andorranos , como desejam para si o que
é do outro ou do Estado. Sob qualquer regime,
esses procedimento gera um estado de espírito
egoísta, artificial, manhoso , cujos raciocínios
até os supostos amigos no mundo não conseguem
entender.
Lideranças políticas com esse perfil gestam a
descrença dos estrangeiros e desilusões nos
nacionais. Os ganhos materiais da Nação
difundidos por aí passam a ser vistos como
fantasias num mundo conturbado e a economia
instável. Os discursos oficiais são recebidos
como versões que se sucedem ( Bolsonaro vai a
ONU diz uma coisa, o Lula vai lá depois, e diz
outra) . Chega-se a confundir a diplomacia, em
que os votos do Brasil se apresentam quase
sempre conflitantes em diferentes Conselhos
sobre o mesmo assunto.
As leis por aqui são fragilizadas por peças
jurisprudenciais, convenientes , às vezes,
ideologizados, levando a desconfiança aos
investidores. Nosso nível de escolaridade não
permite sequer aprender com a experiência dos
argentinos. Ninguém, a não ser o Brasil,
empresta dinheiro para Venezuela, Cuba,
Argentina, Nicarágua. O calote no BNDES é alto.
Eles ainda querem mais. Lula prometeu ajuda. O
caixa do BNDES é constituído com depósitos
salariais dos trabalhadores.
É difícil mesmo de entender. No Brasil , cada
governante de plantão tem uma proposta para o
desenvolvimento do País. Sempre casuística para
atender uma conveniência ou outra. Nunca um
projeto de Nação. Apesar dos Planos de
Desenvolvimento (PNDs), os militares não foram
muito diferentes, embora mais sérios. O projetos
de Nação de FHC foram copiados por quem lhe
sucedeu e, em seguida metonimizados . A
ex-presidente Dilma Roussef teve o seu Plano de
Aceleração do Crescimento (para 25 anos)
ironizado onomatopeicamente pelos opositores
como PAC, PAC, PAC, pelo ritmo lerdo das
soluções, e desapareceu. Como Temer, sumiu
também seu Plano de Futuro. A nossa Oposição usa
de todos os recursos junto com os oportunistas
para anarquizar a tramitação de projetos no
Congresso e - diria - a vida do País. Dá uma
enorme contribuição para emperrar a execução
desses planos de Governo, ao interromper
seguidamente a governabilidade, com chantagens.
O cidadão comum sente-se ludibriado com ambas as
partes, sobretudo, com milhares de projetos e
obras paradas por todo o Brasil, não por falta
de dinheiro, mas de vontade política. O novo
conjunto petrolífero, levantado pela Petrobrás,
custou R$ 75 bilhões até as obras serem
paralisadas por falta de dinheiro, e agora está
sendo fragmentado e desmontado.
Nossos governantes têm quatro anos de
mandato, mas governam um ano e meio . Cerca de
seis meses, em períodos alternados, para não
pegar mal, são gastos com viagens internacionais
com a família, hospedando-se em hotéis cinco
estrelas com dinheiro público. Quando toma posse
nos cargos dão de cara com a realidade que
fantasiaram retoricamente para os eleitores. Por
incompetência gestora para dar continuidade a
projetos em andamento, ocupam-se o primeiro ano
de gestão distraindo a Nação, atribuindo a culpa
dos males existentes aos antecessores . O quarto
ano é destinado a fazer conchavos, distribuir
benesses do Estado a partidos e políticos, com
vistas à reeleição. Governam efetivamente por
menos de dois anos, e aposentam-se pelo resto da
vida com salários elevados. A Receita Federal
não fala, mas os salários de quem quer acabar
com a pobreza estão chegando próximo de R$ 300
mil por mês. Querem receber no exterior
pagamento em dólar, inclusive a Dilma (US$ 50
mil por mês), no BRICS, bracs, brecs, do meu
amigo.
Daí o desejo de sempre reelegerem-se. No
Brasil, a política , desempenhada à luz de uma
suposta democracia, é missão para oportunistas.
Não para estadistas - pessoas compromissadas com
bem estar da população e pela proteção do
patrimônio público da Nação . Não é também um
emprego público, embora algumas remunerações em
cargos temporários acompanhem os titulares ao
túmulo, sobretudo os que ganham mais. É ,
simplesmente, uma mamata, um de prêmio pago pelo
Estado. Por isso, desta vez não acompanho Manuel
Bandeira. Não vou para Pasárgada (No Irã? Estou
fora!). Vou para Andorra tomar Vive Cliqcot com
vencedores de eleições no Brasil. Não me chamo
Raimundo...
-------------------------------------------
*Jornalista e professor |