J.R.Guzzo, um dos melhores jornalistas da
atualidade, para a Revista Oeste:* "a
edificação da ditadura no Brasil"
“O que mais chama a atenção no governo Lula,
até agora, não é propriamente a sua ruindade
terminal. Nenhuma surpresa, aí, quando se leva
em conta que sempre esteve disponível para
qualquer brasileiro de bom senso o conhecimento
de que ele iria fazer o pior governo da história
do Brasil — pior que o dele mesmo, quando esteve
lá durante oito anos, e pior talvez até que o
governo da sua criatura Dilma Rousseff.
Ele não está na Presidência da República,
obviamente, porque a maioria do eleitorado
descobriu suas virtudes ocultas, nem porque
ficou encantada com a excelência dos seus
projetos de governo, mas porque foi colocado lá
pelo TSE — nas eleições mais obscuras que o
Brasil já teve desde os tempos do “bico de
pena”, quando a única coisa que realmente tinha
importância era quem contava os votos.O que não
se mediu direito, na contratação dessa
calamidade, foi a pressa de Lula e de quase
todos os que tem à sua volta em destruir o
Brasil como ele é hoje.Eles estão convencidos de
que, tendo chegado lá do jeito que chegaram, têm
toda a possibilidade de não sair nunca mais — e
para não sair nunca mais terão de mudar o
regime. Tem de acabar esse que está aí, com
regras básicas de democracia, um sistema
econômico capitalista e mais um monte de outros
estorvos. Em seu lugar, querem impor alguma
coisa que ainda não sabem direito o que é, mas é
muito parecida com isso aí que estão fazendo
todos os dias — e com Lula na posição de
presidente vitalício.A esquerda, os intelectuais
e o Brasil “que pensa” acham um absurdo quando
ouvem isso — exagero, dizem, “bolsonarismo”,
coisa de direita. Mas não é mais sobre Bolsonaro,
e já faz tempo que não é. É sobre a criação de
uma ditadura no Brasil, e os exemplos concretos
estão aí todos os dias e na frente de todo o
mundo.
O último, e um dos mais violentos até agora,
foi a cassação do mandato do deputado Deltan
Dallagnol, promotor-chave na Operação Lava Jato,
pela polícia eleitoral de Lula e do PT.É a prova
mais recente de que eleições não são mais um
problema para o projeto de ditadura; enquanto
existir TSE, a “Justiça Eleitoral” vai funcionar
como um serviço de atendimento aos extremistas
de esquerda que mandam no governo. A oposição
elegeu alguém que incomoda para o Congresso? E
daí? o TSE cassa o seu mandato. É o pé de cabra
mais utilizado pelas tiranias — a anulação da
vontade do povo, expressa nas eleições. Não há,
para eles, a possibilidade de perder; não há a
hipótese de aceitarem que o cidadão tem o
direito da escolha livre com o voto. A cassação
de Dallagnol é isso.O deputado não teve um
julgamento, e o seu caso não teve um juiz. A
sessão do TSE que cassou o seu mandato durou um
minuto — um deboche intencional e vulgar, para
mostrar que a ditadura em construção no Brasil
não apenas anula qualquer eleição que quiser,
mas também faz questão de humilhar quem é levado
para a frente de seus pelotões de fuzilamento.O
que é isso — julgamento de um minuto? É justiça
de Idi Amin. O juiz também não foi juiz. O autor
da cassação é o mesmo que recebeu tapinhas no
rosto de Lula, no festival de comemorações
montado em Brasília para saudar os resultados do
TSE para as eleições presidenciais de 2022.É o
mesmo, igualmente, que disse para o ministro
Alexandre de Moraes, na diplomação de Lula como
presidente:“Missão dada, missão cumprida”.
O resto da história é pior ainda. Num país em
que o presidente da República tem a ficha mais
suja de todos os que já passaram pelo cargo —
ninguém, como ele, foi condenado pelos crimes de
corrupção e de lavagem de dinheiro —, Dallagnol
foi cassado com base na “Lei da Ficha Limpa”.
Pode? Mais: o deputado não foi condenado por
crime nenhum. Sua ficha é limpa — mais limpa que
a de pelo menos um terço dos deputados e
senadores que estão hoje no Congresso Nacional e
respondem a processos na Justiça. É tudo uma
trapaça primitiva. Quem pediu a cassação não foi
o Ministério 🧵…Público, ou algo assim — foi o
PT, por ordem de Lula, que prometeu em público
que iria “se vingar” do juiz Sérgio Moro e de
“toda essa gente”, o que evidentemente inclui
Dallagnol.A desculpa para a cassação foi uma
alegação falsa — a de que o deputado teria
renunciado ao cargo de promotor para não
responder a “procedimento administrativo
disciplinar” no MP, conduta vetada pela lei
eleitoral.Não houve isso. Dallagnol não estava
respondendo a nenhum “procedimento” quando
registrou a sua candidatura. Mas o TSE achou que
era “inevitável” que ele viesse a responder no
futuro, e que ele agiu de maneira “capciosa”
quando renunciou a seu cargo.Ou seja: ele foi
condenado antes de cometer a infração e antes de
ser julgado pela Justiça, algo que vai contra
todas as decisões anteriores que o próprio TSE
já havia tomado.É tão demente que o TRE do
Paraná, a quem o caso foi inicialmente
encaminhado, decidiu por unanimidade que a
candidatura era 100 por cento legal. Mas o
sistema Lula-PT não manda nos TREs dos Estados;
levou sua exigência, então, ao TSE, onde o
ministro da “missão cumprida” resolveu tudo — em
um minuto.É um escândalo grosseiro. O deputado
federal mais votado do Paraná foi cassado por
uma assinatura num pedaço de papel, em
obediência a uma demanda do governo — um insulto
não só aos eleitores do Paraná, mas a todo
eleitor brasileiro que tem o direito
constitucional de votar nos candidatos da sua
escolha. Não foi punido por algo que tenha
feito, mas por irregularidades que provavelmente
“iriam acontecer” mais adiante — mais uma
criação do processo de desmanche da democracia
que está em execução no Brasil, como o
“flagrante perpétuo”, os julgamentos por “lotes”
de réus ou as multas de R $1 milhão por hora a
quem desagrada ao governo Lula e aos seus sócios
no alto Judiciário.É assim, justamente, que
querem matar o Estado de direito e as
instituições — com escândalos que, em vez de
serem combatidos, são objeto de discussões sobre
“engenharia política”, aceitos como parte da
“legalidade” imposta pelos STFs e TSEs e
tratados como “defesa da democracia” pela
maioria da mídia e do Brasil “civilizado”.
A edificação da ditadura no Brasil está
acontecendo, passo a passo, por decisões como a
cassação do deputado Dallagnol; é um regime que
querem construir com decretos-leis, portarias e
despachos do STF, TSE e repartições públicas do
mesmo tipo.
A democracia, na concepção em vigor no
governo, será desmontada com a destruição dos
princípios básicos da economia, da sabotagem ao
sistema de produção e da anulação do poder do
Congresso.É o que se vê pela supressão de leis
que já foram legitimamente aprovadas, como a Lei
das Estatais, ou a reforma do ensino, ou a
projetada volta do imposto sindical — ou, então,
pela imposição de leis que o Congresso não quer
aprovar, como é o caso da censura nas redes
sociais. É o que se está vendo pelas prisões
políticas e pelos inquéritos ilegais que o STF
conduz contra inimigos do governo — até agora,
em quatro anos de ação e milhares de brasileiros
perseguidos, nenhum militante de esquerda, nem
um, foi incomodado pelas investigações. É o que
se vê pela violação sistemática da lei por parte
do alto Judiciário, e pelo rebaixamento do
Ministério Público à condição de serviço de
atendimento às ordens do governo.
A cassação do deputado Dallagnol é mais um
prego no caixão. Para os que têm dúvidas sobre o
enterro da democracia que está acontecendo à luz
do dia, é instrutivo ouvir o ministro da
Justiça, numa reunião com dirigentes das
plataformas de comunicação social há cerca de um
mês, dizendo que “esse tempo da liberdade de
expressão como um valor absoluto, que era uma
fraude, acabou, acabou, foi sepultado”. Podia
ser uma palestra do chefe da KGB. Falando na
“Polícia Federal que eu comando”, ameaçou as
redes, disse que vão “arcar com as
consequências” pela prática de crimes não
especificados e informou que os estatutos
internos das redes “não lhe interessam”, e não
valem mais nada.O ministro afirmou 🧵que o
objetivo da censura às redes sociais é acabar
com o “massacre em série de crianças nas nossas
escolas” — isso quando a lei que quer aprovar à
força na Câmara fala em punir a “desinformação”,
as “fake news”, as conclusões “enganosas”,
“distorcidas ou fora de contexto”, ou seja, todo
um balaio que atinge diretamente a livre
expressão do pensamento. Pouco depois, o
ministro Alexandre de Moraes proibiu o
aplicativo Telegram de publicar sua opinião
sobre o projeto de censura em debate na Câmara —
e obrigou que publicasse um texto do STF,
dizendo o contrário do que dizia a postagem
proibida. Que diabo isso tem a ver com massacre
de crianças?
O PT e a esquerda brasileira estão
convencidos, e dizem isso em público, de que
terem aceitado sair do governo, em 2016, depois
de terem entrado pela primeira vez no Palácio do
Planalto, foi o maior erro de toda a sua
história; não deveriam ter topado nunca, e não
estão dispostos a topar agora, quando têm o STF,
as Forças Armadas e a direção do Congresso a seu
serviço. É o seu único objetivo visível. Quem
acha que não é bem assim, ou que não é assim,
pode responder a um teste fácil. Esqueça Lula,
seu programa de turismo com a mulher através do
mundo e a sua convicção de que, se na Venezuela
o presidente pode ficar no cargo pelo resto da
vida, por que não aqui? Há mais uma multidão que
quer ficar lá para sempre. Alguém acha, por
exemplo, que o ministro da Justiça e os
defensores do comunismo que fazem parte da sua
corte estão dispostos a aceitar, mansamente, uma
derrota em eleições limpas e voltar à escassez
da vida na oposição?
Para acreditar em jogo limpo é preciso
acreditar que eles possam dizer algo assim:
“Pôxa, que pena, perdemos a eleição… Chato, não?
Vamos ter de começar tudo de novo”. Os
proprietários do MST vão aceitar, de boa, a
devolução das diretorias que ganharam no Incra,
ou a ausência de seis ministros de Estado em
suas “feiras”? E as viagens ao exterior? E o
resto da manada que está ganhando mais de R $70
mil por mês em conselhos de estatais e
desfrutando das demais maravilhas da máquina
estatal?
Essa gente toda está disposta a ficar lá por
toda a eternidade, como acontece nos regimes que
lhe servem de modelo, e tem os meios materiais
para isso — só precisa continuar a fazer o que
está fazendo. *O Brasil tem um deserto pela
frente. No momento não há oásis à vista*. |