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ADVERTÊNCIA AO
CONSUMISMO DE PETRÓLEO*
“Syriana
– a indústria do petróleo” de Stephen Gaghen, é
excelente filme de linha política - dos mesmos
produtores de “Boa Noite, boa sorte”, de George
Clooney –, também didático, que faz sérios e
dramáticos prognósticos sobre o acirramento do
ódio no Oriente Médio, caso não haja, no Mundo
Ocidental, principalmente nos EUA,
conscientização maior e urgente de que é preciso
reduzir sensivelmente o consumo de petróleo ou
criar fontes alternativas de energia.
Stephen
Gaghen, ganhador do Oscar, pelo roteiro de “Traffic”,
que focalizava o tráfico de droga, cria, como em
tantos filmes em voga, um mosaico – denominado
pelos americanos de hiperlink movie, como
“Crash-No limite”, de Paulo Haggis -,
envolvendo personagens e fatos, reais e
fictícios, com o objetivo de dar ao espectador
imagem da guerra que se trava, no Golfo Pérsico,
para que os EUA mantenham ali a qualquer custo
suas fontes de abastecimento de petróleo.
O roteiro, escrito
com base em “Seel no Evil: The True Story of
a Foot Soldier in the CIA´s War on Terrorism”,
de Robert Baer, ex-agente da CIA, é de estrutura
narrativa propositadamente confusa , dúbia e
imprecisa, para fugir ao tom memorialista do
livro, deixando por isso de esclarecer muitas
questões - em benefício do frenético ritmo do
filme - tantas que os menos avisados acreditam
estar assistindo a várias histórias, quando isso
não é verdade, pois os personagens se
relacionam, mesmo que indiretamente, uns com
outros, primeiro, em decorrência da fusão de
duas empresas de exploração de petróleo dos EUA
e, segundo, porque pertencem todos à órbita de
atuação de Baer, narrador dos fatos focalizados.
O que, a
princípio, se deve observar é o título, “Syriana”,
que tanto significa o papel que a Síria
representa no Oriente Médio após a guerra civil
no Líbano, na década de setenta, como também
pode ser o termo usado em gabinetes de
Washington para dar nome a uma hipotética
remodelação da conflituosa região. Tem-se então,
como ponto de partida, a questão de se saber se
a fusão de uma grande empresa de exploração
petrolífera, Conex, com outra pequena, Killean -
de interesse do governo americano - conseguirá
ou não o aval do Departamento de Justiça, tendo
em vista o fato de que a segunda teria
conseguido, de forma irregular, a custo de
subornos, os direitos de exploração de petróleo
no Cazaquistão.
O
denominador comum de quase todos os personagens
envolvidos pela fusão das duas empresas é
questão de ordem familiar – mais precisamente o
relacionamento entre pais e filhos -, pois se
torna cada vez mais dispendioso e difícil, como
enfatiza o roteiro, manter unida, em segurança,
a família, tanto no estado
democrático-corrupto-cristão, como no estado
totalitário-corrupto-islâmico, apesar de ser
ela, com certeza, a instituição que mais se
pretende preservar, de acordo com os
ensinamentos tanto da Bíblia, como do Alcorão.
Os
personagens são: o agente da CIA, Robert Baer
(George Cloney), que se torna perseguido pela
própria instituição a que pertence, a qual
perdeu financiamentos depois do término da
guerra fria; um analista de mercado de
derivativos e consultor de fontes de energia,
Bryan Wodman (Matt Damon), amigo de Baer; um
advogado, inescrupuloso, encarregado de concluir
a fusão das duas empresas de exploração
petrolífera, Bennet Holiday (Jeffrey Wright); um
jovem paquistanês (Mazhar Munir), desempregado
por causa da fusão das duas empresas, que se
torna terrorista e, um príncipe liberal, Nasir
Al-Subai (Alexander Siddig), aspirante ao trono
de seu país (fictício) do Oriente Médio. Em
torno desses personagens gravitam todos os
demais, inclusive um tal de Stan (William Hurt),
que o roteiro não esclarece quem seja. Seria um
outro agente aposentado da CIA?...
O filme
acaba mostrando que, como sempre, em qualquer
guerra, os inocentes – justos e idealistas - são
os sacrificados. Pagam pelos pecadores. Porque a
corda rompe do lado do mais fraco, segundo a
sabedoria popular. No caso, além do jovem
paquistanês desempregado, que se torna
homem-bomba sob a indução dos fundamentalistas
islâmicos, o príncipe Nasir Al-Subai, que por
sinal tem participação nas duas melhores cenas
do filme, uma das quais mostra seu consultor de
fontes de energia, Bryan Woodman, tipo também
sem escrúpulo, lhe cobrando compensação em
dinheiro pelo sofrimento da perda do filho,
eletrocutado na piscina da residência da família
real. E a outra, que ainda mostra, quando a esse
mesmo consultor, o príncipe diz:
-
(...) O seu presidente liga para o meu pai e
diz: Estou com alta taxa de desemprego no Texas,
no Kansas e em Washington. Um telefonema depois
e nós estamos roubando do nosso próprio programa
social para pagar comissões e superfaturamentos
(...) Eu aceito a oferta da China a maior e, de
repente, sou acusado de terrorista, um comunista
sem religião...
Vale
destacar a dignidade com que essas palavras são
ditas pelo ator Alexander Siddig – que antes
fizera apenas um seriado de ficção cientifica na
televisão americana – numa atuação brilhante,
bem no estilo oriental, como o príncipe Nasir
Al-Subai, destacando-se, sem dúvida, entre as
melhores do filme, como as de George Clooney,
num dos momentos ápices de sua carreira, Jeffrey
Wright, Matt Damon e Christopher Plummer.
O filme
fustiga a maneira de agir do governo
norte-americano que, segundo os roteiristas, não
hesita em interferir em questões internas de
outras nações, quando seu interesse é ameaçado.
Assim, nas diversas conversas mantidas pelo
advogado, Bennet Holiday, para concluir a fusão
das empresas exploradoras de petróleo, por
exemplo, ele ouve de alguém que Milton Friedman,
Prêmio Nobel de Economia, perdera terreno no
governo porque tinha mania de regulamentar tudo.
Ora
– argumentou – não importa se, sendo do
interesse do governo, o negócio fere a lei
federal ou se há suborno e corrupção no país
estrangeiro, com o qual estamos negociando. O
que importa é o nosso lucro!... O nosso
interesse em primeiro lugar!... Ocorre,
porém, que, na realidade, essa arma pode também
virar contra o feiticeiro, como aconteceu agora
na Palestina, onde o povo, nas últimas eleições
legislativas, tirou do governo os petistas
corruptos de lá. E com o Hamas no poder,
americanos e israelitas não têm por enquanto
como corromper e negociar. Será que não?... Até
quando? É ver o filme para conferir.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
*Este comentário está sendo divulgado, com
ilustrações, pelo site
www.revistabrasilia.com.br.
NOTA DA EDITORA
De: "Theresa
Catharina de Góes Campos"
Data: Wed, 1 Mar 2006 18:15:34 -0300
Para: "REYNALDO FERREIRA"
Assunto: Ótimo, seu artigo sobre o atualíssimo
Syriana. Faço apenas uma observação...
Amigo Reynaldo:
Muito obrigada por seu ótimo artigo sobre o
atualíssimo "Syriana". Parabéns por sua
divulgação, com ilustrações, no site www.brasilia.com.br
.
Assisti com bastante atenção a Syriana - no
entanto, não entendi, em minha interpretação
dos diálogos, que o pai tivesse exigido uma
compensação financeira pela morte do
filho. Compreendi que aceitou a compensação
financeira a ele oferecida, após o trágico
acidente na piscina. Realmente, se a sua
interpretação estiver mesmo correta, foi
chocante!
Lembro-me bem, aliás, que a mãe do menino morto
reclamou, magoada e indignada, ao marido e pai o
fato de ele ter aceitado uma quantia em dinheiro
pela morte precoce do filho mais velho.
Abraços cordiais e a estima de
Theresa Catharina
(Nota da editora: ver também o site oficial,
www.syrianamovie.warnerbros.com
onde há referências, inclusive "parental guide", para informações e comentários sobre
o conteúdo do filme, com violência e
tragédias, além de uma cena demorada de
tortura brutal. Theresa Catharina )
SYRIANA - a indústria do petróleo
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Syriana
(Syriana, 2005)
Gênero: Drama
Pais: EUA
Ano: 2005
Distribuidora: Warner
Bros
Diretor: Stephen Gaghan
Produtor: George
Clooney , Steven
Soderbergh
Elenco: George
Clooney ,
Matt Damon ,
Amanda Peet ,
Chris Cooper ,
Susan Allenback
Roterista:
Stephen Gaghan
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Sinopse:
Há 21 anos, Robert Baer
(George Clooney, que
também assina a produção
do filme, ao lado de seu
amigo Steven Sodebergh)
trabalha para a CIA
investigando terroristas
ao redor do planeta. À
medida que os atos
terroristas se tornaram
mais constantes, Robert
nota que a ação da CIA
passa a ser deixada de
lado de forma a
favorecer a politicagem.
Com isso vários sinais
de ataque foram
ignorados, devido à
falta de tato dos
políticos para lidar com
terroristas. A situação
começa a se complicar
para Robert quando ele
vê seus amigos Bryan
Woodman (Matt Damon, de
"A Identidade Bourne") e
sua esposa Julie (Amanda
Peet, de "Identidade")
envolvidos em uma trama
terrorista. |
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