LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: MISÉRIA E DEGRADAÇÃO!
De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: qui., 29 de jun. de 2023
Subject: crianças
MISÉRIA E DEGRADAÇÃO!
Um dos casos de maior perversidade e horror
que já aconteceram no Brasil foi o de duas
mulheres que viviam como um casal e cujo filho
de uma delas teve os testículos cortados ainda
vivo. Para tempos depois ser morto a facadas e
esquartejado. O garoto tinha cerca de 8 anos.
Ele e sua irmã não frequentavam a escola. A
família do garoto, que morava em outro estado,
não conseguira trazê-lo para sua proteção. E o
Conselho Tutelar, chamado para conhecer a
situação, nada descobrira ou fizera. Órgão que
faz parte da Política de Proteção a crianças e
adolescentes, identificando casos de violência
e/ou problemas com as famílias e providenciando
proteção para os menores.
Para nosso continuado horror, outro fato
inacreditável aconteceu na noite da última
sexta-feira, como noticia Cida Barbosa em seu
artigo no Correio Braziliense de hoje (29 de
junho): Fome e Massacre. “Lucas Henrique, 7
anos, abriu a geladeira de casa, em Guararema
(SP), para pegar comida. Pelo “crime” foi
espancado até a morte”. Ele apresentava sinais
de espancamentos anteriores. E, para nosso
espanto, seu pai dizia que batia no filho porque
ele tinha manias de trazer pãezinhos da escola
para seus dois irmãos adotivos. Além de querer
comer o tempo todo.
Enquanto isso, em Paris 150 pessoas foram
presas e prédios incendiados na revolta da
população em ver um adolescente morto pela
polícia que o abordou e atirou. Ferindo-o
mortalmente, porque ele não obedeceu a ordem de
parar o carro. Segundo notícias, não era a
primeira vez que ocorria o problema com o
motorista. O povo não quis saber. Era um
adolescente e tinha de ser protegido e
assistido. Aqui no Brasil, vários morreram
brutalmente sufocados pelos policiais sem terem
cometido crime algum. Incluindo jovens com
doenças mentais. E nossas crianças são
torturadas e mortas covardemente, sem que nós
nos preocupemos. Nossa indignação é tão benigna!
Continua perseguindo ad infinitum os problemas
de pessoas negras, as mulheres vítimas de
maridos ou namorados e as minorias de gênero.
Por todos os santos deuses! Estamos falando de
adultos que deveriam saber se proteger. Que se
organizam. Que debatem seus problemas. E nossas
crianças?
Quem defende os Lucas da vida que não sabem
falar ou se protegerem? Atentem para o fato
inacreditável de que seu pai era membro
do Conselho Tutelar. A que ponto nós chegamos na
falta de fiscalização e acompanhamento de nossas
Políticas Públicas! Alguma reportagem séria ou
seminários sobre o infanticídio e a pedofilia?
Não! Falamos, principalmente, em juros,
agronegócio, arcabouço fiscal e reforma
tributária. A que será sabotada por obra e graça
de alguns governadores, pelo setor de serviços e
algumas autoridades do Congresso. Enquanto isso,
nossas crianças são violentadas e mortas por
nossa omissão.
O Brasil parece ser um país de covardes! De
alienados! Coveiros de uma geração inteira de
crianças e adolescentes, de quem ninguém cuida
realmente. País que manteve sem fiscalização,
durante mais de 20 anos, uma creche que violenta
as crianças com maus tratos. Situação agora
resolvida pela coragem de uma professora que
filmou e denunciou a situação. Os donos somente
esta semana foram levados à prisão. País que
coloca um assassino de crianças como
membro do Conselho Tutelar. Que a um
casal assassino e torturador de crianças
possibilita a adoção de dois filhos. Quantas
crianças hoje estão sofrendo violência sem
nenhuma possibilidade de salvação por nossa
alienação?
A falta de fiscalização e responsabilização
dos gestores das Políticas Sociais é um crime.
Um crime submergido pela alienação de todos nós.
Os Conselhos Tutelares somente deveriam ser
formados por profissionais especializados como
psicólogos, assistentes sociais e da área da
educação. Não sabemos a quantas anda a Lei que
promovia a presença de psicólogos e assistentes
sociais nas escolas. O que poderia ajudar na
luta conta o infanticídio e a pedofilia.
Identificando casos, sensibilizando a comunidade
para o problema, tentando construir uma atitude
de constante atenção ao tema e às crianças ao
redor. Além de manter com seriedade o processo
de fiscalizar, auferir resultados e o
accountability. Por outro lado, cada instituição
de ensino, de saúde e assistência deveria ter
uma comissão independente de fiscalização e
desenvolvimento. Aliás, como previsto em Lei
para o SUS tempos atrás. Não há recursos para
estas providências, assim como para o piso da
Enfermagem, por exemplo? Mas estamos gastando
este ano R$ 234 bilhões de reais somente com
emendas parlamentares. Que permaneçam no
Orçamento Federal para a gestão pública, e não,
pulverizados para propaganda política.
Não tenho esperança de mudanças. O debate e
as efetivas soluções para o infanticídio e a
pedofilia continuarão ausentes do ambiente
escolar e público. E crianças violentadas
permanecerão invisíveis, embora somente um cego
seja incapaz de ver o sofrimento de uma criança
ou adolescente. As Políticas Públicas
brasileiras continuarão, em sua maioria, nas
mãos de incompetentes e alienados. E
permanecerão não sendo avaliadas
qualitativamente. Quem se importa? No entanto,
como diz o velho poeta: “Vem comigo para a
sombra das administrações,/ para a débil,
delicada cor pálida dos chefes,/para os túneis
profundos como calendários,/ para a dolorida
roda de mil páginas./ Examinemos agora os
títulos e as condições,/e as atas especiais, os
desvelos,/ as demandas com seus dentes de outono
nauseabundo,/ a fúria de cinzentos destinos e
tristes decisões/ “ Mais adiante: “ Tudo chega à
ponta de dedos como flores,/ e unhas como
relâmpagos, a poltronas murchas,/ tudo chega à
tinta da morte/ e à boca violeta dos carimbos”.
(Residência na Terra II – Pablo Neruda)
Continuamos a fazer das Políticas Públicas
voltadas para as nossas crianças e adolescentes
um preâmbulo para a morte, em suas várias
formas. Deixamos, por negligência, por descaso,
por incompetência, que as demandas que elas
apresentam sejam transformadas em cinzentos
destinos e tristes decisões. As palavras de
Neruda as caracterizam bem: “vamos cair na
profundidade dos papéis, / na ira das palavras
acorrentadas, / nas manifestações tenazmente
defuntas, / nos sistemas embrulhados em amarelas
folhas”. E ele nos convida: “Rodai comigo pelos
escritórios, ao incerto/ Cheiro de ministérios e
túmulos...” (29/6/2023/luiza) |