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(Memórias de uma Gueixa) Um filme fantasioso -
Reynaldo Domingos Ferreira
UM FILME FANTASIOSO
Tudo é fantasioso em "Memórias de uma gueixa",
de Rob Marshall, baseado no best-seller de
Arthur Golden, tanto assim que o espectador pode
vê-lo como se fora uma história de fadas,
ambientada no Japão, nos anos que antecedem e
nos que vêm depois da II Guerra Mundial, em que
não faz falta a personagem ingênua, que sonha
com um príncipe encantado, mas tem uma rival
muito má, a qual não consegue, contudo, fazê-la
afastar-se do seu destino, pois ela é sempre
protegida por uma fada-madrinha, que a ajuda a
chegar ao final esperado do "foram felizes para
sempre", segundo a receita de todo melodrama,
que tanto agrada à platéia do mundo inteiro.
E foi esse mesmo o propósito que norteou tanto o
produtor, Steven Spielberg – investidor de muito
dinheiro na produção - como o diretor Rob
Marshall, também coreógrafo, bem sucedido com o
musical, "Chicago", ganhador de várias
estatuetas do Oscar, o qual, na conclusão das
filmagens, disse à imprensa que quis criar, "uma
impressão ficcional de um mundo ao invés de uma
visão documental", o que, a seu ver, lhe teria
dado licença para quebrar regras.
Mas parece que não foi bem assim o que
aconteceu. Marshall, na realidade, não quebrou
tantas regras quanto esperava, nem quanto devia.
Aliás, isso é muito difícil numa superprodução
desse tipo. E o que se tem, como resultado, é
uma narrativa cheia de clichês, sem ritmo,
arrastada, de quase três horas, que resvala
sempre para o dramalhão, este enfatizado pelo
tom meloso da música de John Williams. Apesar
disso, tem boa direção de arte e o tratamento
fotográfico, de Dion Beebe, é também de boa
qualidade.
Desde o lançamento, em 1997, o livro de Golden
vem causando polêmica no Japão por tratar de
maneira pouco ortodoxa o mundo ancestral das
gueixas, que tem seu berço histórico no bairro
de Gion, em Kyoto, antiga capital japonesa,
reverenciada, por sinal, num livro magnífico,
que tem o nome da cidade, por um de seus mais
ilustres filhos, o romancista Yasunari Kawabata,
Prêmio Nobel de Literatura de 1968.
A propósito, tem-se impressão, ao início de
"Memórias de uma Gueixa", que se vai seguir
história mais ou menos semelhante à do livro de
Kawabata, cuja narrativa, de tonalidade lírica,
é centrada na vida de duas irmãs, Chieko e
Masako, separadas na infância, que se criaram em
bairros diferentes da cidade de Kyoto, as quais
acabam se reencontrando, por acaso, na fase da
juventude.
Essa impressão, porém, logo se desfaz porque
embora o filme narre a história de duas irmãs,
elas em tudo são diferentes das personagens de
Kawabata. Vendidas pelos pais, pescadores, para
irem trabalhar como empregadas numa casa de
gueixas, uma delas, a mais velha, por não haver
sido aceita no emprego, logo desaparece de cena,
não se sabendo mais de seu paradeiro. A história
se fixa, portanto, na irmã mais nova, Sayuri, (Zhang
Zi Yi), que se torna maiko (aprendiz de gueixa),
tendo como mentora, ou verdadeira fada-madrinha,
Memeha (Michelle Yeoh), a qual a orienta nos
segredos de sua arte. Esses segredos são
absorvidos através de jornadas intensas em que
lhe são dadas lições de dança, música, cerimônia
de chá e teatro tradicional japonês.
Na casa das gueixas, existe, entretanto, uma
vilã, Hatsumano (Gong Li) que, insatisfeita com
a profissão porque não pode dedicar-se ao seu
homem, Koichi ( Karl Yune), instila ódio
principalmente contra a pobre, ingênua e
indefesa Sayuri. Esta, um dia, na rua, conhece
um alto executivo, que se encanta com a
luminosidade de seus olhos e a presenteia com
sorvete (ou chocolate), que uma de suas
acompanhantes, nomeando-o de Presidente (Ken
Watanabe), lhe entrega. A figura desse
Presidente jamais sai da memória de Sayuri, que
espera reencontrá-lo, um dia, como se fora nova
Cinderela à procura de seu príncipe encantado.
A questão polêmica do livro – que fez dele um
best-seller mundial – está centrada no fato de
Sayuri ser preparada por Memeha para o momento
em que deverá vender a bom preço, isto é, pelo
melhor lance, sua virgindade (mizuage), que lhe
garantirá ad aeternum uma vida tranqüila, sem
problemas financeiros. A maneira com que Arthur
Golden tratou a questão, porém, provocou
polêmica no Japão, onde Mineko Iawasaki, a
gueixa que inspirou o escritor, está
processando-o por haver, segundo diz, violado
sua privacidade e também por haver estabelecido
o lance mais alto, tratando assim o assunto de
forma, a seu ver, extremamente fantasiosa.
O filme também, como o livro, provocou polêmica
no Japão pelo fato de ser o elenco constituído
quase todo de atores chineses, principalmente o
naipe feminino, integrado por atrizes de
projeção internacional, como Gong Li, ex-mulher
de Zhang Yimou, sua atriz fetiche, como dizem os
franceses, desde o primeiro filme, "Sorgo
Vermelho", de 1987. Também Zhang Zi Yi foi
intérprete do melhor cineasta dos nossos tempos,
em "O Clã das Adagas Voadoras" e "Herói", além
de ser uma das duas duelistas de "O Tigre e o
Dragão", de Ang Lee, ao lado novamente de
Michelle Yeoh, que interpreta, neste filme, o
papel de Memeha. Todas contribuem com suas
interpretações, de alto nível, para que
"Memórias de uma gueixa" não seja um filme
totalmente descartável. Mas é estranho, apesar
disso, que tenha recebido seis nominações ao
Oscar. Para ele, é coisa demais. É ver para
conferir.
REYNALDO DOMINGOS FERREIRA
NOTAS DA EDITORA
ref. " Memórias de
uma Gueixa "
Data: Thu, 2 Mar 2006 19:22:44 -0300
Assunto: Notas da Editora ref. Memórias de uma
gueixa
De: "Theresa Catharina de Góes Campos"
Data: Sat, 25 Feb 2006 19:48:55 -0300
Para: "REYNALDO FERREIRA"
Re: Um filme fantasioso
Amigo Reynaldo:
Mais uma vez, é com prazer que recebi o seu
ótimo artigo, embora eu pense diferente quanto
ao filme, que considerei realista.
Você, porém, estaria confirmando o que está
escrito no site da Fundação Japão, onde
"Memórias de uma Gueixa" seria "uma fábula".
(sic) (Ver a seguir o que eu lhe envio neste
e-mail). Portanto, essa seria a proposta dos
produtores e do diretor.
Para mim, foi doloroso assistir ao filme - não
enxerguei fábula, nem fantasia, nem fadas, e
sim, uma sociedade machista, um mundo de
crueldades...e, quando alguém tratou com bondade
a gueixa tão sofrida, esse gesto de sensível
humanidade a encantou. (Aliás, essa é a
explicação verbal que a protagonista manifesta
explicitamente, sem nenhuma dúvida sobre os seus
sentimentos , quase no final.)
Não achei o final feliz - sim, ela encontrou,
como gueixa, o seu protetor, o homem que o seu
coração escolhera, mas nas últimas palavras do
filme, ela confirma , com realismo, e com
tristeza, que, como gueixa, seria sempre a
metade de uma esposa (como se ela mesma se
sentisse uma mulher pela metade , uma pessoa
pela metade, um ser que não seria uno, nem mesmo
considerado individualmente - foi a minha
percepção).
Quanto à fotografia, a trilha sonora, a direção
de arte e os figurinos têm qualidades inegáveis.
Sobre o diretor Rob Marshall, para ser sincera,
digo a você que eu simplesmente detestei
"Chicago", musical elogiado por tantos,
premiado, etc. Não gostei da história, nem de
seus personagens, por seu cinismo e amoralidade.
Deu-me tristeza, "conviver" com aqueles tipos. A
única exceção foi o personagem do Richard Gere,
o advogado que, sob a aparência de cínico e
amoral, tinha um senso profundo do que seria, de
fato, na sociedade/comunidade, a administração
correta da justiça.
Quanto a "Memórias de uma Gueixa", além de todas
aquelas minhas observações já transmitidas para
você, lembro-me ainda da beleza dos créditos
finais, assim como da trilha sonora, executada
com primor até o final, inclusive, das últimas
imagens da produtora e da distribuidora do
filme.
Você apreciou esse final, ou estava tão
aborrecido com a "fantasia" do filme que saiu
antes da sala ou apenas deixou de prestar
atenção a isso, porque o filme lhe desgostou?
Eu avisei sobre esses momentos especiais dos
créditos finais a algumas pessoas, aqui em São
Paulo, e depois, vieram me agradecer, porque
decidiram permanecer na sala e se sentiram
gratificadas.
Entrevistei com bastante calma algumas
espectadoras do filme, com ascendência japonesa,
e todas me confirmaram ter considerado a
história
"bem realista".
Abraços cordiais de
Theresa Catharina
MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA
www.memoriasdeumagueixa.com.br
De: PR Newswire
Brasil
Para: THERESA CATHARINA DE GÓES CAMPOS
Assunto: Destaques da estréia do filme
'Memórias de uma Gueixa'
Destaques da estréia do filme 'Memoirs of a
Geisha'
05 de dezembro de 2005 13:30 HORALOCAL
Destaques da estréia do filme 'Memoirs of a
Geisha'
Baseado no romance de Arthur Golden, 'Memórias
de uma Gueixa' é um épico romântico com cenário
em um mundo exótico e misterioso. Nos anos
anteriores à Segunda Guerra Mundial, uma menina
japonesa pobre é separada de sua família para
trabalhar como empregada na casa de uma gueixa.
A menina se transforma na legendária gueixa
Sayuri (Ziyi Zhang). Sayuri cativa os homens
mais poderosos de sua época, porém é obcecada
por seu amor secreto pelo único homem fora de
seu alcance (Ken Watanabe).
Com direção de Rob Marshall ("Chicago"),
produção de Steven Spielberg, o elenco
internacional inclui Michelle Yeoh ("O Tigre e o
Dragão"), Koji Yakusho ("Dança Comigo"), Youki
Kudoh ("Neve sobre os Cedros") e Gong Li
("Esposas e Concubinas").
SOBRE O FILME -- Ziyi Zhang, Ken Watanabe,
Michelle Yeoh, Koji Yakusho, Youki Kudoh, Kaori
Momoi, Tsai Chin, Cary Tagawa, Mako, Zoe
Weizenbaum, Rob Marshall (Diretor), Steven
Spielberg (Produtor).
"Memórias de uma Gueixa" estréia nos Estados
Unidos em 9 de dezembro de 2005
Mais informações ou para solicitar uma cópia
impressa:
Elana Gichon @ Dogmatic, 310.450.3884, elana@dogmatic.com
FONTE Columbia Pictures
05/12/2005
PRNewswire -- 5 de dezembro
BNED: NG
FONTE: PR NEWSWIRE LATIN AMERICA
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O texto acima, distribuído pela PR Newswire
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