Opiniões divergentes sobre a Reforma Tributária:
Reynaldo Domingos Ferreira e Aylê-Salassié
Filgueiras Quintão
De: Reynaldo Ferreira
Date: qui., 20 de jul. de 2023 Subject:
Fwd: Reforma Tributária
Repassando: Nao há como deixar de concordar
com o articulista, Aylé-Salassié Filgueiras
Quintão, no que diz respeito à mais do que
inconveniente abertura dos portos brasileiros
aos navios iranianos. Além de estar o país sob
sanção do Ocidente, que precisa ser respeitada,
o regime imposto aos iranianos pelos aiatolás é
um dos mais duros e desumanos possiveis. Visto
há pouco, o filme " O Heroi ", de Ashgar Farahdi,
Prêmio do Juri do Festival de Cannes, tem-se
noção possivel - tendo em vista a censura, que
sofrem os escritores e cineastas do país, muitos
deles presos - do sufoco, em que vive, de uma
maneira geral, a gente iraniana, no seu dia a
dia.
Mas, por outro lado, tambem, no meu
caso, que ainda como jornalista econômico,
acompanhei, de perto, a elaboraçao por uma
equipe mista de técnicos econômicos e
tributaristas, da melhor qualidade, muitos deles
já falecidos, do projeto de reforma tributária,
enterrado, na Camara dos Deputados, por falta de
vontade política, presumivelmente, entre 15 e 20
anos, não há como deixar de discordar do amigo
articulista, quando afirma, sob a influência de
uma conservadoria estéril, escolar - movida
certamente pelo medo, muito mineiro, de mudança,
qualquer mudança - ser ela cheia de enigmas,
quase charadas.
Ora, ora, se assim for, o que propõe o meu
caro Aylé?... Que continuemos, indefinidamente,
sob uma algaravia de improdutivos tributos,
dificil de ser manejada e cumprida?
Os autores do projeto, lembro-me bem,
partiram de um aprofundado diagnóstico da pesada
carga tributária brasileira para chegarem, com a
devida precisão, ao arcabouço da reforma, que
tem, como peça-chave, ao que destaca, com razão,
o articulista, a criação de um novo e único
Imposto Sobre Valores Agregados (IVA), que vai
acabar com uma série de tributos federais,
estaduais e municipais, como IPI,PIS, Cofins,
ICMS e ISS.
Além disso, a reforma traz beneficios para o
setor popular, ao eliminar a alíquota que pesa
sobre a cesta básica de alimentos, reduzindo
também a que incide sobre medicamentos. E
último, mas não menos importante, a reforma
tributária avança, de forma inédita, na
tributação das grandes fortunas do país. Esse,
por si só, é um fato a ser comemorado!... Vamos
ver agora se os senadores têm mais respeito pelo
trabalho alheio do que os deputados, aprovando,
com rapidez, a reforma tributária, para que seus
reais benefícios entrem logo em vigor.
Leiam. agora a matéria do jornalista e
professor, Aylé-Salassié Filgueiras Quintão.
Reynaldo Domingos Ferreira
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DA REFORMA
TRIBUTÁRIA À MOEDA DIGITAL: ENIGMAS, QUASE CHARADAS
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão*
Aí pela frente, o cidadão brasileiro vai se
surpreender angustiado com novas confusões,
encrencas, ideias e falas escatológicas dos
nossos dirigentes políticos, bem como com os
resultados de novas leis, projetos de sentido
ambíguos e casuísticos gerados no Executivo e
sancionados com a conivência do Congresso
Nacional e a conveniente omissão do Judiciário.
O Governo Brasileiro acaba de abrir seus portos
para navios iranianos, país que está sob sanção
no Ocidente, devido à teimosia em fabricar uma
bomba nuclear própria, uma ameaça aos pares no
Oriente Médio. Para os analistas da política
internacional, a atitude do Brasil pode ser
interpretada como uma provocação do Brasil ou um
desalinhamento explícito.
E assim vai. Na semana passada, a Câmara dos
Deputados aprovou a tão aguardada Reforma
Tributária, cuja alma é a instituição do novo e
único Imposto sobre Valores Agregados (IVA) que
surge engolindo tributos federais , estaduais e
municipais: IPI, PIS, Confins, ICMS e ISS. Com
ele, o governo Federal pretende corrigir algumas
distorções arrecadatórias, assumindo o seu
controle por meio do IVA, e é ele mesmo fazendo
a redistribuição dos valores entre as unidades
federativas - 26 estados e 5.600 municípios -
cujas alíquotas serão fixadas por um novo órgão
oficial - não mais via Fundo dos Estados e
Municípios - mas um Conselho Federativo. Se
governadores e prefeitos quiserem mais do que
lhes forem destinados , restou, na reforma, um
dispositivo que permite a esses entes
governamentais regionais e locais criarem outros
encargos junto às respectivas comunidades,
aplicáveis sobre produtos semi-elaborados,
commodities agrícolas, minerais e até mesmo
sobre o consumo. Tudo isso constitui-se em
enigmas, quase charadas...
A reforma poupa dos encolhimentos e
supressões tributárias aquele montante absurdo
atribuído no Orçamento da União às emendas
parlamentares, cuja finalidade tem sido
subsidiar atividades executivas de deputados e
senadores nas regiões de origem. Na prática, a
liberação do dinheiro pelo Executivo continua
presa às barganhas políticas de interesse do
Governo nas novas votações no Congresso .
Provavelmente, o teste deste apoio negociado
para o Orçamento de 2024, será a votação da
Reforma Tributária no Senado, sobre o que se
propaga uma reação imaginária .
Da mesma forma, foram poupados dos cortes -
com o nome de "exceções" "desonerações, e
créditos presumidos algumas atividades
econômicas, culturais, assistenciais, esportivas
e religiosas , a Cesta Básica, o Bolsa Família,
além da educação, da saúde e da segurança
pública. Também as exportações e as grandes
empresas de construção civil, cujos projetos
tiverem apelo popular. As frentes sindicais que
fiscalizam esses tipos de projeto para proteger
os empregos, estão reivindicando ainda , em
seguida ao IVA, a redução da taxação regressiva
do consumo na arrecadação da União, dos estados
e dos municípios, anunciando-as para a próxima
fase da reforma, que não vai esperar pelo fim da
sua implantação em 2032.
Nessa segunda fase, pretende-se mexer,
finalmente, com as grandes fortunas, nos lucros
e dividendos e com a progressividade da tabela
do IR para - argumenta-se - proteger do "leão"
os trabalhadores que ganham salários menores.
Paralelamente, surge a ideia antiga do subsídio
público para dívidas privadas: "Desenrola
Brasil" seria o fim dos créditos rotativos dos
cartões e um tipo de perdão de dívidas populares
que possa vir a resultar na compra, por pessoas
físicas, de bens e serviços: "Mais geladeiras",
por exemplo. Enfim é um projeto cheio de
exceções, regimes especiais, alíquotas zero,
variadas e confusas, que impactam as grandes
empresas até os pactos federativos e
constitucionais.
O IVA, na realidade são dois: CBS -
Contribuição de Bens e Serviços que vai unificar
o IPI, o PIS e o Confins, administrado a nível
federal; e o IBS- Imposto sobre bens e serviços
que substituirá o ICMS dos estados e os ISS dos
municípios cobrados no consumo. Com o IVA, a
multiplicidade de tributos desparece, mas os
benefícios também. O imposto dual deverá
corrigir velhas distorções causadas por
arrecadações tributárias cumulativas que
penalizaram sempre o consumidor . Eis mais uma
questão enigmática.
MOEDAS DIGITAIS .
Se a ancoragem para os navios iranianos em
portos brasileiros vai gerar um problema para o
Brasil entre os países do Ocidente, e a Reforma
Tributária apresenta uma complexidade de difícil
configuração , imagine o problema que o governo
está criando ao defender que as transações
comerciais e financeiras com o exterior sejam
lastreadas não mais no dólar norte-americano ou
no euro, mas no "yuan" chinês ou por meio de uma
moeda digital capitaneada pelo grupo dos países
do Sul planetário, conhecido como BRICS -
Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul -,
inclusive dentro do Mercosul, e da Celac (países
da América Latina,Central e Caribe). Será?!
Pode-se confiar nesses pretensos lastreadores do
modelo em estudo? Por sua vez, internamente, o
Banco Central do Brasil está para divulgar um
projeto de substituição do nosso $Real analógico
(moedas, cédulas) por valores correntes "toquenizados":
um token é a representação digital e
criptografada de um bem real, que pode ser
tangível ou intangível. Outra perigosa aventura.
Tão intrigante ainda é essa discussão, dentro
da Reforma Tributária, envolvendo a preservação
da floresta amazônica. A ideia de um imposto
verde atenuaria a ideia dos desenvolvimentistas
liberais de exploração de supostas grandes
reservas de gás e petróleo na região, que
poderiam alforriar o Brasil de perversas
dependências energéticas externas . Contudo, não
se sabe ainda como matar a charada: dar ao bioma
um valor intangível compartilhado mundialmente
com países e instituições preocupadas com as
questões climáticas e com a importância da
proteção da biodiversidade para o planeta, o que
faz emergir ameaças claras à soberania
territorial na região. O Governo tergiversa na
criação de um imposto verde, embora tenha a
pretensão de alargá-lo pelo mundo. Sonhadora,
Marina Silva conduz a ideia dentro da discussão
da Reforma Tributária.
É, ou será alto, o preço que o brasileiro
tenderá a pagar pela falta de compromisso com um
projeto de Nação para o Brasil, com metas
concretas a serem alcançadas, linhas conceituais
e diretrizes operacionais compatíveis com o
entendimento de seus cidadãos. Essa prerrogativa
democrática discursiva, aberta às
excentricidades dos governantes, dando tiro para
todo lado, seja na política, na economia ou
sobre o meio ambiente, a cada nova gestão no
Estado, assemelha-se à reabertura dos portões de
um parque de diversões. Confunde os gestores
profissionalizados (IPEA,FGV, INSPER) das
políticas públicas, interrompe projetos e
programas - milhares de obras paradas ,
desqualifica as instituições, alimenta
ineficiências e implode as contas públicas,
pondera o jornalista Vinicius Torres .
* Jornalista e professor |