Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
45 anos - LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: qui., 3 de ago. de 2023
 

45  anos

 

Kate está envolvida nos preparativos da festa de 45 anos de seu casamento. No entanto, ela é quem se envolve com os preparativos. Lidando com certa indiferença e distanciamento do esposo. Então, cinco dias antes das comemorações, ele recebe uma carta comunicando que o corpo do seu primeiro e grande amor fora encontrado congelado nos Alpes Suíços. O que explicava o fato de nunca mais receber notícias dela.


 

Perturbado, aliena-se no turbilhão de lembranças e emoções que retornam. Kate percebe a perturbação e a distância maior que se instala entre eles. Os olhares dela para ele se tornam cada vez mais suavemente inquiridores. Na tentativa de entender o que se passa investiga velhos documentos e fotografias. Até encontrar a história do grande amor de seu esposo, quando jovem e antes de conhecê-la.

 

Agoniada, profundamente triste, vendo a alienação e a perturbação do companheiro quanto a programação da festa de comemoração dos quarenta e cinco anos de casamento, ela o confronta. Pois, afirma, gostaria de lhe dizer tudo o quanto sabe. Tudo o que descobriu. Mas é incapaz de falar sobre isto. Por fim, declara: gostaria que ele fosse à festa porque realmente quer, não por compromisso. Pois, se por obrigação, induziria as pessoas a pensarem que ela não é importante para ele. E ele responde: “Mas você sabe que é importante para mim” – “Sim eu sei, diz ela, mas você sabe?” Ele afirma que sim. Ocorre que ela não só descobrira o que ocorrera, como dois dias antes vira seu esposo se dirigir a uma agência de viagem para saber sobre a possibilidade de ir até a Suíça, onde morrera sua noiva. E ela pensara: “O perfume dela, a presença dela esteve durante todo este tempo entre nós”.

 

Talvez sejam estes os limites do tempo e da compreensão para muitos de nós. Talvez a ninguém seja dado conhecer o outro completamente. Assim como nós nunca nos conheceremos integralmente. Há desvãos, sombras, fendas, precipícios, vazios. E a angústia e um desespero surdo continuam, diante da nossa impotência frente às imprevisíveis circunstâncias da vida, à aproximação com o fim, os limites físicos e à desilusão com o outro.

 

Pois não há atalhos, ruelas, porteiras para abrir. Não há grandes escolhas a fazer. A velhice nos põe diante do inevitável, do irrecorrível, do inadiável, dos limites do tempo. Não há saídas se você viveu durante quarenta e cinco anos uma espécie de embuste. Se você enfrenta uma verdade há tanto tempo escondida e que representa um amor irremediavelmente fracassado. 


Na noite da festa Kate entra no salão com o esposo e segue cumprimentando os convidados. Todos os amigos de longa data do casal. Ainda sorri e, deste modo, percorre os dois ambientes: o da recepção e o do jantar, belamente decorado, com local para danças. A amiga os chama para ver um painel de fotos, onde os dois aparecem em várias fases da vida. Elogia a beleza de Kate. Relembram momentos. Mas o comentário do esposo é sobre as fotos da cadela do casal.


 

Na hora do jantar, sentados à mesa, o discurso dele foi breve, mas com referências ao primeiro encontro, ao amor que sentia por ela e agradecendo à sua paciência por tê-lo suportado nestes 45 anos. E no decorrer da festa,                                                               contraditoriamente, é seu esposo que se mostra animado. Agora, todavia, os olhos de Kate estão inquietos, percorrendo todos os cantos do salão, como a procurar por algo. Há uma estranheza e uma angústia que se apossam de sua alma, enquanto se esforça em parecer alegre e natural. Vai ao banheiro para se recuperar. Então, ele a chama para dançar , abrindo a pista de danças, como o ritual pedia. Está carinhoso, alegre. Mas ela já não consegue disfarçar seus sentimentos. Seus lábios começam a tremer, os soluços contidos, a emoção represada, o desespero e uma tristeza infinita se infiltram em todos os contornos daquele rosto bonito e envelhecido pelo tempo. As lágrimas descem sem controle, enquanto ela se dirige para a saída.

 

O filme 45 Anos é um drama realizado no Reino Unido em 2015. Andrew Haight escreve a história que foi baseada em um romance. E o dirige com uma extrema delicadeza. No cenário externo o céu sempre acinzentado, os arbustos secos quase sem folhas e ao vento, caracterizam uma paisagem cheia de nostalgia. E dão o tom dos sentimentos que perpassam os personagens e o tema: a velhice e as imponderáveis circunstâncias. Com uma belíssima interpretação de Charlotte Rampling e Tom  Courtney. Ambos ganhadores do Urso de Prata do Festival de Berlim, de Melhor atriz e 

ator em 2015.

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Ler também:

 

 https://ultraverso.com.br/critica-de-filme-45-anos/

 


 

          Gênero: Drama

Direção: Andrew Haigh
Roteiro: Andrew Haigh
Elenco: Camille Ucan, Charlotte Rampling, David Sibley, Dolly Wells, Geraldine James, Hannah Chalmers, Kevin Matadeen, Max Rudd, Michelle Finch, Richard Cunningham, Sam Alexander, Tom Courtenay
Produção: Tristan Goligher
Fotografia: Lol Crawley
Montador: Jonathan Alberts
Duração: 93 min
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"(...) uma montagem que constrói um ritmo louvável, de um direção que aproveita e extrai beleza de planos comuns, mas de resultado estupendo, e assuntos de certa forma banais, como o dia a dia de um casal idoso que não possuem muitas atividades, mas instigando a curiosidade de seu progresso.(...)"
 

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