45 anos
Kate está envolvida nos
preparativos da festa de 45 anos de seu
casamento. No entanto, ela é quem se
envolve com os preparativos. Lidando com
certa indiferença e distanciamento do
esposo. Então, cinco dias antes
das comemorações, ele recebe uma carta
comunicando que o corpo do seu primeiro
e grande amor fora encontrado congelado
nos Alpes Suíços. O que explicava o fato
de nunca mais receber notícias dela.
Perturbado, aliena-se no
turbilhão de lembranças e emoções que
retornam. Kate percebe a perturbação e
a distância maior que se instala entre
eles. Os olhares dela para ele se tornam
cada vez mais suavemente
inquiridores. Na tentativa de entender o
que se passa investiga velhos documentos
e fotografias. Até encontrar a história
do grande amor de seu esposo, quando
jovem e antes de conhecê-la.
Agoniada, profundamente
triste, vendo a alienação e a
perturbação do companheiro quanto a
programação da festa de comemoração dos
quarenta e cinco anos de casamento, ela
o confronta. Pois, afirma, gostaria de
lhe dizer tudo o quanto sabe. Tudo o que
descobriu. Mas é incapaz de falar sobre
isto. Por fim, declara: gostaria que ele
fosse à festa porque realmente quer, não
por compromisso. Pois, se por obrigação,
induziria as pessoas a pensarem que ela
não é importante para ele. E ele
responde: “Mas você sabe que é
importante para mim” – “Sim eu sei, diz
ela, mas você sabe?” Ele afirma que sim.
Ocorre que ela não só descobrira o que
ocorrera, como dois dias antes vira seu
esposo se dirigir a uma agência de
viagem para saber sobre a possibilidade
de ir até a Suíça, onde morrera sua
noiva. E ela pensara: “O perfume dela, a
presença dela esteve durante todo este
tempo entre nós”.
Talvez sejam estes os
limites do tempo e da compreensão para
muitos de nós. Talvez a ninguém seja
dado conhecer o outro completamente.
Assim como nós nunca nos conheceremos
integralmente. Há desvãos, sombras,
fendas, precipícios, vazios. E a
angústia e um desespero surdo continuam,
diante da nossa impotência frente às
imprevisíveis circunstâncias da vida, à
aproximação com o fim, os limites
físicos e à desilusão com o outro.
Pois não há atalhos,
ruelas, porteiras para abrir. Não há
grandes escolhas a fazer. A velhice nos
põe diante do inevitável, do
irrecorrível, do inadiável, dos limites
do tempo. Não há saídas se você viveu
durante quarenta e cinco anos
uma espécie de embuste. Se você enfrenta
uma verdade há tanto tempo escondida e
que representa um amor irremediavelmente
fracassado.
Na noite da festa Kate entra no salão
com o esposo e segue cumprimentando os
convidados. Todos os amigos de longa
data do casal. Ainda sorri e, deste
modo, percorre os dois ambientes: o da
recepção e o do jantar,
belamente decorado, com local para
danças. A amiga os chama para ver um
painel de fotos, onde os dois aparecem
em várias fases da vida. Elogia a beleza
de Kate. Relembram momentos. Mas o
comentário do esposo é sobre as fotos
da cadela do casal.
Na hora do jantar,
sentados à mesa, o discurso dele foi
breve, mas com referências ao primeiro
encontro, ao amor que sentia por ela e
agradecendo à sua paciência por tê-lo
suportado nestes 45 anos. E no decorrer
da festa,
contraditoriamente, é seu esposo que se
mostra animado. Agora, todavia, os olhos
de Kate estão inquietos, percorrendo
todos os
cantos do salão, como a procurar por
algo. Há uma estranheza e uma angústia
que se apossam de sua alma, enquanto se
esforça em parecer alegre e natural. Vai
ao banheiro para se recuperar. Então,
ele a chama para dançar , abrindo a
pista de danças, como o ritual pedia.
Está carinhoso, alegre. Mas ela já não
consegue disfarçar seus sentimentos.
Seus lábios começam a tremer, os soluços
contidos, a emoção represada, o
desespero e uma tristeza infinita
se infiltram em todos os contornos
daquele rosto bonito e envelhecido pelo
tempo. As lágrimas descem sem controle,
enquanto ela se dirige para a saída.
O filme 45 Anos é um
drama realizado no Reino Unido em 2015.
Andrew Haight escreve a história que foi
baseada em um romance. E o dirige com
uma extrema delicadeza. No cenário
externo o céu sempre acinzentado, os
arbustos secos quase sem folhas e ao
vento, caracterizam uma paisagem cheia
de nostalgia. E dão o tom dos
sentimentos que perpassam os personagens
e o tema: a velhice e as imponderáveis
circunstâncias. Com uma belíssima
interpretação de Charlotte Rampling e
Tom Courtney. Ambos ganhadores do Urso
de Prata do Festival de Berlim, de
Melhor atriz e
ator em 2015.
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Ler também:
https://ultraverso.com.br/critica-de-filme-45-anos/
Gênero: Drama
Direção: Andrew
Haigh
Roteiro: Andrew
Haigh
Elenco: Camille
Ucan, Charlotte Rampling, David Sibley,
Dolly Wells, Geraldine James, Hannah
Chalmers, Kevin Matadeen, Max Rudd,
Michelle Finch, Richard Cunningham, Sam
Alexander, Tom Courtenay
Produção: Tristan
Goligher
Fotografia: Lol
Crawley
Montador: Jonathan
Alberts
Duração: 93
min