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"8 DE MARÇO – DIA
INTERNACIONAL DA MULHER"
“Entre pedras que me
esmagaram, levantei a pedra rude dos meus
versos.”
“De pedra foi o meu berço/De
pedras têm sido meus caminhos/Meus versos:
pedras quebradas no rolar/E no bater de tantas
pedras.”
Cora Coralina
“Eu canto porque o instante
existe/e a minha vida está completa . sou
poeta./Não sou alegre nem sou triste:/sou poeta.
(...) Sei que canto. E a canção é tudo./Tem
sangue eterno e asa ritmada./ E um dia sei que
estarei mudo: / mais nada.”
Cecília Meireles
O Dia Internacional da Mulher foi
proposto por Clara Zetkin (1857-1933), em
1910 no II CONGRESSO INTERNACIONAL DE
MULHERES SOCIALISTAS, em Copenhagem. Membro
do PC Alemão, eleita deputada em 1920. Militante
do movimento operário, dedicou-se à
conscientização feminina. Fundou e dirigiu a
revista IGUALDADE, que durou de 1891 a
1907.
No século XIX e início do XX, nos
países que se industrializavam, o trabalho
fabril era realizado por homens, mulheres e
crianças em jornadas de 12 a 14 horas nos seis
dias da semana, incluindo freqüentemente as
manhãs de domingo. Os salários eram de fome e os
proprietários tratavam as reivindicações
trabalhistas como uma afronta, considerando os
operários “classe perigosa”. As manifestações
eram por melhores salários, pela redução das
jornadas e pela proibição do trabalho infantil.
Com os movimentos sindicais e políticos emergia
uma nova consciência do papel da mulher enquanto
trabalhadora e cidadã. Além de Clara Zetkin,
Rosa Luxemburgo, Alexandra Kollontai, Emma
Goldman, Simone Weil e tantas outras
militantes, dedicaram suas vidas ao que
posteriormente se tornou o movimento feminista.
Assim como na Europa, também nos EUA era intenso
o movimento dos trabalhadores, sobretudo nos
setores da produção mineira, ferroviária e no de
tecelagem e vestuário. A emergente economia era
marcada por crises. Em 1903 formou-se a ação de
sufragistas e de profissionais liberais a Women’s
Trade Union League para organizar trabalhadores
assalariados.
Com as crises de 1907 e 1909 o
salário foi reduzido, a oferta de mão-de-obra
era imensa, devido à imigração da Europa. No
último domingo de fevereiro de 1908, mulheres
socialistas dos EUA fizeram uma manifestação a
que chamaram Dia da Mulher, reivindicando
o direito ao voto e melhores condições de
trabalho. Em Manhatan, no ano seguinte, o Dia
da Mulher reuniu 2 mil pessoas. Para
desmobilizar o movimento, muitas fábricas
trancavam as portas durante o expediente,
cobriam os relógios e controlavam a ida aos
banheiros. A fábrica Triangle Shirtwaist Company
(Companhia de Blusas Triângulo), criou um
sindicato interno, para se contrapor à
organização da categoria. Em outra fábrica,
trabalhadoras que reclamavam das mesmas
condições, foram demitidas e pediram apoio ao
United Hebrew Trade (Associação de Trabalhadores
Hebreus). As trabalhadoras da Triagle, para
ajudar as companheiras, tentaram retirar alguns
recursos do sindicato interno, mas não o
conseguiram. Fizeram piquetes, a Triagle
contratou prostitutas para se misturarem às
manifestantes tentando dissuadí-las de seus
propósitos, mas o movimento se fortaleceu.
Em 22 de novembro de 1909, em
reunião dos Tanoeiros, a adolescente Clara
Lemlich se rebelou e pediu a palavra: “Estou
cansada de ouvir oradores falarem em termos
gerais. Estamos aqui para decidir se entramos em
greve ou não. Proponho que seja declarada uma
greve geral agora! A platéia apoiou de pé a
moção. Cerca de 15 mil trabalhadores do
vestiário, a maioria moças, entraram em greve,
provocando o fechamento de mais de 500 fábricas.
Houve prisões, tentativas de novas contratações,
o clima ficou tenso. A greve durou 13 semanas,
foi encerrada em 15 de fevereiro de 1910, após
as empresas cederam a algumas reivindicações. A
reação do patronato se repetia: portas fechadas
durante o expediente, relógios cobertos, longas
jornadas e baixos salários. A Triagle funcionava
em um prédio de dez andares e ocupava os três
últimos. Empregava 600 trabalhadores, a maioria
mulheres imigrantes judias e italianas, jovens
de 13 a 23 anos. No sábado do dia 25 de março de
1911, às 5 horas da tarde, quando todos
trabalhavam, irrompeu um grande incêndio.
Algumas portas estavam fechadas. As divisórias e
o chão de madeira, tecidos e retalhos, tudo
contribuía para a propagação do fogo. No
desespero, várias pularam das janelas para a
morte. Morreram 146 pessoas, 125 mulheres e 21
homens. Em 5 de abril, no fervor da comoção
geral, foi realizado o funeral coletivo que se
transformou numa demonstração da força
trabalhista. Cerca de 100 mil pessoas
acompanharam o enterro. A tragédia fortaleceu o
sindicato. No local do incêndio foi construída a
Universidade de Nova Iorque, com a placa
lembrando a tragédia: “Neste lugar, em 25 de
março de 1911, 146 trabalhadores perderam suas
vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triagle.
Deste martírio resultaram novos conceitos de
responsabilidade social e legislação do trabalho
que ajudaram a tornar as condições de trabalho
as melhores do mundo (ILGWU).”
As mulheres trabalhadoras
continuaram a se manifestar em várias partes do
mundo: Nova Iorque, Berlim, Viena, São
Petersburgo entre outros. Em 8 de março de 1917,
trabalhadoras russas do setor de tecelagem
entraram em greve.
No Brasil, Bertha Lutz
(1894-1977), bióloga e líder feminista,
fundadora em 1919, da Liga para a Emancipação
Intelectual da Mulher, aglutinou um grupo de
mulheres da burguesia, na luta pelo voto
feminino. Transgressoras para a época,
espalharam de aviões, panfletos no Rio de
Janeiro e Natal, no início dos anos 20,
deflagrando a campanha. Fizeram pressão sobre
deputados, senadores e o presidente Getúlio
Vargas, cujo direito foi concedido em 1933 e
garantido na constituição de 1934, mas só posto
em prática com a queda da ditadura Vargas,
quando as eleições foram restabelecidas em 1945.
Concorreu às eleições pelo Partido
Autonomista (foi objeto de uma campanha
difamatória divulgada na imprensa. Mesmo sendo
inocentada das acusações, não se elegeu).
Presidiu e coordenou os trabalhos dos congressos
promovidos pelas feministas em 1931, 1934 e
1936. Assumiu o mandato de deputada federal em
28 de julho de 1936, na vaga do titular Cândido
Pessoa (que falecera). Apresentou o projeto do
Estatuto da Mulher. Em 1946, foi
considerada a Mulher do Ano. Em 1951, foi
premiada com o título Mulher das Américas
e em 1952, foi a representante do Brasil na
Comissão de Estatuto da Mulher das Nações
Unidas, criada por sua iniciativa. Em 1983 o
diretor João Batista de Andrade dirigiu o filme
Tribunal Bertha Lutz, (o tribunal foi
criado para julgar todo tipo de discriminação
contra a mulher).
Em 1975 a ONU instituiu o 8 de
março como o Dia Internacional da Mulher.
Pesquisa e texto: Berê Bahia
Referências bibliográficas:
Artigo – Eva Alterman Blay – Profª Titular de
Sociologia e Coordenadora Científica do NEMGE
(Núcleo de Relações Sociais de Gênero) da USP,
autora entre outros de Trabalho Domesticado – a
mulher na indústria paulista (Ática, 1978). Foi
Senadora da República na legislatura de
1992/1994; e Dicionário Mulheres do Brasil de
1500 até a atualidade – biográfico e ilustrado –
Jorge Zahar Editor
S H A K T I –
especializada em moda maior, trabalha com moda
feminina há 13 anos, presta uma homenagem às
mulheres brasilienses e brasileiras, artistas
(da vida e da arte), operárias, artesãs,
historiadoras, escritoras, poetas, escultoras,
designers, pensadoras, cozinheiras, pois “comer
é preciso”.... Mulheres que retratam estas
conquistas: mães, esposas, educadoras,
donas-de-casa que cumprem dupla (ou tripla)
jornada de trabalho e ainda encontram tempo e
inspiração para expressarem a beleza de suas
almas através da arte e do cotidiano. Mulheres
que, fora dos padrões estéticos estipulados pela
mídia, estão de bem com a sua sensualidade e
com a vida. |
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