Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
Reynaldo Ferreira repassa artigo de Aylê-Salassié Filgueiras Quintão sobre falsas narrativas

De: Reynaldo Ferreira
Date: seg., 5 de jun. de 2023 
Subject: Fwd: Engajamentos desconhecidos da Nação
 
Repassando: O desembarque de Maduro em Brasília foi um ataque duro e cínico à democracia que se deseja 
implantar no país. Reynaldo Domingos Ferreira 
 
Uma escalada de sentidos salta de falsas narrativas 
 
*Aylê-Salassié Filgueiras Quintão (89
 
"Vou nomear  sempre alguém com  quem  possa conversar por telefone", respondeu Lula ao jornalista, quando questionado sobre a nomeação do seu "amigão pessoal" e advogado particular, Cristiano Zanin, para ministro do Supremo Tribunal Federal. Seguindo por esse caminho, para o jurista Ives Gandra,  a divisão constitucional entre Poderes do Estado no Brasil tende a virar  ornamento nesta imprevisível gestão de Governo.

 
De fato. Até a história parece perder a sua utilidade . Na semana anterior, Lula recomendou ao ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, recebido com honras de Chefe de Estado : "Faça sua própria narrativa".  Ignorou que Maduro  está com  cabeça  à prêmio (US$ 75 mil) por "crimes contra a humanidade", detectados por  uma Comissão de investigação  da Organização das Nações Unidas (ONU) : expulsão de  3 a 4 milhões de  famílias,  perseguidas como  Oposição ;    eleições fraudulentas;  ligação com o narcotráfico; violência policial contra civis;  e prisão de  centenas de  políticos .  São milhares de venezuelanos sendo empurrados para o Brasil ( 700 mil ), para a Colômbia ( 1 milhão), para o Peru, para o Chile, que perdem a cidadania. Acrescem-se a isso o desemprego  e a fome no País. 

 
Os venezuelanos estão se alimentando de pombos e gatos domésticos, cachorros de rua e até ratos, no estilo dos judeus confinados pelos nazistas no Gueto de Varsóvia, na Polônia, registrado pelo escritor  Leon Uris, no livro "Mila 18".  Para o nosso revolucionário presidente do Brasil , entretanto, "A Venezuela é uma democracia plena". É só mudar a narrativa. 

 
O desembarque de Maduro por aqui é fruto de um encontro de presidentes da América do Sul, inspirado pelo brasileiro,   batizado   de  Cúpula do Sul. Dele saiu um  documento intitulado Consenso do Sul, segundo o qual todos aqueles países se esforçariam, a partir de agora, para desenvolver uma política ambiental  comum , a criação de um padrão monetário próprio , que 
livrasse a região de moedas externas, e a implantação de uma política de fronteiras mais flexível (O que é isso?!). 

 
É a configuração que se quer para a UNASUL - União das Nações Sul Americanas. Parece  próxima dos ideais de Vladimir Putin para a restauração   da velha URSS-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Enquanto  o líder soviético, com reservas monetárias limitadas e estilo  stalinista prefere utilizar-se de forças militares contra os territórios  vizinhos e amigos (Chechênia, Geórgia, Ucrânia, Bielo Rússia),  o líder do Partido dos Trabalhadores no Brasil  confia na sua retórica artificiosa e nos cofres do BNDES.  

 
Especula-se que o documento assinado em Brasília  teria  motivações outras, que não a simples integração regional. Uma delas  seria  enterrar ou incorporar  o Mercosul  definitivamente à  UNASUL . Na opinião de  Volodymyr Zelenski, da Ucrânia, o brasileiro    estaria  tentando  
emplacar-se como uma referência regional . Agora virá a reunião com os países amazônicos,  tratada como uma preliminar   Conferência do Clima - Cop 28, que o brasileiro projeta  para ser realizada em Belém . É uma oportunidade calculada para  desfilar virtudes da Amazônia e arrecadar novas doações em dinheiro, em nome do meio ambiente. Ora, se é verdade, ninguém dá almoço de graça. Não se cogita de que a estratégia possa representar uma ameaça à  integridade da unidade territorial e política do Brasil. 

 
 Na reunião de Brasília, alguns presidentes, principalmente  de países que estão dando calote no Brasil - só a Venezuela US$ 1,5 bilhão -,   baixavam a cabeça para o novo documento, evitando criticar a  narrativa e a  coerência  do texto. Lacalle Pou , do Uruguai, acusado como de direita;  e Gabriel Boric,  do Chile,  líder histórico da  esquerda no Continente, reagiram, entretanto, com pronunciamentos duros contra as promessas, atitudes, posturas, omissões e compromissos políticos pouco explícitos assumidos pelo presidente brasileiro, em viagens ao exterior, sobretudo, fora da comunidade  americana.  

 
O ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, vem advertindo que "o Brasil está neste momento carente de bom senso", ou - quem sabe - engajado em um projeto de Poder mundial, como o da China . Daí a construção e reconstrução de  narrativas novas  sem aderência com a  realidade interna. Para não ficar na dependência da iniciativa privada , o  governo brasileiro está criando mais 17 novos ministérios , que vão se juntar aos  23 já existentes. Serão  milhares de novos empregos instituídos no coração do Estado, e que vão enfrentar  inovações tecnológicas introduzidas na máquina pública pelos próprios governos. Não parece ter relação com eficiência da gestão pública. 

 
Alardeia-se  uma política ambiental comum e transversalizada, mas, paradoxalmente, o País, importador histórico de petróleo, tem dificuldade de administrar as pressões dos acionistas da Petrobrás e do agronegócio, este responsável   por não deixar a economia entrar em  estado distópico . Sem  ele o PIB  seria negativo. O marco temporal para a demarcação das terras dos índios - considerada aquelas habitadas por indígenas até 1988 - legitima a sua ocupação pelos negócios agrícolas. A invasão de propriedades rurais e a reforma agrária tendem a ser substituídas  por um amplo recadastramento rural . 
Proposta  que visaria    redefinir quem é ou não proprietário   rural e - quem sabe no meio  urbano - no Brasil.  Os Sem Terra e os Sem Teto estão à espera de uma solução. Por açodamento ou competência relativa, são muitos os tropeços  pela frente.
 
No Congresso uma Comissão Parlamentar de Inquérito começa desconstruir a narrativa oficial da invasão do Palácio do Planalto, constatando-se , de um lado, que agentes do novo Governo, inclusive próximos do novo Presidente,  facilitaram a entrada dos  invasores. Em segundo lugar, os invasores não seriam  exclusivamente  os mesmos acampados à frente do quartel do Exército, no Setor Militar Urbano, mas centenas de militantes que desceram, em Brasília, de dezenas de ônibus  para, supostamente, festejar a posse de Lula. A narrativa digerida  pela mídia, e deglutida pelo Judiciário, teria sido construída  marquetologicamente, similarmente a eventos  anteriores com  grande manipulação sentimental  da população .

 
Assim, aos trancos e barrancos, as coisas vão pulando de uma retórica, aparentemente,  vazia, invasiva  e insensata, acomodada no STF, com jurisprudências duvidosas, para ganhar forma no mundo real .  Os brasileiros  estão ficando confusos. Não sabem mais distinguir com clareza o que é uma ditadura de uma democracia social. Ninguém sabe para onde se está indo, e até com quem, enfim,  se meteram. Não existem sinais de futuro, senão de desconstrução. A própria frente de oposição no Congresso esboça reações  mas, mostra-se sensível  à liberação de R$ 1,7 bilhão de recursos  para as tais emendas  parlamentares . Dinheiro vivo  para aprovação da MP de criação dos novos ministérios. É a legitimação, de cara limpa,  do "toma lá dá cá", numa afronta geral, sem constrangimentos. E assim, resolve-se com um telefonema .   

 
Pelo caminho vão surgindo alguns  mais conscientes arrependidos, como FHC , Joaquim Barbosa e  partidos mesmo. Mas o leite está derramado.   Tanto Chávez quanto Maduro, ou Ortega, Putin e outros  simularam exatamente assim.  No Equador, mal foi empossado, o novo Presidente  baixou um ato suspendendo as atividades do  Congresso. Resultado: foi "impichado".  É ingenuidade assumir que Lula só quer uma  visibilidade universal. Se é isso,  tem  aí algo de doentio, vingativo e  narcisista conduzindo o Estado Brasileiro.  A Nação nada em um mar  de falsas narrativas. Está ficando difícil confiar em alguma coisa, em instituições ou em alguém. O "fake" começa, enfim, a ganhar materialidade.
Jornalista e professor
 

Jornalismo com ética e solidariedade.