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THERESA CATHARINA entrevistada para filme
documentário sobre FLORIANO PEIXOTO
A JCV Produção Editorial, Cinema e Vídeo
está atualmente realizando, entre outros
trabalhos, um filme documentário sobre
Floriano Peixoto, o "Marechal de Ferro" , o
primeiro vice-presidente da República
proclamada em 15 de novembro de 1889 e o seu
segundo presidente, pois assumiu a
presidência do país dois anos depois, quando
o Marechal Deodoro da Fonseca renunciou.
Dirigido por Jorge Oliveira e Ana Maria
Rocha, com produção de Cléa Paixão, o
documentário tem como proposta apresentar
Floriano Peixoto, no contexto de sua
época, aos cidadãos de hoje.
Conhecedores do meu artigo sobre o
jornalismo brasileiro nas lutas políticas,
os diretores do filme me convidaram a ser
entrevistada, para comentar, analisando e
refletindo criticamente, na minha visão e
perspectiva de jornalista atuante, o papel
da imprensa: nos anos que antecederam a
proclamação da República e, também, durante
o governo de Floriano Peixoto.
Por compreender a importância de ressaltar a
atuação da imprensa, logo atendi ao convite,
sendo o meu depoimento filmado em Brasília,
na data de 16 de março/2006.
A seguir, reproduzo o texto que, em 1970,
foi publicado em meu livro "O progresso das
comunicações diminui a solidão humana? Uma
interpretação histórica das comunicações
gráficas e audiovisuais, desde a
pré-História até o intelsat", Editora
Lidador (RJ).
Posteriormente, esse capítulo - com o
título, na obra, O jornalismo brasileiro nas
lutas políticas - começou a ser divulgado
pela [...]
e nos sites que produzo ( www.noticiasculturais.com,
www.arteculturanews.com e
www.theresacatharinacampos.com ).
Recomendo, para leitura esclarecedora sobre
a época de Floriano Peixoto, a obra do
pesquisador, escritor e jornalista Hélio
Silva: "1889 - A República não esperou o
amanhecer".
Considerando que a produção desse filme
documentário sobre Floriano Peixoto é uma
contribuição valiosa para a preservação da
memória brasileira, que merece todo o nosso
incentivo, porque subsidia e complementa
a nossa participação como sociedade e
público, nossos esforços de cidadãos
conscientes, louvo a iniciativa dos
realizadores.
Theresa Catharina de Góes Campos
Brasília, 17 de março de 2006
Jornalistas
nas lutas
políticas
brasileiras
Theresa
Catharina de
Góes Campos,
articulista,
jornalista,
escritora e
professora
universitária
Introduzida
entre nós,
oficialmente,
no ano de
1808, a
imprensa
logo se
notabilizou
pela sua
adesão às
campanhas
políticas.
Na primeira
vintena do
século, em
Londres,
para onde
fugira às
perseguições
da
Inquisição,
Hipólito da
Costa,
através de o
"Correio
Braziliense",
que entrava
clandestinamente
no Brasil,
pregava a
monarquia
constitucional
e a
libertação
dos
escravos.
Durante todo
o ano de
1821, quer
dizer,
depois da
Revolução do
Porto e da
saída do Rei
para
Portugal, a
tendência
geral da
imprensa no
Rio de
Janeiro foi
a da
conciliação
com a
metrópole, e
não de
separação do
Brasil.
Entre os
jornais
publicados,
notamos essa
idéia de
conciliação
de modo
especial nos
periódicos
do Visconde
de Cairu,
como "O
Conciliador
do Reino
Unido".
Naturalmente,
aqueles que
se opunham a
Portugal não
podiam
divulgar seu
pensamento.
Os jornais
brasileiros,
de 1808 a
1880, não
precisavam
procurar
matéria - os
assuntos
estavam bem
à mão.
Sucessivos
acontecimentos
despertavam
a
consciência
nacional,
reclamando
uma atuação
das
organizações
políticas e
mesmo do
povo: a
reação ao
absolutismo,
o
constitucionalismo,
a revolução
de 1817, a
regência de
Dom Pedro; a
independência,
a abdicação
de nosso
primeiro
imperador,
as guerras
civis e as
agitações
que
ensangüentavam
o país, a
guerra do
Paraguai.
Alcançada a
independência
política,
mas agindo
D. Pedro I a
favor de
seus
compatriotas,
desencadeou-se
por todo o
país uma
violenta
campanha,
notando-se o
descontentamento
popular
através dos
jornais: "O
Nazareno" e
o
"Republico",
de Paraíba e
na Corte;
nas críticas
do "Tifis
Pernambucano",
de Frei
Joaquim do
Amor Divino
Caneca; nos
ataques de
"A Sentinela
do Serro",
dirigida por
Teófilo
Otoni.
Durante as
lutas da
Regência e
por todo o
Segundo
Reinado,
diversos
nomes da
imprensa
brasileira
continuaram
a divulgar
as
aspirações
do povo.
Vicente
Ferreira
Lavor
Papagaio,
maranhense,
defendeu com
o periódico
"A
Sentinela",
editado no
Pará, a
insurreição
dos cabanos
- movimento
nativista,
republicano,
contrário ao
partido
restaurador
e à
Regência,
deflagrado
em 1833.
Corajosos
foram também
os irmãos
Abreu e
Lima: Luís
Inácio, o
"general das
massas", e
José Inácio,
responsáveis
pelo "Diário
Novo"dos
insurretos
pernambucanos
da Revolução
Praieira.
Joaquim
Nunes
Machado, um
dos líderes
do referido
movimento,
enviava
artigos para
o "Diário
Novo".
As campanhas
da Abolição
e da
República
notabilizaram,
entre
outros,
Joaquim
Serra,
Quintino
Bocaiúva,
Saldanha
Marinho e
Salvador de
Mendonça.
Joaquim
Serra fundou
"A Reforma"e
"A Folha
Nova".
Joaquim
Nabuco diria
sobre ele:
"Joaquim
Serra é, na
Reforma, a
vida do
Jornalismo
liberal. Foi
ele o
criador da
moderna
imprensa
política,
figura
resplendente
na história
da Abolição,
pela
seriedade,
constância,
sacrifício e
heroísmo do
seu
incomparável
combate de
dez anos,
dia a dia,
até a
vitória
final de 13
de maio".
Quintino
Bocaiúva,
Saldanha
Marinho e
Salvador de
Mendonça
fundaram "A
República",
em 1870,
logo após o
término da
guerra entre
a Tríplice
Aliança e o
Paraguai.
Bocaiúva,
Marinho e
Mendonça
eram
incansáveis
na pregação
contra o
trono e o
regime
monárquico.
A imprensa
no Brasil
recebeu um
patrimônio
de glória,
com a
atuação de
Luís Gama,
Alcindo
Guanabara e
Rui Barbosa.
Conquistada
a libertação
dos
escravos, o
jornalismo
brasileiro
empenhou-se
na luta pela
República,
sob a
liderança do
"Jornal do
Brasil" e de
"A
República",
fundado por
Souza Dantas
em 1891, do
qual faziam
parte:
Joaquim
Nabuco,
Barros
Pimentel,
José
Veríssimo e
Rui Barbosa.
Na campanha
republicana,
destacou-se
também "A
Imprensa",
de Rui
Barbosa.
Em várias
províncias,
o governo
republicano
de Deodoro
e, depois, o
de Floriano
Peixoto,
ordenaram o
fechamento
de inúmeros
jornais. "A
Tribuna
Liberal",
publicada de
1888 a 1889,
no Rio de
Janeiro, foi
o primeiro
deles. O
"Jornal do
Brasil"
sofreu
violências
por parte de
Floriano
Peixoto e
teve sua
publicação
suspensa, de
1893 a 1894.
Depois de
Floriano
Peixoto, com
a Revolta da
Armada,
algumas
crises
político-sociais
que não
chegaram a
abalar o
regime
republicano
serviriam de
material aos
periódicos.
Muitos já
começavam a
praticar o
sensacionalismo
conscientemente,
explorando
os eventos
no sentido
de vender
exemplares e
buscando
atingir
objetivos
particulares.
Durante a I
Guerra
Mundial,
nossos
jornais,
como os do
mundo
inteiro,
passaram a
estampar na
primeira
página o
noticiário
internacional,
em
substituição
ao
noticiário
nacional,
que foi
relegado às
colunas
internas.
Para atender
à
curiosidade
natural dos
leitores,
portanto, o
"espelho"
foi
alterado.
Isso
exemplifica
bem o
amadurecimento
da imprensa
brasileira.
As campanhas
do
Abolicionismo
e da
República
utilizaram
as palavras
como
autênticas
armas, e a
imprensa
brasileira
cresceu,
adquirindo
expressão
nacional.
Encarada
como
indústria,
porém,
continuava
sendo uma
aventura. Os
problemas
econômicos
golpeavam
mortalmente
muitos
periódicos,
de breve
existência.
Os recursos
técnicos
também
deixavam
muito a
desejar.
Velhos
prelos,
máquinas
compradas de
segunda mão
em países
mais
adiantados
(Alemanha e
Inglaterra),
impressoras
pesadas e
modestas, de
ferro
fundido, bem
como as
caixas de
tipo e
outras, de
ferro
fundido, bem
como as
caixas de
tipo e
outras peças
rústicas,
constituíam
o material
com que se
compunha,
paginava e
imprimia o
jornal.
Apesar
desses
aspectos
negativos, o
padrão de
responsabilidade
era elevado,
se o
compararmos
com certos
periódicos
do
jornalismo
atual. (...)
"O balcão de
anúncios, o
poder
econômico, a
opinião do
comerciante
influíam
menos na
redação e na
orientação
da gazeta.
Atrasados,
feios,
violentos,
tipicamente
provincianos,
batiam-se
mais
ligeiros,
por um ideal
que por um
anúncio".
Durante os
primeiros
anos de
século XIV,
durante os
quais o
Brasil
atravessou
diversos
estágios
políticos -
Colônia,
Reino ,
Império -
vivendo
instantes
decisivos de
sua História
- atuaram
algumas das
maiores
figuras do
jornalismo
pátrio,
entre as
quais: Frei
Joaquim do
Amor Divino
Caneca,
redator do "Tifis
Pernambucano";
Cipriano
Barata;
Líbero
Badaró,
redator do
"Observador
Constitucional";
Vicente
Ferreira
Lavor
Papagaio,
responsável
pela
"Sentinela"
dos
insurretos
cabanos;
Antônio
Borges da
Fonseca,
redator do
"Republico",
periódico
editado no
Rio de
Janeiro, na
Paraíba e em
Pernambuco,
onde quer
que se
fizesse
necessária a
divulgação
de informes
patrióticos
Luís Inácio
de Abreu e
Lima,
fundador do
"Diário
Novo";
Teófilo
Otoni,
redator
principal de
"A Sentinela
do Serro".
A coragem
de João
Soares
Lisboa
"O Correio
do Rio de
Janeiro", de
João Soares
Lisboa,
chefiava a
corrente
separatista.
Seu redator,
embora
português de
nascimento,
veio muito
cedo para o
Brasil, e
defendeu
sempre os
interesses
da terra
adotiva,
sendo uma
das figuras
da
independência
do Brasil.
Sem nunca se
comprometer
com o
governo,
João Soares
Lisboa
criticava
com
desenvoltura
os atos do
príncipe D.
Pedro e de
seus
ministros.
Essa atitude
do
periodista
mais
popular, e
talvez o
mais
significativo
da época da
independência,
resultou
para ele em
ser o
primeiro
processado
no Rio de
Janeiro, por
crime de
imprensa. Os
jurados,
nomeados,
não eleitos,
não
conseguiram
encontrar
crime no
réu, que
divulgava os
princípio
republicanos
e
democráticos.
As
perseguições
que João
Soares
Lisboa
sofreu não
representaram
um
privilégio
pessoal.
Toda a
imprensa
enfrentava
grandes
dificuldades,
no tempo de
José
Bonifácio,
inimigo de
críticas e
observações.
O Patriarca
da
Independência
chegou mesmo
a não
permitir a
circulação
de
periódicos
que lhe
fossem
contrários,
ou escritos
por pessoas
que lhe eram
desafetas.
No final de
1822,
deixaram de
circular no
Rio: o
"Correio do
Rio de
Janeiro", o
"Revérbero
Constitucional"
e outras
folhas. Até
a abertura
da
Assembléia
Constituinte,
a 3 de maio
de 1823, não
apareceu
mais nenhum
periódico.
Januário da
Cunha
Barbosa e
Joaquim
Gonçalves
Ledo
abandonaram
o seu jornal
- o
"Revérbero
Constitucional
Fluminense"-
e buscaram
refúgio no
estrangeiro.
João Soares
Lisboa
recebeu
ordens para
se retirar
do Brasil
num prazo de
24 horas.
A causa
da
Independência
e a imprensa
baiana
Um periódico
que em todos
os momentos
defendeu
corajosamente
os
interesses
brasileiros,
agindo de
modo bem
diverso do
"Diário do
Rio de
Janeiro",
começou a
circular na
Bahia, a 4
de agosto de
1821, com o
nome de
"Diário
Constitucional".
Trazia como
epígrafe os
versos de
Camões: "A
verdade que
eu conto nua
e pura,
vence toda a
grandíloqua
escritura".
Batendo-se
para que o
governo
local
tivesse uma
Junta com
maioria de
brasileiros,
o "Diário
Constitucional"
participou
da primeira
campanha
eleitoral
travada pela
imprensa de
nosso país,
granjeando a
oposição do
"Semanário
Cívico" e da
"Idade
d'Ouro do
Brasil". No
ano
seguinte,
deixando de
ser diário,
reduziu o
seu título
para "O
Constitucional".
A causa da
independência
foi
divulgada
pelo "Diário
Constitucional",
em 1822.
Empastelada
sua oficina
pelos
portugueses,
sucedeu-lhe,
com
entusiasmo
redobrado,
na vila de
Cachoeira,
terra natal
da heroína
Maria
Quitéria, o
"Independente
Constitucional".
O "Diário
de
Pernambuco"
e o "Jornal
do
Commercio"
Entre tantas
publicações
de vida
efêmera,
duas
conseguiram
se firmar e
circulam até
hoje: O
"Diário de
Pernambuco",
de 1823,
participou
das lutas
políticas de
seu Estado,
durante o
Império e o
período
republicano,
vencendo
suas
campanhas
institucionais
e cobrindo
os
principais
acontecimentos.
Noticiava os
conflitos
cívicos, as
ocorrências
locais, os
fatos de
repercussão
nacional e
as disputas
internacionais.
O "Jornal do
Commercio",
que surgiu
em 1827, no
Rio de
Janeiro,
substituiu o
"Diário
Mercantil"
e, com os
seus
editoriais,
obteve
destacada
influência
sobre a
administração,
chegando
mesmo a
derrubar
ministros do
Império.
Na
Regência e
no Primeiro
Reinado
Na Regência
de D. Pedro
e no
Primeiro
Reinado, o
jornalismo
brasileiro
adquiriu
perspectivas
mais amplas,
detendo-se
nos temas
políticos e
sociais. São
numerosos os
folhetos e
pasquins
registrados
no período
que vai de
1822 a 1831.
Um ano antes
da
proclamação
de nossa
independência,
havia sido
abolida a
censura
prévia.
Sempre com
uma
epígrafe,
fazendo
humor ou se
empenhando
pela
resolução
dos
problemas
mais
urgentes,
aqueles
periódicos
foram
veículos de
plataformas
de governo,
de opiniões
de grupos,
de críticas
à
administração,
bem como
divulgadores
de programas
e sugestões
de reformas
sociais.
Dois
jornais,
fundados em
1821 e 1827,
respectivamente,
ocuparam
lugar
destacado,
por suas
campanhas
cívicas de
grande
repercussão:
"A
Malagueta",
de Luís
Augusto May
e a "Aurora
Fluminense",
de Evaristo
da Veiga.
O
idealismo de
Evaristo da
Veiga
"No meio dos
homens
notáveis do
Primeiro
Reinado e da
Regência,
(escreveu
Sílvio
Romero) -
entre os que
figuravam
distintamente
e
notavelmente
influíram,
teve
Evaristo da
Veiga certas
qualidades
que foram só
dele; era o
mais novo, o
que não
tinha
tradições, o
que não
possuía
títulos
acadêmicos,
o que
apareceu
mais
inesperada e
rapidamente,
o que morreu
mais moço,
mas a tempo
e mais a
jeito; foi o
que nunca
saiu do
Brasil".
Mais
adiante,
acrescentou
Sílvio
Romero: "a
arma de que
Evaristo da
Veiga se
serviu e o
rumo que deu
à sua
doutrinação
foram os
mais
acertados e
poderosos
para o
tempo: a
arma foi o
jornal; e o
rumo, o
liberalismo
da
constituição".
Filho de
livreiro,
ainda
criança se
interessou
pelo
jornalismo,
ao visitar
as oficinas
da Impressão
Régia, nos
porões do
palácio do
Conde da
Barca. A
sagacidade
que
demonstrou
como
repórter, os
editoriais
que
escrevia,
tornaram-no
um dos
maiores
homens do
jornalismo
de seu
tempo. Além
disso, sobre
ele se
afirmou:
"nunca fez
parte do
Governo e
morreu
pobre".
O exemplo
de Líbero
Badaró
O italiano
Líbero
Badaró
colocou sua
pena a
serviço do
Brasil,
sendo
assassinado
em 1830, na
cidade de
São Paulo.
Sua
trincheira -
"O
Observador
Constitucional",
ganhou
celebridade.
Também
ficaram
famosas as
palavras que
pronunciou
pouco antes
de morrer:
"Morre um
liberal, mas
não morre a
liberdade!"
A ousadia
de Cipriano
Barata
Na história
da imprensa
de nossa
pátria
destacou-se,
ainda, a
figura de
Cipriano
Barata,
cujas
"Sentinelas
da
Liberdade"
apareceram
em
Pernambuco,
na Bahia, na
Corte, no
Rio, no Rio
Grande do
Norte, em
toda parte,
enfim, onde
se fazia
necessária
uma voz de
alerta.
Data de 1831
a estréia de
Cipriano
Barata no
Jornalismo.
Antes disso,
porém, já se
destacava
como uma
espécie de
agitador
popular,
líder de
massas,
autor das
"Sentinelas
da
Liberdade",
chamado por
alguns de
anarquista,
por outros
de liberal.
Considerado
traidor
pelos
defensores
do trono,
teve o seu
batismo de
fogo na
Inconfidência
Baiana de
1798, quando
foi preso.
Revolucionário,
parlamentar,
jornalista,
panfletário
e autor de
inúmeros
pasquins,
toda vez que
a situação
reclamasse,
fazia
distribuir
as
"Sentinelas
da
Liberdade",
datadas de
qualquer
ponto do
país.
Diplomou-se
em Coimbra,
em Cirugia,
Filosofia e
Matemática.
Adquiriu
experiência
com o
trabalho
escravo,
como
lavrador de
cana nos
engenhos de
açúcar de
Abrantes.
Exerceu
importante
cargo na
Revolução
Pernambucana
de 1817.
Para
assegurar
condições
mais humanas
aos presos
políticos,
fundou
comitês de
solidariedade,
encarregados
do sustento
material dos
encarcerados.
Fez parte
das
sociedades
secretas que
lutavam pela
nossa
independência
e pelo
constitucionalismo;
presidiu
reuniões de
conspiradores
favoráveis
ao sistema
monárquico-representativo.
Cipriano
Barata
começou sua
atividade
jornalística
na "Gazeta
Pernambucana".
Logo depois,
fundou seu
próprio
veículo de
comunicação,
surgindo a
primeira
"Sentinela
da Liberdade
na Guarita
de
Pernambuco",
com
publicação
regular às
quartas e
aos sábados.
Redigida em
linguagem
violenta, o
periódico
obteve
êxito,
provocando
uma oposição
muito forte
à
instalação,
em
Pernambuco,
do
Apostolado,
sociedade
maçônica
internacional,
de José
Bonifácio.
As críticas
de Cipriano
Barata à
referida
organização
levaram-no à
prisão.
Recolhido ao
cárcere, ou
em
liberdade,
estava
permanentemente
em luta,
oposicionista
e
anti-lusitano.
Sua pena
criou as
condições
para a
Confederação
do Equador.
Muitos
exemplares
de suas
"Sentinelas"
foram
rasgados em
praça
pública.
Reeleito
como
representante
baiano para
a Assembléia
Constituinte,
não quis ir
e só tomou
posse porque
o prenderam,
afirmou
Hélio Viana
em
"Contribuição
à História
da Imprensa
Brasileira -
"o que foi
um processo
original de
fazer
Deputado
ocupar sua
cadeira -,
justificando
sua atitude:
primeiro,
porque tinha
opiniões
livres -
quase todas
indo de
encontro ao
projeto de
Constituição;
segundo,
porque tinha
inimigos na
Assembléia;
terceiro,
porque tinha
sido
ameaçado de
morte;
quinto,
porque mesmo
de
Pernambuco
podia
analisar o
projeto
constitucional."
Embora
preso, o que
ocorria
freqüentemente,
Cipriano
Barata fazia
circular as
"Sentinelas".
Da Fortaleza
do Brum,
saiu a
"Sentinela
da Liberdade
na Guarita
de
Pernambuco,
atacada e
presa na
Fortaleza do
Brum por
ordem da
força armada
reunida."
Sua
atividade
panfletária
foi
continuada
por Frei
Joaquim do
Amor Divino
Caneca, no
pasquim
"Tifis
Pernambucano".
No ano de
1838,
Cipriano
Barata
faleceu,
legando à
posteridade
suas
inúmeras
"Sentinelas",
publicadas
na Bahia, no
Rio de
Janeiro,
Pernambuco,
Rio Grande
do Norte,
bem como
seus artigos
para jornais
diversos,
que o
consideravam,
segundo
registrou
Hélio Vianna
em
"Contribuição
à História
da Imprensa
Brasileira":
"o firme, o
honrado, o
patriota, o
imortal, o
mártir
Cipriano
Barata."
As sementes
lançadas por
ele
frutificaram.
De 1823 a
1889,
circularam
nas
Províncias
da Bahia, do
Rio Grande
do Sul, de
Minas
Gerais, do
Rio de
Janeiro, do
Maranhão, do
Ceará e de
São Paulo,
mais de duas
dezenas de
"Sentinelas
de Cipriano
Barata:
movimentou a
opinião
pública,
propagando o
liberalismo,
lutando pela
implantação
do regime
republicano,
combatendo a
escravidão.
Adotou a
mesma
orientação
uma revista
ilustrada,
editada em
Porto Alegre
com o nome
de
"Sentinela
do Sul", de
1867 a 1868.
Frei
Caneca:
padre,
jornalista e
mártir
Em dia e mês
ignorados,
no ano de
1779, nasceu
Frei Joaquim
do Amor
Divino
Caneca, na
cidade do
Recife.
Ordenou-se
aos vinte
anos de
idade, no
convento de
Nossa
Senhora do
Carmo,
ocupando-se
sempre de
atividades
docentes.
Iniciada a
Revolução de
1817,
filiou-se ao
movimento
que, ao ser
debelado,
levou Frei
Caneca a ser
preso na
Bahia, onde
passou
quatro anos
de
sofrimento.
Ocupou esse
tempo no
cárcere
escrevendo
uma
gramática da
língua
portuguesa.
A dissolução
da
Assembléia
Constituinte,
com a prisão
e deportação
de
deputados,
ocorreu a 12
de novembro
de 1823. A
25 de
dezembro do
mesmo ano
apareceu o
primeiro
número do
"Tifis
Pernambucano",
que iria
assumir a
responsabilidade
de propagar
os ideais
autonomistas
e
republicanos
e orientar a
causa dos
insurretos
da
Confederação
do Equador.
Comentava o
jornal: "o
lutuoso dia
12 de
novembro,
dia nefasto
para a
liberdade do
Brasil e sua
independência;
dia em que o
partido dos
chumbeiros
do Rio de
Janeiro
conseguiu
dissolver a
suprema
Assembléia
Constituinte
Legislativa
do Império
do Brasil."
Em seu
periódico,
Frei Caneca
tratou dos
acontecimentos
de
Pernambuco e
das outras
províncias
em que
explodiam
manifestações
contrárias
ao Império
ou adesões
aos
movimentos
patriotas.
Usando de
linguagem
enérgica, o
sacerdote
recifense
destacava os
erros
cometidos
pelo monarca
e atacava a
prepotência
dos
portugueses.
A firmeza de
suas idéias
pessoais,
entretanto,
em nada
diminuía a
fidelidade
com que
expunha os
acontecimentos.
Divulgando
os
documentos
oficiais dos
adversários,
sabia
criticá-los
em detalhes
e com
brilhantismo.
No quinto
número do
jornal de
Frei Caneca,
em janeiro
de 1824, os
portugueses
eram
acusados de
querer "a
recolonização
do Brasil,
sua
escravidão
inteira, ou
o
estabelecimento
nele do
sistema
absoluto."
No sétimo
número do
"Tifis
Pernambucano",
lemos o
seguinte,
com
referência à
Dissolução
da
Assembléia
Constituinte:
"O projeto
já foi feito
para não ser
discutido, e
passar como
Constituição
eterna do
Império do
Brasil."
Frei Caneca
não temia
criticar o
Senado do
Rio de
Janeiro que,
no começo de
1824,
afixara
editais
comunicando
aos cidadãos
que
examinara o
projeto de
Constituição,
nele não
encontrando
nada que
merecesse
sofrer uma
correção,
pelo que o
mesmo era
julgado
"conveniente."
O
padre-jornalista
comentou,
então: "O
Senado não
fez mais do
que assinar
em cruz."
Manifestou-se
contra a
escolha de
Pais Barreto
para o cargo
de
presidente
da província
de
Pernambuco,
fazendo-lhe
várias
acusações
sérias.
"Pode Sua
Majestade
dar padrões
de tensas,
títulos de
barões,
viscondes,
condes,
marqueses e
duques;
porém dar
ciência a um
tolo, valor
a um
covarde,
virtude a um
vicioso,
honra a um
patife, amor
da pátria a
um traidor,
não pode Sua
Majestade."
O público
lia no
jornal de
Frei Caneca
coisas deste
teor:
"Baixezas,
vilanias,
servilismos,
indignidades,
nem se devem
exigir de
ninguém, nem
são coisas
imitáveis,
nem se acham
no caráter
pernambucano."
Ou ainda:
"Nós
queremos um
império
constitucional;
o
ministério,
um absoluto.
Nós queremos
uma
Constituição
feita pela
nação
soberana; o
ministério,
um projeto
feito por
ele, que não
tem
soberania.
Nós, como
racionais,
queremos
jurar uma
constituição,
com
conhecimento
do que
juramos,
livremente,
sem coação,
para o
juramento
poder
ligar-nos; o
ministério
quer que
abjuremos a
razão, e que
juremos o
projeto,
porque o
Senado do
Rio de
Janeiro o
qualificou
de
obra-prima
em política,
e que o
juremos com
um bloqueio
na barra,
fazendo-nos
todas as
hostilidades.
Nós queremos
uma
constituição
que afiance
e sustente a
nossa
independência,
a união das
províncias,
a
integridade
do império,
a liberdade
política, a
igualdade
civil, e
todos os
direitos
inalienáveis
do homem em
sociedade; o
ministério
quer que, à
força de
armas,
aceitemos um
fantasma
ilusório e
irrisório da
nossa
segurança e
felicidade,
e mesmo
indecoroso
ao
Brasil..."
O número 24
do "Tifis
Pernambucano"
trouxe um
Comunicado,
contendo as
bases para a
formação do
pacto
social,
redigidas
por uma
sociedade de
homens de
letras.
Encontravam-se
entre os
seus itens:
"A liberdade
de imprensa,
ou outro
qualquer
meio de
publicar
estes
sentimentos,
não pode ser
proibida,
suspensa,
nem
limitada."
"Todos os
cidadãos são
admissíveis
a todos os
lugares,
empregos e
funções
públicas. Os
povos livres
não conhecem
outros
motivos de
preferência,
senão os
talentos e
as
virtudes."
"Todo homem
pode entrar
no serviço
de outro
pelo tempo
que desejar,
porém não
pode se
vender, nem
ser
vendido."
Frei Caneca
passou em
revista
diversos
jornais do
Exterior que
se ocupavam
da situação
de
Pernambuco e
de outras
províncias.
O
"Constitucional",
da França,
dizia que
"Pernambuco
tem
apresentado
uma oposição
máscula e
vigorosa aos
planos do
despotismo."
Ao que o
sacerdote
acrescentava:
"Quando a
Pátria está
em perigo,
todo cidadão
é soldado;
todos se
devem
adestrar nas
armas para
rebater o
inimigo
agressor."
Frei Caneca
permaneceu
no Recife,
animando a
insurreição
com os seus
artigos, até
quando lhe
foi
possível.
Sua prisão
ocorreu
quando ele
se
encontrava
no campo de
batalha, no
exercício
das funções
de
secretário
das tropas
sublevadas,
das quais
era, também,
o orientador
espiritual.
Às vésperas
de ser
executado,
compôs, na
prisão, os
versos:
"Tem fim a
vida
daquele/Que
à Pátria não
soube
amar;/A vida
do
patriota/Não
pode o tempo
acabar."
Na manhã do
dia 15 de
janeiro de
1825, na
Fortaleza
das Cinco
Pontas, Frei
Caneca
morreu
fuzilado,
"Pelo crime
de sedição e
rebelião
contra as
imperiais
ordens de
Sua
Majestade
Imperial."
A sentença
condenatória
estabelecia
que ele
deveria ser
enforcado,
mas três
carrascos se
recusaram a
isso, pois o
jornalista
era estimado
entre a
população
recifense.
Frei Caneca,
então, foi
amarrado à
forca e
finalmente
fuzilado.
O
abolicionista
Joaquim
Serra
Joaquim
Serra nasceu
em São Luís
do Maranhão,
em 1830; em
1888, morria
no Rio de
Janeiro.
Estreou no
jornalismo
quando
contava 21
anos de
idade, em
1851, no
"Publicador
Maranhense."
Órgão
oficial,
circulava 3
vezes por
semana,
sendo
transformado
posteriormente
em diário.
Com
referência
ao valor dos
jornais e
jornalistas
daquela
província,
no período
de que
falamos,
assim depôs
José
Veríssimo:
"Nenhuma
imprensa, a
não ser
talvez a do
Rio de
Janeiro, que
reconhece
todas as
capacidades
do país,
conta, em
tão crescido
número,
nomes tão
legitimamente
notáveis,
publicistas
de raro
vigor,
cultura,
excelência
de linguagem
e de estilo,
dotes de
jornalistas
doutrinários
e
polemistas,
como a do
Maranhão
desde a sua
fundação em
1821 até os
anos de
1860."
Eis alguns
nomes do
jornalismo
local:
Manoel
Odorico
Mendes -
erudito
tradutor de
Homero e de
Virgílio;
Sotero dos
Reis -
gramático,
historiador,
jurista;
João
Francisco
Lisboa -
escritor
humorista e
historiador;
Gonçalves
Dias;
Cândido de
Morais e
Silva;
Almeida
Oliveira -
precursor
das idéias
republicanas
no Maranhão.
Entre esses,
notabilizou-se
Joaquim
Serra que,
aos 24 anos
de idade,
redigiu o
hebdomadário
"Ordem e
Progresso" e
fundou, em
1867, o
"Semanário
Maranhense",
revista
literária
que, no ano
seguinte,
parou de
circular.
Transferindo-se
para a
Corte, em
1868, aí
Joaquim
Serra
prosseguiu
em suas
atividades,
enviando
colaborações
aos órgãos
já
existentes e
fundando
novos
periódicos.
Durante
vinte anos,
levando uma
existência
simples,
bateu-se
pelo ideal
da Abolição.
Chegou a
dirigir o
"Diário
Oficial" e
foi deputado
pela sua
província.
Procurava
dar o máximo
de sua
pessoa, sem
pensar em
qualquer
tipo de
retribuição.
Quando
morreu,
Joaquim
Nabuco assim
definiu o
seu caráter:
"O amor que
tinha à
obscuridade
foi talvez a
sombra que
entreteve a
frescura
perene do
seu
espírito."
Praticamente
sozinho,
Joaquim
Serra
redigiu
durante
anos, no Rio
de Janeiro,
um dos
jornais que
mais se
distinguiram
na campanha
abolicionista
- "A
Reforma."
Dotado de
extrema
versatilidade,
fazia de
tudo em seu
periódico:
desde o
artigo
político à
seção
teatral e à
crônica
literária,
comentando
as últimas
novidades
das
editoras, em
prosa ou
verso. A seu
lado,
colaborando
em "A
Reforma",
estavam:
Francisco
Otaviano,
Tavares
Bastos,
Afonso
Celso,
Rodrigo
Otávio, José
Cesário de
Faria Alvim,
mais tarde
nomes de
relevo na
política e
na
administração
pública.
Sobre eles,
entretanto,
ressalta,
dominante,
Joaquim
Serra, pelo
sacrifício e
devotação
demonstrados,
dia a dia,
durante 10
anos, até a
vitória
final de 13
de maio de
1888.
Comentando
os
acontecimentos
de maior
importância,
de modo
especial
informes
sobre a
penetração
da campanha
abolicionista
no
Parlamento e
na opinião
pública,
Joaquim
Serra
assinou,
durante
anos, os
"Tópicos do
Dia",
colaboração
sua em "O
País".
Explicando
sua posição
de
jornalista
abolicionista,
dizia:
"desejo
estar nas
avançadas e
aí
combater."
Incansável
na
comunicação
de suas
idéias,
assumiu a
responsabilidade
do periódico
"O
Abolicionista",
publicação
de grande
valor,
embora só
tenha saído
4 vezes,
entre os
anos de 1880
e 1881.
Órgão da
Sociedade
Brasileira
contra a
Escravidão,
de formato
pequeno, não
declarava os
nomes de seu
corpo
redatorial,
nem trazia
anúncios.
Com a
ausência de
nomes,
evitava-se
perseguições
aos
brasileiros
que pregavam
a libertação
dos
escravos.
Por outro
lado, a
ausência de
anúncios
mostrava que
os
comerciantes
e
industriais,
empenhados
na
manutenção
do regime,
negavam
muito
naturalmente
a sua ajuda
financeira a
quem os
ameaçava com
uma nova
ordem
sócio-econômica.
O valor
da imprensa
Encerremos
essas
recordações
históricas
sobre
jornalistas
brasileiros
com o
pensamento
de Cóston
sobre a
importância
da imprensa:
"O jornal
facilita as
relações dos
homens entre
si, suprime
as barreiras
antigas do
tempo e do
espaço,
tende a
estabelecer
um nível
mais elevado
de justiça.
Se a
imprensa tem
seus vícios,
ela tem
também suas
virtudes.
Ela é a
guardiã, se
não a mais
responsável,
meio o mais
eficaz do
direito, da
justiça, da
liberdade,
da honra, da
probidade do
Estado; a
guardiã
avisada de
todos
aqueles que
detêm uma
parte do
poder
público, a
denunciadora
implacável
dos abusos e
dos vícios
de sua
administração
e de seu
governo. Ela
é a
testemunha
vigilante
que narra,
todas as
manhãs, aos
cidadãos, os
atos e os
usos dos
homens em
seu posto,
desde o
guarda
campestre
até o
ministro." |
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