Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
Reynaldo Domingos Ferreira comenta:
 
Poemas Raciais - Anderson Braga Horta
 
De: Reynaldo Ferreira
Date: ter., 5 de set. de 2023 
Subject: Poemas Raciais
 
 
POEMAS RACIAIS

 
Repassando: Em Separata, a Revista da Academia de Letras do Brasil, que tem sede em Brasília, edita, em momento mais que oportuno,"POEMAS RACIAIS ", do poeta Anderson Braga Horta, Prêmio Jabuti de Literatura e participante da redação da Constituição de 1988.
 
Em termos de poesia, na linhagem próxima, a meu ver, da de Gonçalves Dias - cujo bicentenário de nascimento comemoramos,  este ano -, o nosso poeta dá um tapa, comme il faut, no racismo, no preconceito e no fanatismo, que, como bem destaca, em seu magnífico prefácio, Flávio R. Kothe, editor da revista, tornou-se evidente, em meio à gente brasileira, nas eleições de 2022, quando ocorreram manifestações, nesse sentido, que, segundo ele, não se esperavam.

 
- Elas têm raízes seculares - afirma Kothe - e não serão fáceis de superar. O fanático nao aceita conversar, não ouve o argumento do outro, não é capaz de ver por que pensa de certo modo, não consegue admitir que deveria mudar sua postura.

 
Por sua vez, em um " Prefácio Sinuoso ", Anderson Braga Horta oferece-nos o  real motivo pelo qual escreveu "POEMAS RACIAIS ", surpreendido e traumatizado, que ficou, conforme diz, com a astúcia de uma moça - uma jovem de belos olhos mouriscos, como observa - que o entrevistou, recentemente, a qual disse, depois, a um colega haver chegado à conclusão de ser ele "um poço de racismo ". Um seu companheiro não teve contemplações, para com ele, sem que saiba dizer, entretanto, se foi em sonho ou se teve realmente esse diálogo.
- Você devia ter a hombridade de revelar essa escura face anti negra e publicar uma antologia com os seus poemas!
- Tomei o pião na unha - diz o poeta. Por que não? Só que pensando bem, daria ao livro um título menos brutal, e chocante, como, talvez, " Meus Poemas Raciais" (...)- Pretensioso e canalha! Seja homem! - gritou ele quase fora de si - Assuma-se por inteiro. 
 
- Vá lá. Que seja '''Poemas Racistas ". Desde que você o prefacie.
-Ele não topou  (...) E decidi dar a público, deslavadamente, esta coletânea.Não venha me dizer que Freud explica. Leia-me, por favor, meu irmão ou meu dessemelhante, e depois me diga se não tenho razão.

 
Agora, peço autorização ao poeta, Anderson Braga Horta, também meu amigo, que me ofertou, autografado, que muito agradeço, um exemplar da Separata da Revista da Academia de Letras do Brasília, contendo esses seus belos, corajosos e importantes, para a nossa nacionalidade, "POEMAS RACIAIS ", bem como à editoria da referida revista, para divulgar, entre os amigos, correspondentes, por e-mail, um dos poemas - o primeiro da "Cantata Étnica", que são três: "Canto Índio", " Canto Negro "e "Canto Fraterno "- incluidos na notável coletânea:

 
CANTO ÍNDIO

 
Sou índio.
Sou bravo, sou forte,
sou filho das matas
que vão sendo destruídas,
com seus bichos, seu frutos,
suas fontes, seus aromas, 
seu mistério.

 
Sou índio
Sou íntimo da Lua e do Sol
e das águas.
Sou amigo de todos os seres da Terra,
sou um com a natureza.

 
Sou índio.
Tenho a pele vermelha,
Canto e danço,
sinto e penso, 
amo e poemo.
Venero os meus mortos
reverencio os espíritos,
adoro o Grande Deus.

 
Que mais querem saber
para concluir que sou homem?

 
Já estava aqui
quando os outros vieram.
Mas não é isso o que importa.

 
A natureza tem todas as cores,
E a terra é de todos os homens.
Sou índio.
Sou um com a natureza.
Conclamo o Saci, a Iara,
o Boitatá, o Curupira,
todos os espíritos, Tupã
e os homens de qualquer cor
para velar por estas matas
e por estes rios. 

 
A Terra é de todos.

 
ANDERSON BRAGA HORTA
 

Jornalismo com ética e solidariedade.