Reynaldo Domingos Ferreira recomenda o artigo:
Novo Presidente do Supremo: o que esperar? -
Aylé-Salassié F. Quintão
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: ter., 3 de out. de 2023
Subject: Fwd: Novo Presidente do Supremo: o que
esperar?
Excelente, este artigo do Aylé-Salassié F.
Quintão, " Abraços de Tamanduás !...?", sobre o
pagodeiro novo Presidente do STF. E que notável
é essa lembrança da cantiga folclórica do boi
barroso!... Nada mais apropriado certamente e,
depois, a referência da troca de falsas
amabilidades do decano da Suprema Corte para com
o novo presidente da instituição. Um brinco de
artigo, que precisa ser lido e, se possível,
divulgado.Reynaldo Domingos Ferreira
ABRAÇOS DE TAMANDUÁS ?!...
Aylê-Salassié F. Quintão*
"Quem trair esta Constituição, estará traindo
a Pátria", bradou, aplaudidíssimo, Ulysses
Guimarães no discurso de promulgação da Carta
Magna de 1988. Trinta e cinco anos se passaram.
Ulysses morreu, e a sétima Constituição
Brasileira passou, no período, por uma revisão e
quase 130 Emendas. Novas dúvidas são lançadas
agora com a posse de Luís Roberto Barroso na
Presidência do Supremo Tribunal Federal e do
Conselho Nacional de Justiça . O ministro,
indicado por Dilma Rousseff para o STF, é um
ativista histórico, ex -advogado de Cesare
Battisti, o revolucionário italiano preso no
Brasil, e deportado.
Barroso substituiu Rosa Weber, uma ministra
discreta que comandou o Poder Judiciário em meio
às tensões eleitorais, com a missão de tirar o
STF do centro do debate político. Ao contrário,
no novo cenário, cercado de ambiguidades , a
posse de Barroso despertou na consciência a
velha cantiga de roda que dizia "Eu mandei fazer
um laço do couro de jacaré, pra laçar o boi
barroso, num cavalo pangaré". A agenda do novo
Presidente do STF é quase um programa de
Governo. Mostra um ministro ativo, sobretudo, na
luta pelos direitos das minorias. De constranger
as representações do Executivo presentes.
Sua intempestividade verbal é incontida, as
intenções nem sempre claras. Em um encontro com
dirigentes da União Nacional dos Estudantes
(UNE), o então futuro Presidente da Corte
Suprema enfatizou que "Nós derrotamos a censura,
a tortura... e o bolsonarismo!" . Em outra fala,
ainda mais imprudente, Barroso afirmou que
"Eleição não se ganha, se toma". Esse
comportamento do ministro expõe um pensamento
quase beligerante. No Supremo, advogados de
defesa de réus chegaram a chorar, ao reconhecer
que a instituição já não respeitava a
Constituição.
Irritada, no Congresso, a Oposição esboçou a
possibilidade de entrar com um pedido de
impeachment do ministro, passando a cobrar da
instituição respeito à Constituição, onde está
explícito que magistrados não exercem atividades
políticas. Uma dessas falas inconsequentes de
Barroso levou o presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, a classificá-la como "Inadequada,
inoportuna e infeliz" , obrigando a Presidência
do STF a emitir uma nota explicativa.
Desconfortado no Supremo, o ministro mesmo teve
de se explicar em outra nota. Tramita, na
Câmara, o PL 49, que limita os poderes dos
membros do STF.
Na indicação de Barroso para o STF, há dez
anos, foram destacadas as virtudes acadêmicas do
candidato (mestrado e doutorado feito nos
Estados Unidos), professor de Direito
Constitucional, e suas qualidades como
professor. Já era conhecido, entretanto, como um
ativista do Direito Constitucional. São
principalmente dele os questionamentos à lei
maior do estado do Rio de Janeiro e à
Constituição de 1988. "Por que não uma
Constituição pra valer ?!" "com preocupação não
apenas jurídica, mas também política".
Assim, as constantes intromissões do STF nas
competências do Congresso Nacional, sobretudo,
quando se trata de pautas de costumes, têm
provocado reações constantes de indignação no
Parlamento, que, por sua vez, começa a
desqualificar decisões do Supremo, como no caso
do Marco Temporal (PL 460), segundo o qual só
teria direito às suas terras de origem as
comunidades indígenas que estivessem
constituídas até 1988. O STF vetou .
Contrariando a decisão, a Câmara a aprovou,
desautorizando a decisão do Judiciário. O
Congresso chegou a reunir um grupo de 22 frentes
parlamentares, de todos os matizes e tendências,
para contestar essas determinações do STF no
campo da Política.
E, assim, tão intrigante quanto... foi o
abraço de Barroso e Gilmar Mendes , o hoje
decano do Supremo, após este ter feito o
discurso de recepção ao novo Presidente , cargo
que também já ocupou. Num embate em plenário, há
dois ou três anos, Barroso chamou Gilmar de
"Horrível. Uma mistura do mal com pitadas de
psicopatia" . Ironicamente, coube agora a Gilmar
introduzi-lo como Presidente. Era
responsabilidade do decano falar em nome dos
demais ministros. Gilmar não perdeu a chance:
advertiu que a Constituição de 1988 representa
os 35 anos mais longos da vida normal
republicana no País.
Envolvidos pela liturgia da festa de posse de
Barroso, as 1.500 autoridades convidadas poucas
se deram conta das entrelinhas na fala de
Gilmar, que destacava as qualidades acadêmicas e
pedagógicas de Barroso. Foi um discurso, como o
de Barroso, também com três partes. Mas a mais
dúbia foi a segunda - a do meio (a carne do
sanduíche) - em que mais moderado na eloquência,
deixou transparecer que é de Barroso a
responsabilidade pela politização do Supremo.
Seria o troco?!... Barroso chegou a responder
dizendo que a judicialização de temas políticos
devia-se à amplitude temática da própria
Constituição.
Gilmar foi mais longe, antecipou o perfil ou
a personalidade de Barroso, caracterizando-o
como alguém que, constitucionalmente, " vai além
das palavras, ágil e transformador". Para
Gilmar, com Barroso, "os dispositivos
constitucionais ganham relevância prática e
-acentuou - "jurisprudencial" - conjunto de
interpretações e reinterpretações da lei que
adquirem legitimidade ampla - , apresentando ...
inclinações para mudanças reais. Disse ainda que
a preocupação de Barroso com o Direito
Constitucional sempre foi fazer dele uso como um
meio de transformar na vida do País, dando-lhe
relevância prática, permitindo uma análise mais
ampla para os direitos fundamentais, na
construção do que chama de uma sociedade mais
justa e igualitária, genericamente,
caracterizada, por Gilmar, como uma " propensão
para a inovação", voltada para a formação de um
pensamento crítico e de cidadãos conscientes ,
"numa perspectiva, exclusivamente,
revolucionária, em relação aos direitos humanos
".
Para Mendes, Barroso tem participação efetiva
dentro do Supremo nas pautas de costumes . É uma
personalidade "tão serena quanto desassombrada ,
tão prudente quanto incansável", trabalhando -
repetiu - para que o Direito Constitucional -
especialidade dele - seja um meio de indução
política. "Sua atuação em conselhos e em
comissões dedicadas à elaboração de propostas
legislativas certamente está gravada para sempre
".
As lembranças dessa judicialização da
Política ou da politização do Judiciário, traz à
memória Luís Galotti, então presidente do STF,
que, no governo militar , vendo a Constituição
transformada em "enfeites institucionais",
indignado, cerrou as portas do Supremo Tribunal
Federal, atravessou a Praça dos Três Poderes,
foi ao Planalto , e entregou a chave ao marechal
Costa e Silva.
* Jornalista e professor. |