LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: EXISTE FUTURO? De:
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: sex., 3 de nov. de 2023
EXISTE FUTURO?
Para ser franca, estranhei a notícia: um
parlamentar da Câmara Legislativa do DF trazia
um cachorrinho com ele e apresentaria um Projeto
de Lei para aumentar a proteção dos pets. Ora,
existem organizações de proteção aos animais,
assim como penalidades para quem maltratá-los.
Dias depois entendi a estratégia – ele era autor
de um Projeto para que o Estado do DF
subsidiasse a ração dos animais adotados por
tutores. Nada contra cachorros, pelo contrário.
Meu sonho era possuir um deles, se eu já não
estivesse em uma idade na qual eu mesma preciso
de um tutor. Por outro lado, em uma sociedade
estruturalmente injusta, no qual vemos pobreza,
crianças com dificuldades para viver, violência
e um sistema de saúde precário, meus impostos
subsidiarão ração? Quem adota um cão sabe o que
está fazendo. Ao financiar a ração estamos, em
último caso, protegendo as indústrias de
alimentos para animais.
Uma outra notícia bem escandalosa: o governo
pretende dispensar o IPVA de quem compra carro
elétrico! Pela Cruz das Cabrálias! Esta é uma
ideia claramente perversa e alienada. Pois, a
indústria automotiva não é uma das que mais
recebe subsídios? Por outro lado, quem compra
carro elétrico tem capacidade financeira para
pagar IPVA, como qualquer outra pessoa. Por que
não estimular a competitividade, em lugar de
dormir com os grupos de poder, oferecendo as
tetas do Estado para eles? Lembrando que o leite
das tetas são os nossos impostos. A pergunta é:
a quem diretamente servem essas iniciativas? Aos
mais pobres?
Quase todos os anos o Governo do Distrito
Federal trata de refazer o sistema de pagamento
de dívidas daqueles que se recusaram a pagá-las
em dia. E o total do devedor recebe um senhor
abatimento, com redução dos juros e multas a
quase zero e suaves prestações. Bem, com a
devida vênia, os bons pagadores poderão passar
para o outro lado. O dos maus, uma vez que fica
mais fácil pagar. Pois de quem se facilitou a
vida? Deveriam, ao contrário, estarem alertas
para as penalidades, fazer em pequeno curso de
esclarecimento quanto às possibilidades de
endividamento. E, progressivamente, receberem as
penas cabíveis. A grande pergunta é: este
sistema de tratar as dívidas diminuiu os maus
pagadores de um ano para outro ou aumentou o seu
número? E a grande questão: que parcela da
sociedade brasiliense tem recebido esta benesse?
Qual o prejuízo do governo com a redução do
total que deveria receber?
Por último, a notícia de que os recursos
destinados à extensão das linhas de metrô não
foram utilizados. Somente um pequeno percentual.
Como nos crimes comuns a pergunta a se fazer é:
a quem interessou o assassinato? Quais os
envolvidos? Em toda cidade que se preze é o trem
e o metrô que atendem muito melhor à sociedade.
São rápidos, conseguem transportar mais pessoas
e, provavelmente, são mais seguros. Sem falar
que o metrô pode ser de superfície. É impossível
trazer todos os trabalhadores para empregos
perto de casa. A quem realmente protege o
governo quando não providencia a extensão das
linhas do metrô e do trem? Lembrando que de
Goiânia para Brasília há uma linha reta que
passa por muitas cidades, a despejarem um
incalculável número de pessoas diariamente. Sem
esquecer que a Asa Norte, Sobradinho e
Planaltina continuam sem metrô.
No entanto, nem tudo está perdido. Ainda bem
que a Câmara Legislativa do DF criou uma
Comissão de Fiscalização das Políticas Públicas
Estaduais. Sob a iniciativa e coordenação, salvo
engano, da deputada Paula Belmonte. Que não
conheço. Mas que excelente trabalho! Pois esta é
a função precípua do Legislativo. São tantas as
leis, que não precisamos mais de nenhuma. O que
necessitamos é um trabalho de avaliação das que
existem, extinguindo as desnecessárias, tolas ou
imorais. A Deputada me deixou feliz. Sei que é
um trabalho sério e talvez inédito. Ela cumpre a
sua função. E me sinto representada. Obrigada! (nov/2023/luiza) |