A grande maioria
de nós não será um gênio indomável. Nós
apenas passaremos grande parte de nossas
vidas torturados por incertezas,
fantasmas que insistem em nos perseguir,
medo e culpa. Muita culpa não
reconhecida,
mas como uma bactéria
indômita a corroer nossas entranhas. E
solidão! Ah! Sim. Porque dificilmente
poderemos nos entregar em nossas
relações afetivas. Seremos invasivos,
manipuladores, agressivos, posaremos
de bonzinho ou nos afastaremos ao menor
sinal de derrota. Não suportaremos o
amor, porque nos sentiremos sempre
inferiores a quem amamos. E porque
sentimos o medo do abandono, precisamos
nos sentir no controle, apesar do alto
preço a pagar.
“O Gênio Indomável”
fala disso tudo. Com a presença insana
de uma violência que caiu sobre
Will, quando criança e adolescente.
Violência do pai e em lares adotivos.
Sujeito aos mais diversos abusos.
Quando passou a viver sozinho, encontrou
amigos e conseguiu aproveitar de sua
rotina de vida. Embora em condições de
pobreza e sendo um gênio. Que não sabia
lidar com seus sentimentos. Suas
alavancas para a vida foram os amigos e
um bom terapeuta, que compreendeu seu
medo, na arrogância e na violência que
utilizava para se defender.
No momento mais
sensível do filme o terapeuta lhe obriga
a encará-lo, enquanto lhe afirma e
reafirma: “Você não tem culpa”. A
princípio bastante desconfortável, Will
vai aos poucos desmoronando com suas
defesas, e termina extravasando todo o
sofrimento. Enquanto é abraçado e
acolhido. A mais forte, das muitas cenas
cheias de sensibilidade do filme. Que se
baseia em uma história muito
interessante e realista de vida,
contada magistralmente pelo excelente
roteiro de Ben Affleck e Matt Damon -
uma parceria para a vida, de dois
grandes atores e amigos. E uma direção
primorosa de Gus Van Sant, cineasta e
roteirista norte americano, formado
pela Rhode Island School Design. Sant
explora os closes, amparado pela
maravilhosa interpretação do time
de atores, cuja personalidade mais
conhecida e experimentada na arte do
cinema é Robin Williams. Com
uma carreira de filmes feita para ficar
na história. Com personagens complexos,
profundos, nos quais se empenhava e nos
seduzia. Robin desistiu de viver, embora
tenha vindo para ficar na maestria de
suas interpretações.
Nos deixou órfãos.
O cinema conta com
diversos instrumentos que direcionam os
espectadores, criam expectativas e
manipulam sensações. No entanto, ao
final, em muitas histórias que lidam com
as relações humanas, há uma
realidade subjacente que fala da vida
que vivemos. Dos problemas que todos nós
passamos. Particularmente, neste filme,
há uma inesquecível descrição do amor.
Da substância das relações amorosas, em
cuja apresentação através da imagem ou
da fala, dispensam-se os preciosismos e
a eloquência. É na simplicidade das
pequenas coisas que o amor se faz
presente e se consolida. Na forma como
dois seres humanos conseguem
uma compreensão e uma identificação
mútua que os leva à permanência. Ao
final, a compreensão e o processo
e identificação
facilitados pela técnica cinematográfica
se transformam em lição de vida. O
“Gênio Indomável” fala sobre isto.
(dez/2023/luiza)