LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: A REGRESSÃO De:
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: sex., 24 de nov. de 2023
Subject: regressão
A REGRESSÃO
Francamente, havia sinais de mudanças? Ou nos
perdíamos em uma esperança inútil de que as
relações políticas no Brasil evoluiriam? O fato
é que as estratégias para as decisões políticas
no espaço de nosso Congresso Nacional continuam
as mesmas. A venda de votos por recursos de
emendas e cargos na máquina pública x adesão aos
projetos governamentais. E mais, um persistente
desejo de criar mais tipos de emendas e aumentar
os recursos disponíveis. Além de turbinar
financeiramente, a cada ano, os Fundos Eleitoral
e Partidário. Recursos públicos do Orçamento
Federal arrecadados dos impostos pagos pela
classe rica, média e pobre. Para completar,
querem transformar todas as emendas em
impositivas. Retirando a autonomia gestora do
Executivo quanto ao manejo de parte dos recursos
para, se necessário, equilibrar as contas
públicas. Uma grande parcela do Congresso
Nacional pensa assim.
O devastador avanço do Legislativo sobre o
Orçamento Federal parece ter se aprofundado no
governo anterior, quando as chaves do cofre
foram entregues a grupos partidários e seus
líderes. Naturalizando ainda mais a relação de
dependência do Executivo ao Legislativo. Em
lugar da velha harmonia e independência entre os
poderes. Caberia ao Legislativo legislar e
fiscalizar, segundo a Constituição do nosso
país. E todos os deuses sabem que a falta de
fiscalização é a responsável pelos precários
serviços públicos, pelo deficiente acesso dos
cidadãos aos benefícios. Vide a Previdência
Social e sua imensa dívida com seus usuários.
Onde estão os nossos fiscais oficiais, os
parlamentares? Pendurados no governo,
impossibilitados de fiscalizar a quem eles
servem e de quem são servidos.
Nós devemos ao Parlamento muitas mudanças
positivas e necessárias ao país. No entanto, o
processo de governabilidade, embora promovendo o
debate democrático e a construção de decisões
conjuntas, ainda carrega objetos estranhos. A
Reforma Tributária é um exemplo, com um imenso
número de isenções e benesses. Satisfazendo
grupos econômicos e objetivos eleitoreiros.
Mesmo que isto signifique o aumento da carga
tributária.
Quanto às emendas parlamentares, parecem ser
o objeto de uma limitada visão política: a de
atribuir o poder de conseguir votos, para
aumentar o capital político, através das obras
realizadas nos currais eleitorais. Com o nome do
parlamentar na placa de inauguração. Ainda
funciona? Porque sobram pelo país obras
inacabadas ou terminadas, mas sem funcionarem.
Com o povo criticando os políticos envolvidos.
Lembremos que somente as emendas individuais,
para cada 513 deputados e 81 senadores, alcançam
este ano, segundo o Correio Braziliense de hoje
(21/nov), o total de R$ 33.6 bilhões de reais.
Não seria mais legítimo pressionar o Governo
para fazer as obras? E estimular a comunidade a
lutar por elas, exercendo sua cidadania
organizada? Sem os parlamentares se apropriarem
dos recursos públicos, produto dos impostos de
todos?
Qual a situação hoje? Com a leniência das
instituições e a nossa ela ficou estranha. Como
descrita hoje no Correio Braziliense: “Ministros
fazem corpo a corpo atrás de verbas”. Correndo
atrás de parlamentares e suas emendas, como
forma de conseguir recursos para seus
Ministérios. Apresentando uma cartilha para
mostrar os projetos de governo nos quais os
recursos das emendas poderiam ser empregados.
Como aceitar esta distorção da função gestora do
Executivo, quanto ao emprego dos recursos
orçamentários? Como banalizar a relação de
subserviência do poder Executivo diante do
Legislativo? Sem dúvida, esperanças podem morrer
aos poucos. Uma coisa é discutir decisões de
Políticas Públicas através do processo
democrático, na construção de soluções e no
compromisso com o povo. Outra coisa é a adesão
aos projetos de governo trocando-a por recursos
e cargos. (nov/ 2023/ luiza) |