‘Napoleão’ de Ridley Scott - comentário de
Reynaldo Domingos Ferreira ‘Napoleão’: 3
escorregões históricos do filme com Joaquin
Phoenix | VEJA
Esse comentário da "Veja", em anexo,parte do
falso, errôneo, pressuposto de que o realizador
cinematográfico, Ridley Scott, teria de fazer um
filme sobre Napoleão Bonaparte de extraordinária
fixidez histórica.O que não foi certamente o
intento dele, pois, desde as primeiras cenas da
película está impressa sua intenção de não fazer
um filme histórico, mas de criar, com base em
fatos históricos, uma obra de ficção, como é, de
resto, da própria essência do cinema. A arte
cinematográfica é, antes de tudo, obra de
ficção. E, como tal, mobiliza grandes multidões
aos cinemas.Não fosse assim, filmes de
super-heróis não ganhariam fartas bilheterias,
como ganham, principalmente nos EUA.
Em "O Gladiador ", por exemplo, que é,
inegavelmente, um belo filme, Scott cria
personagens que não existiram, do ponto de vista
histórico, no tempo da sucessão de Marco
Aurélio, como Imperador romano. Mas são
importantes para a condução da narrativa.
Essa mesma compreensão vale para as
adaptações literárias para o cinema.
Um exemplo disso é a obra-prima "O Leopardo
", em que Luchino Visconti alterou bastante, em
relação ao romance de Lampedusa, o caráter do
padre e do próprio Tancredi, sobrinho de Dom
Fabrizio, o personagem central. A arte literária
é uma. A cinematográfica é outra.
No tocante a "Napoleão ", fica bem clara,
pelo ritmo de quase comédia, dado à narrativa -
na execução de Maria Antonieta, na guilhotina,
por exemplo - a intenção de seu realizador de
fazer um filme, de natureza política, farsesca,
para mostrar que o personagem, ao contrário do
que querem demonstrar alguns historiadores, foi
um verme, obcecado pela ideia de exterminar com
a monarquia britânica, mas que, não podendo,
ataca a Rússia, que tinha estreitasrelações
comerciais com a Inglaterra. Ele é dominado pela
mãe - como Alexandre Magno, da Macedônia,
retratado,da mesma forma, no cinema, por Oliver
Stone -, e pela esposa, Josefina, que o traía
abertamente e que nenhum prazer sentia, quando,
na cama, cedia aos seus prazeres.
Parece Scott querer dizer que todo tirano
sofre de frustrações domésticas.Ele recria essa
história com uma ambientação vibrante,
maravilhosa, ostentosa, grandiosa, pontilhada
por belíssima trilha sonora e interpretada por
atores excepcionais. Vale aqui destacar mais uma
primorosa interpretação do portorriquenho
Joaquin Phoenix, que entendeu muito bem, como
caracterizar Napoleão, dentro da linha imposta
por seu realizador, Ridley Scott. O ponto alto
da realização, entretanto, são as batalhas, que
eliminaram milhares e milhares de pessoas, em
toda a Europa, relacionadas, uma por uma, nos
créditos finais da película. Enfim, um belo
filme, que está tendo boa acolhida de bilheteria
e que merece ser visto.RDF
https://veja.abril.com.br/coluna/e-tudo-historia/napoleao-3-escorregoes-historicos-do-filme-com-joaquin-phoenix/
Ler também:
Reynaldo Domingos Ferreira sobre: o diretor
Ridley Scott e seu filme "Napoleão"
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: ter., 26 de dez. de 2023
REPASSANDO: Ridley Scott admite que não leu nada
para preparar Napoleão e deixou a tarefa “para o
coitado que escreveu o roteiro” - Notícias de
cinema - AdoroCinema
Não é verdadeira essa declaração de Ridley
Scott. Ele leu muito. O roteiro foi lido e
relido por ele e debatido com o roteirista. O
próprio filme - o maior, a meu ver,
acontecimento cinematográfico deste ano, que se
finda, já detentor de uma renda de bilheteria
superior a duzentos milhões de dólares - o
refuta, claramente, ao deixar mais do que claro,
em seus minimos detalhes, que sua realização
resultou de um formidável, e solidário, trabalho
de equipe, principalmente, entre ele, Ridley
Scott, o roteirista, o fotógrafo e o cenarista.
Isso, para nada falar do magnífico elenco de
atores, liderado por Joaquin Phoenix, que seguiu
à risca suas orientações. Tudo está
perfeitamente impresso nas imagens da película,
que, na versão original - não exibida
comercialmente - tem a duração de quatro horas
de projeção, a ser mostrada, em série, na
televisão.
A intenção do realizador - inequivocamente
ressaltada, principalmente, pelos enquadramentos
mais do que depreciativos, que ele nos
proporciona, da figura do protagonista -,
fielmente cumprida pelo roteirista, foi a de
uebrar um mito, criado principalmente pelos
historiadores franceses, e bem provavelmente
pelo clássico - do ponto de vista
e linguagem cinematográfica - filme de Abel
Gance, que, infelizmennte, não conheço. RDF
https://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-1000057355/ |