De: Nova
Acrópole DF
Date: seg., 25 de dez. de 2023
Subject: #83 - Carta para o Papai Noel
"Quando uma criatura humana
desperta para um grande sonho e sobre ele
lança toda a força de sua alma, todo o
universo conspira a seu favor.” –Johann
Goethe
Querido Papai Noel:
Sei que tenho andado meio
silenciosa nos últimos tempos; afinal, minha
última carta foi aos nove anos de idade e,
dentro de três dias, já chego aos 51...
Mas escrevo exatamente para
te provar que essas décadas de
silêncio não significam em absoluto
que eu tenha me esquecido ou desacreditado.
Foi bem difícil, sabe?
Durante grande parte da minha vida, tentaram
me provar que você não existia, e até tive
que esconder essa minha crença.
Confesso que até tentei
desacreditar, mas havia uma imagem
muito forte dentro de mim que não
me permitiu: uma paisagem de neve e frio
absoluto, e um velhinho sábio e generoso com
roupas vermelhas como fogo, no meio de tudo
isso.
Sabe, Papai Noel, apesar de
viver em um país de clima tropical agravado
pelo aquecimento global, algumas vezes,
nesse tempo todo, eu vivi esta
paisagem gelada bem dentro do meu
peito: indiferenciada, indiferente, vazia.
Acostumada a me virar bem no
calor às vezes extremo, confesso que frio
deste tipo me pega sempre desprevenida, e
gela completamente o meu coração. Corrijo: o
gelo nunca foi completo... porque eu sabia
que o senhor se escondia por lá, em algum
canto, ainda que eu não alcançasse vê-lo,
certas vezes.
Mas sentia; sentia o calor
da sua generosidade, via o reflexo
distante de alguma chama de fogo, ouvia os
ecos do sorriso que sempre dizia: “Não
esqueça! Nada é tão grave; nenhum frio pode
me matar! (seguido sempre do indefectível
hohoho, é claro), e isso me enchia (e
enche!) de esperanças.
Depois destes anos de
silencioso diálogo, eu resolvi, veja só,
como recompensa pela minha incansável
confiança, te pedir um presente. Não sei o
que deu em mim; talvez tenha sido o tal
nefasto efeito da propaganda infantil; o
fato é que estou bem convicta disso: quero
mesmo um presente, este ano.
Uma vez que me decidi a
pedir, com cartinha e tudo, começou o
difícil dilema de saber o que pedir, para
aproveitar bem essa oportunidade, pois já
não tenho tantas décadas assim pela frente
e, julgando pela periodicidade das cartas
até agora... talvez não haja outra.
Mas que difícil... não me
falta nada! Não
consegui pensar em nada que eu quisesse
tanto assim ter ou deixar de ter, embora
remexesse o mundo dos desejos de polo a
polo. Desejar é uma obra difícil: temos que
saber o que nos falta para sermos completos,
ou seja, temos que saber o que é um ser
humano completo; a internet não diz. Talvez
haja resposta numa “intranet”, que converse
com nossa própria consciência... mas
esta vive fora do ar.
Mas... espera um pouco, acho
que descobri! Sim, sim, sim, já sei o que eu
quero! Presta atenção, Papai Noel, pois este
é um momento solene! Anote, por favor (não
que eu duvide de sua proverbial memória,
mas, como dizia minha vó, prudência e canja
de galinha....): de presente de Natal, este
ano, eu quero... sua presença.
Muito, muito mais da sua
luminosa presença. Sua luz, mais visível e
perceptível, bem perto de mim. Seu calor,
que prova que neves eternas, dentro de nós,
são um blefe daqueles que,
descuidados, não souberam proteger seus
sonhos mais sagrados, e sopram a
chama alheia, só de birra.
Quero irradiar sua luz, para
que outros saibam; os descrentes e
esquecidos, ao passarem por mim, quero que
tenham dúvidas; os que duvidam, certezas.
Quero irradiar Papai Noel. Quero que, antes
que meu sopro de vida cesse, e minha luz vá
se encontrar com a tua, eu possa ouvir
alguém dizer: “- Papai Noel? Sim, sim, eu
acredito! Basta olhar para aquela senhora
que vai ali: ela anda de mãos dadas com ele
o tempo todo!”
Lúcia
Helena Galvão
Poema:Poesia
de Natal. Cora
Coralina. Poetisa e contista brasileira,
nasceu em Goiás em 1889. Começou a escrever
aos 14 anos. Apesar da vocação para a
escrita, trabalhou por muitos anos vendendo
doces para sustentar a família. E, somente
em 1965, teve o seu primeiro livro
publicado, intitulado "O Poema dos Becos de
Goiás e Estórias Mais".
Artigo:O
Simbolismo da Festa de Natal.Esta
festa é uma reatualização de um culto tão
antigo quanto o mundo. A sua finalidade é
muito importante, pois é um ponto de
encontro entre o visível e o invisível; um
instante de pausa e reflexão que nos permite
fixar-se no tempo e espaço, fazendo deste
instante um elo entre o passado, o presente
e o futuro... Vale a pena conferir na
íntegra.
Vídeo-palestra:Conhecer
os símbolos do Natal é viver o mito com mais
intensidade. A
festa do Natal é tradicional. Comemoramos
desde pequenos e raramente nos questionamos
de onde surgiram os elementos que nos
acompanham há tantos anos: presépio, árvore
de natal, vigílias... Neste vídeo a Profa.
Renata Peluso irá nos guiar por entre esses
símbolos para que possamos viver esta data
com mais consciência!
Filme:Milagre
na Rua 34. 1947.
Kris Kringle (Edmund Gwenn) é contratado
para ser o Papai Noel de uma loja de
departamentos, que diz ser o próprio ícone
natalino, de verdade. A afirmação passa a
preocupar a gerente do local, Doris (Maureen
O'Hara), que pede para realizar exames a fim
de atestar sua sanidade. No entanto, a filha
dela acredita que Kris é, de fato, o bom
velhinho. Disponível no Disney+.
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