Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
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Reynaldo Domingos Ferreira: 
 
Gênio da diplomacia ou criminoso de guerra? Henry Kissinger morre aos 100
 
De: Reynaldo Domingos Ferreira
Date: sáb., 2 de dez. de 2023 às Subject: Fwd: Gênio da diplomacia ou criminoso de guerra? Henry Kissinger morre aos 100
 
REPASSANDO: Gênio da diplomacia ou criminoso de guerra? Henry Kissinger morre aos 100 anos.
 
UM OBITUÁRIO PREVISTO
 
Eis o título da introdução do livro "A Sombra de Kissinger " (Kissinger`s Shadow ), cuja leitura recomendo aos amigos, do aclamado historiador Greg Grandin, editado, no Brasil, em 2017, pela Rocco Editora Ltda, na tradução de Bruno Casotti, em que o autor argumenta, que para entender a crise dos EUA contemporâneos - suas guerras intermináveis no exterior e sua polarização política interna - é preciso também entender quem foi Henry Kissinger, agora falecido, aos cem anos, que ele qualifica como o mais controverso estadista americano.
 
Muitos  outros autores, entretanto - o próprio Grandin lembra isso -, sempre consideraram Kissinger como estrangeiro, pois nasceu em Furth, na Alemanha, em 1923, partindo para os EUA, aos 15 anos, depois de escapar, por um triz, de ser levado, pela Gestapo, como o foi toda sua família, para o campo de extermínio de judeus, em Auschwitz, o que, de certa forma, explica o tirano, sábio diplomata, em que ele se tornou, mais tarde, responsável, por muitas ditaduras, na América Latina, e inúmeras guerras no mundo.
 
 Na referida introdução de seu livro, Grandin diz que "Kissinger é acusado de muitas coisas ruins. E quando ele morrer,seus críticos terão uma chance de repetir as acusações".  E continua: "Christopher Hitchens, que, já se foi, defendeu a ideia de que o ex-secretário de Estado deveria ser julgado como criminoso de guerra."  Muito embora -  é preciso também aqui lembrar -,  tenha sido ele agraciado com o Prêmio Nobel da Paz. 
 
"Mas - prossegue Grandi - há uma longa lista de testemunhas de acusação - repórteres, historiadores e advogados  - ávidos por fornecer informações sobre qualquer uma das ações de Kissinger, no Camboja, Laos, Vietnã, Timor Leste, Bangladesh, contra os curdos, Chile, Argentina, Uruguai, entre outros lugares".

 
Em "Diplomacia " (Diplomacy), considerada sua maximum opus,  editado, no Brasil, em 1997, num volume de mil páginas, pela Editora Francisco Alves, na tradução de Saul S. Gefter, no primeiro capítulo, "A Nova Ordem Mundial", Kissinger ousa dizer, que, no século XX, " nenhuma sociedade insistiu - referindo-se à  americana -,  com igual firmeza, na inadmissibilidade da intervenção nas questõe internas de outros estados, ou sustentou com maior fervor, que os seus próprios valores eram universalmente aplicáveis". Nenhuma outra nação, segundo ele,  "foi mais pragmática na administração cotidiana de sua diplomacia ou mais ideológica na busca das suas convicções históricas e morais. Nenhum outro país mostrou-se tão relutante em envolver-se com outras nações, mesmo quando assumia alianças e compromissos de alcance e objetivos sem precedentes".

 
Imaginemos agora, se a sociedade americana, ao contrário do que Kissinger afirma, em seu livro, que é, de fato, uma monumental obra histórica da diplomacia americana, admitisse intervenção nas questões internas de outros estados,ou que não sustentasse que os seus próprios valores não deveriam ser universalmente aplicáveis!... 
O que seria do mundo?...

 
Mas ele continua: "As peculiaridades que a América atribuiu a si mesma, ao longo de sua história, geraram duas atitudes contraditórias, em relação à política internacional. A primeira é que a América atende aos seus valores através do aperfeiçoamento da democracia em casa, agindo, consequentemente, como um guia para o restante da humanidade; a segunda, que os valores da América impõem sobre ela própria a obrigação de defendê-los em todo o mundo. Dividida entre a nostalgia de um passado incorrupto e o desejo de um futuro perfeito, o pensamento americano tem oscilado entre o isolacionismo e o compromisso, apesar do fato de, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, as realidades de independência terem predominado"

 
Pessoalmente, Henry Kissinger não dava noção de ser o que, na realidade, era, quando o conhecemos, em 1971, à entrada do Salão Oval da Casa Branca, nós, jornalistas brasileiros - muitos dos quais já se foram, como Carlos Castelo Branco, Antônio Nasi Brum, Carlos Machado Fehlberg (Secretário de Imprensa da Presidência da República),  e outros -, encarregados da cobertura da viagem do presidente Médici aos EUA, a convite do presidente Nixon.
 
Cordial, bem disposto e até mesmo sorridente, Henry Kissinger não nos negou um rápido contato, advertindo, porém, que nada falaria de política, mas que gostaria de nos dizer de sua grande admiração pela Seleção Brasileira de Futebol.  E que considerava Pelé, um gênio da bola, como não haveria nenhum outro igual. E foi só!...
 
Logo, os dois presidentes surgiram, na tribuna, para as mútuas saudações oficiais, quando Nixon, bastante maquiado, para aparecer bem, na televisão, proferiu, a frase elucidativa, para aquele momento: "Aonde for o Brasil, irá todo o Continente Sul Americano ". 
E foi mesmo! A ditadura do Brasil se alastrou por todo o Continente.
 
REYNALDO D. FERREIRA
advogado, jornalista, escritor
 

Jornalismo com ética e solidariedade.