De: Nova
Acrópole DF
Date: seg., 12 de fev. de 2024
Subject: #90 - Eis que a morte veio
conversar
"...Vida nada me deves, vida
estamos em paz." –
Amado Nervo
Sempre achei belas frases que
falam sobre a morte, como essa de Marco
Aurélio: "Não é a morte que deves
temer, mas sim o nunca começar a viver”,
ou a expressão latina Memento Mori, que
significa “lembre-se que é mortal”. Essas
ideias comoviam, mas não chegavam a impactar
tanto minha vida cotidiana.
Eis que a morte veio
conversar. Veio primeiro com um diagnóstico:
“Você tem câncer de estômago”. E então se
fez mais presente com a constatação
posterior: “Você tem metástase”. Passei um
tempo na companhia dela, em silêncio
constrangedor. Tinha
vindo me buscar?
Ficamos nesse "climão" por um
tempo. Talvez semanas. E percebi algo
mudando em nossa relação. Primeiro comecei a
aceitá-la: "A morte é algo que todos
que existiram tiveram que encarar.
E todos que existem e existirão também. Faz
parte da vida. Se tiver que ir contigo,
vou". Nesse momento, eu estava debilitada e
achava que não conseguiria aguentar o
tratamento.
Mas então resolvi contestá-la
e aplicar algo que ouvi de uma pessoa
importante para mim: “Se cair, cai de pé”.
Ou seja, "lute até o fim, como a guerreira
que é". E vi que para ter forças
para lutar, precisava de um motivo muito
forte, um sentido de vida claro e
suficiente para mim.
Defini que eu seria um canal
da Vida. Independente do tempo que teria, buscaria
promover a Vida onde estivesse, nas
pequenas coisas. Isso fazia sentido, e
passei a fazer tudo para ficar bem e estar à
serviço da Vida.
Comecei a melhorar a olhos
vistos. Fui me fortalecendo e respondendo
bem aos tratamentos. A morte então
deu um sorriso misterioso e se
afastou um pouco. Eu até me esquecia dela, e
voltava a viver como se não existisse.
Mas vira e mexe a morte
comparece novamente para nosso bate-papo.
Esses dias tive um sangramento no estômago,
e lá estava ela. Como já estou mais
familiarizada com sua companhia, sigo os
passos conhecidos: aceito-a, decido
o que fazer dali pra frente, e renovo meus
votos com a Vida. A morte tem
parecido satisfeita, pois encerra a sessão
se afastando lentamente.
Sabe que estou gostando de
seus conselhos? Uma das coisas que descobri,
na prática, é que a morte não é
inimiga da Vida; mas está a seu
serviço, nos mostrando seu valor.
Júlia Camarotti
Poema #1: A
Vida.Cora
Coralina. “Há tantas definições na vida... /
bonitas, tristes, expressivas, inexpressivas
/ A vida. / Alguns já definiram a vida como
um mar / ...O rio é a minha definição da
vida / O rio imenso, farto...” Vale a pena
conferir na íntegra.
Poema #2: Em
paz.Amado
Nervo. “... Julguei sem fim as longas noites
de minhas penas; / mas não me prometeste
noites boas apenas, / e, afinal, tive
algumas santamente serenas… / Amei e fui
amado, o sol beijou-me a face. / Vida, nada
me deves! Vida, estamos em paz!” Vale a pena
conferir na íntegra.
Livro:Caminho
para a vitória.Delia
Steinberg Guzmán. O que nos motiva: alcançar
os êxitos que o mundo considera a marca do
sucesso, ou alcançar uma felicidade
duradoura baseada em saber quem somos e dar
sentido ao que fazemos? Reflexões sobre o
medo, as virtudes, a vitória, são uma
constante para quem quer ser, em alguma
medida, um herói, e é sobre o que a autora
discorre.
Artigo:A
vida e a morte. Trecho
do livro “Os jogos de Maya”, de Delia
Steinberg Guzmán. “... Vida e morte são duas
faces de uma mesma moeda, e dois momentos de
um jogo perpétuo que repete os seus
instantes, produzindo aquilo que chamamos
ciclos. Tudo na Natureza joga em círculos. O
dia e a noite, o sol e a lua, o verão e o
inverno, o sono e a vigília, a infância e a
velhice…” Vale a pena conferir na íntegra.
Pintura:Cravo,
lírio, lírio, rosa. John
Singer Sargent. Feita inteiramente ao ar
livre durante o verão, ao longo de muitos
crepúsculos, esta bela obra de Sargent
expressa a beleza da natureza, capturando a
magia e inocência da cena. Através de sua
excelente técnica, o artista encaixa as duas
meninas perfeitamente entre as belas flores,
enquanto preparam lanternas para iluminarem
o céu. É a plena expressão da vida em seus
vários momentos e detalhes.
Música:Sinfonia
No. 8, Op. 88.Antonín
Dvorák.Influenciado
pela música popular eslava, Dvorák compôs
esta bela obra, capturando de forma bela as
variações de ânimo e emoções que ocorrem ao
longo da vida. A obra é alegre e otimista,
em contraste com outras sinfonias do
compositor e do período. A obra apresenta
variados estados de ânimo, que vão desde
imagens pastorais, danças e marchas, até
momentos altamente dramáticos.
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