LEGISLATURA 57
Embora os prognósticos da equipe
econômica do Governo apontem um futuro
otimista, com déficit zero para 2004,
muitos economistas não pensam desta
forma. Gabriel Leal de Barros é um
deles, chefe da Ryo Asset. O mercado
espera um rombo de 0,8% do PIB. E um dos
principais problemas é a ênfase da
política econômica na arrecadação, o que
dependeria de um ambiente em constante
desenvolvimento do crescimento. Uma
solução mais estrutural, diz ele, seria
atacar o gasto. Reduzir despesas. E ele
fala em um aspecto bastante perverso do
orçamento público, qual seja –
“múltiplas capturas que existem de
pequenos grupos organizados, que extraem
da maioria desorganizada benefícios
privados do setor público.” Eis, a nosso
ver, o X da questão. (“Continuamos com
problemas fiscais” - Correio Braziliense,
13 de fevereiro,2024).
Foi assim com a desoneração de 17
setores da economia, sem uma análise
séria do problema e a repetição de um
discurso pobre para justificar o
injustificável. Barros cita ainda a
evolução da impositividade e o volume
das emendas parlamentares. Assunto sobre
o qual tenho me referido constantemente
e há muito tempo. Além, diz ele, dos
privilégios para múltiplas carreiras do
setor público e áreas sociais e de
saúde. E um aspecto importantíssimo: a
ineficiência das Políticas Públicas. Com
os gastos “brutalmente ineficientes”.
Além da previsão do gasto direto com as
eleições. Para Barros, os riscos que o
país corre são consideráveis. Incluindo
o embate entre o governo e o
Legislativo.
Por quais motivos? Porque ao Congresso
não interessa a redução de despesas.
Primeiramente, porque grande parte de
parlamentares comercializam as relações
políticas, trocando seu voto em projetos
de governo por benefícios. Além de
tornar as emendas parlamentares
impositivas e com agenda de liberação
determinada pelo Parlamento. Com uma
previsão de gastos de mais de R$ 53
bilhões para este ano. Ora, estamos
falando da utilização de recursos
públicos para propaganda eleitoral
gratuita, através de escolhas
personalistas, algumas sem fiscalização
e amparo técnico, podendo servir à
corrupção. Além de ser um mecanismo
profundamente antidemocrático em sua
essência. Primeiramente, porque
candidatos à eleição para o Parlamento
não contam com esses recursos. Eles
concorrem em pé de desigualdade. Em
segundo lugar, porque temos mais de 5
mil municípios e menos de 600
parlamentares e suas escolhas. Em
terceiro lugar, são recursos públicos
dos impostos de toda a sociedade,
apropriados por um grupo organizado,
como forma de aumentar seu capital
político e poder. E, finalmente, os
responsáveis pela gestão de recursos são
o Governo Federal, os Governadores e os
Prefeitos. A função do Parlamento é
fiscalizar o emprego dos recursos,
O trabalho de Marcos Mendes, “O gasto do
Congresso Nacional em perspectiva
internacional”, tenta confrontar o
resultado apresentado pela Transparência
Brasil, ao considerar o Parlamento
brasileiro como o mais caro do mundo.
Ele conclui que o Congresso Brasileiro
fica em segundo lugar em termos de
excesso de gastos. Afirmando que há
espaço para enxugamento desses gastos,
uma vez que se encontram 20% a 31% acima
da média estimada para o país. Mas ele
considera que o principal fator de
despesa é a prodigalidade dos gastos com
a previdência social dos servidores
públicos. Incluindo aposentados e
pensionistas do Congresso. Será? Não
haveria um outro tipo de prodigalidade?
O Portal da Câmara nos informa alguns
dados referentes à legislatura 57, a
atual, do ano de 2024, referentes aos
meses de janeiro e fevereiro.
GEAP custeia
despesas com o mandato, como passagens e
conta do celular. No entanto, cerca de
47% de gastos foram com a divulgação da
atividade parlamentar. Legislatura 57 –
R$ 9.321.724,70. Custear conta de
celular? Em tempo de rede sociais quase
50% em divulgação?
Verba de Gabinete –
cada deputado recebe R$ 118.376,13 por
mês para contratar, diretamente, até 25
secretários parlamentares, em Brasília
ou nos estados de origem do deputado,
com salários entre R$ 1.408,11 a R$
16.640,22. Lembrando que os gastos
trabalhistas e previdenciários são pagos
pela Câmara Federal. Não seria uma
aberração em matéria de administração
pública? Banalizando a apropriação
corrupta de salários? Legislatura 57
(janeiro): R$ 58.302.606,64
Auxílio Moradia:
Valor de R$ 4.253,00, para o parlamentar
que não deseja (??) ocupar um dos 447
apartamentos funcionais. Não deseja e
recebe? Legislatura 57: R$ 379.255, 63
Viagens Oficiais:
Diária em viagens nacionais R$ 524,00.
Para países da América do Sul, US$
391,00. Para outros países, US$ 428,00.
Legislatura 57 – R$ 114.744,04
Remuneração dos deputados:
Legislatura 57- R$ 44.008,52. Enfim,
nos meses de janeiro e fevereiro de
2024, o total de gastos diretamente
relacionados à atividade parlamentar da
Câmara Federal alcançou R$ 68.118.331,01
O Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento, Justiça e Equidade
informava, em 17 de junho de 2019, “que
cada senador custou R$ 570 mil por mês
aos cofres públicos. Os 81 senadores
consomem juntos, R$ 557 milhões todos os
anos.” Valor que na Legislatura 57,
início de 2024, pode ser diferente. Para
maior! Juntemos o Fundo Eleitoral que
alcançou a cifra de R$ 4.9 bilhões. Não
conseguimos o valor total do Fundo
Partidário.
Aparentemente, o Congresso Nacional
montou uma estrutura de privilégios e
benefícios que o tornou vampiro dos
nossos impostos e parasita das lutas
políticas, enquanto partidos. Vivemos
hoje uma escandalosa privatização dos
recursos públicos, aumentando
sensivelmente a corrupção nos negócios
partidários? Em lugar de fornecer
recursos do Orçamento Federal não se
estruturou uma severa fiscalização dos
gastos de campanha e administração dos
partidos?
Enquanto isso, o Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), viu sua verba
reduzida de R$ 61 bilhões para R$ 55
bilhões. Reduzindo também a esperança de
emprego para uma grande parcela da
população na pobreza, através das obras
públicas a serem finalizadas. Outras
Políticas Públicas precisam de recursos.
Onde o compromisso com a redução da
injustiça social, se mais de R$ 50
bilhões servirão para a propaganda
gratuita dos parlamentares? Na contramão
do próprio conceito de democracia, que
tanto dizem prezar?
As palavras são de Carolina Maria de
Jesus em seu livro “Quarto de Despejo”.
Ao responder à pergunta se não tinha
mais fé, ela afirmou: “Não, meu filho. A
democracia está perdendo os seus
adeptos. No nosso país tudo está
enfraquecendo. O dinheiro é fraco. A
democracia é fraca e os políticos
fraquíssimos. E tudo que está fraco
morre um dia...Os políticos sabem que eu
sou poetisa. E que o poeta enfrenta a
morte quando vê seu povo oprimido.” O
livro foi lançado em 1960. Carolina
diria o mesmo hoje. (02/2024/luiza)