Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO
Date: seg., 4 de mar. de 2024
Subject: irrecorrível

O IRRECORRÍVEL!

“Somos reativos e tendemos a intervir apenas quando as coisas estão piorando", escreveu Carter. E o que subestimamos é a velocidade com que as coisas ruins se movem.” Do livro “A Premonição– uma história da pandemia” de Michael Lewis. Trata-se de uma narrativa excelente, de não ficção, que contrapõe “os céticos, os que estudam as pandemias e os que estão dispostos a examinar com firmeza os piores cenários”.

Estamos vivendo uma epidemia de dengue e a covid está voltando. Quanto à dengue, com a devida vênia, é produto de governos ineptos e de uma cultura arraigada em solo brasileiro que é a seguinte: escreve-se o planejamento de uma política com requinte. Pois é preciso impressionar. Mas não existe, com exceções, a obrigação, o dever de reavaliá-la constantemente. Assim, o tempo passou e não coube na cabeça de cientistas, de gestores e técnicos, investigar as condições de armazenamento de água ou o tratamento do lixo e limpeza de quintais e piscinas. Ou a velocidade de transmissão dos mosquitos. Os cuidados preventivos, se tomados todos os anos, não evitariam a situação que passamos hoje no DF e no resto do Brasil? Se alguém me provar o contrário, peço perdão humildemente.

Por que o serviço de lixo não prevê e não tem local para o descarte de sofás, geladeiras etc.? Ele funciona bem nas comunidades periféricas? A Agência de Proteção contra este tipo de doença, reativou campanhas de educação, quanto às condições de proliferação do Aedes? Com carros de som bradando diariamente e, como estratégia, apelando para o coração dos moradores? Falando da possibilidade de morte dos entes queridos, dos males causados pelo mosquito, das estatísticas de internação, do sofrimento, dos males que poderiam continuar no corpo por um longo tempo? Quantas vezes foi fiscalizado o trabalho dos agentes de saúde nas comunidades, a inspecionar o acúmulo de água parada? Ministério da Saúde, Secretarias de Saúde estaduais e municipais foram omissas, despreparadas, ineficientes. Com todo o respeito.

Assim com a educação e a triste realidade de “500 mil jovens acima de 16 anos desistindo a cada ano do ensino médio no Brasil. (“Ensino médio, uma tragédia que tem cura”, Correio Braziliense, 04/3). Tem cura? Como são tratados os professores do ensino médio e, principalmente, a gestão das escolas no Brasil? Qual o salário e a importância do professor na sociedade brasileira? Quantos cursos de desenvolvimento profissional, atualização em técnicas de ensino e gestão escolar foram realizados?

Como explica Lilia Moritz Schwarcz, o patrimonialismo é uma relação viciada, que parte do princípio de que o “Estado é bem pessoal, “patrimônio” de quem detém o poder”. Creio que em lugar de crescermos politicamente, submergimos no patrimonialismo. O qual, junto com a corrupção, segundo a autora, contribui para tornar vulnerável nossa República.

(“Sobre o autoritarismo brasileiro”, pág.65). Ao mesmo tempo, acredito que vivemos uma Partitocracia, com os Partidos políticos gananciosamente ampliando seus espaços de poder. Se apossando, por exemplo, de recursos do Orçamento Federal, sob a gestão do Executivo. Recursos que faltam aos Ministérios, de pires nas mãos diante dos parlamentares. Inacreditável! Manipulando a pauta ética, escolhendo os temas que desejam e ignorando outros que têm o apoio da sociedade, como a extinção do foro privilegiado, já aprovada no Senado. E, recentemente, a PEC da Impunidade. Conhecida como PEC da demência.

Enfim, o bem público é apropriado indevidamente? Quanto às emendas, querem torná-las todas impositivas e com agenda determinada. Elas são fruto de decisão pessoal de cada parlamentar. Paroquiais porque atendem a seus interesses de aumentar poder político em suas comunidades. Antidemocráticas porque não atendem a todos e constituem maior poder de barganha diante de candidatos que não possuem mandato. São, portanto, instrumentos de estagnação da classe política. De falta de oxigenação do Congresso Nacional. Servindo ainda à corrupção, como prova a história. Este ano houve um considerável aumento de recursos. No ano passado, para as de Comissão, destinou-se um total de R$ 7,6 bilhões. Substituindo o Orçamento Secreto. Este ano o valor aumentou para R$ 11 bilhões. A previsão de gastos com as emendas para 2024 é de R$ 56 bilhões. Assim com os Fundos Partidário e Eleitoral, estimuladores do parasitismo partidário, do enriquecimento ilícito e do coronelismo urbano. E se estes recursos estivessem diretamente com o Ministério da Educação e da Saúde?

Michael Lewis afirma que “no momento em que uma doença infecciosa surge, as decisões imploram para serem tomadas.” E ainda: “pecados por omissão podiam ser contornados, mas deixavam mortos.” (pág.59) Assim como a omissão diante do patrimonialismo, da ineficiência e da corrupção em instituições brasileiras. (03/2024/luiza)

 

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