J.R. Guzzo, em 23/03/2024 “O Supremo Tribunal
Federal, a quem a Constituição impõe a obrigação
de funcionar como o protetor máximo das leis no
Brasil, tornou-se uma infâmia mundial. Não se
trata de um ponto de vista, ou de desagrado em
relação às decisões do STF, como os ministros
repetem todas as vezes em que são criticados.
Trata-se de constatar fatos objetivos,
indiscutíveis e cada vez mais perversos – ou na
fronteira daquilo que a psiquiatria descreve
como transtornos mentais de natureza patológica.
Não tem nada a ver com política. Que dúvida
pode haver sobre a conduta de um Supremo
Tribunal de Justiça que condena uma professora
aposentada de 71 anos de idade, sem nenhum
antecedente criminal, a passar os próximos 14
anos de sua vida na cadeia – pelo crime de
“golpe de Estado”? É demência. Não há a menor
possibilidade material de uma pessoa assim dar
um golpe de Estado, ou qualquer coisa
remotamente parecida. O que há é uma desgraça
para a sociedade brasileira.
Fica tudo mais alucinante quando se olha para
os detalhes. A acusada estava em liberdade
provisória e teve permissão para retirar a
tornozeleira eletrônica que o STF colocou nela,
porque precisou fazer uma cirurgia delicada por
conta de uma fratura do fêmur esquerdo. A
autorização foi dada no dia 4 de março; no mesmo
dia, a professora foi condenada a 14 anos de
prisão, mais uma multa de R$ 14 mil. Três dias
depois da operação, a polícia entrou no seu
quarto num hospital do ABC para lhe colocar de
novo a tornozeleira. É como ela está hoje, mais
a sua diabete, hipertensão e problemas
circulatórios, à espera de ser mandada de volta
à cadeia para cumprir pena até os 85 anos de
idade. Qual o propósito racional de uma coisa
dessas?
O STF, como se divulgou há pouco, manteve na
prisão, por onze meses inteiros, um morador de
rua de Brasília, também ele acusado de “abolição
violenta do Estado de Direito”. Já tinha
condenado um barbeiro e um vendedor ambulante.
Já tinha deixado morrer na cadeia um preso que
precisava receber tratamento médico urgente,
negado pelo ministro Alexandre de Moraes. Qual
vai ser a próxima?
Essas depravações são, em geral, recebidas
com passividade; o horror se tornou banal no
Brasil. O governo, a esquerda extremista e o
próprio STF vão além disso. Ficam enfurecidos
com as vítimas, culpam a elas pelos absurdos que
lhes são impostos e não admitem que se fale em
anistia. Uma hora o mundo vai começar a saber o
que é essa democracia do sadismo que foi imposta
aos brasileiros. Aliás, já começou – Elon Musk,
em pessoa, contou o que está acontecendo para os
seus 150 milhões de seguidores no X.
“Preocupante”, diz ele. Não vai parar por aí.” |