Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
Reynaldo Domingos Ferreira: POEMA DA MENTE QUE MENTE



De: Reynaldo Ferreira <reydferreira@gmail.com>
Date: sex., 3 de mai. de 2024


POEMA DA MENTE QUE MENTE

COMO SE IDENTIFICA ESSA MENTE COM
O MEU PERSONAGEM LULLIUS REI, EDITADO,
EM 2010. SENÃO, VEJAMOS:

DOM PAGLIARi
Sede prudente,
Lullius, nosso Rei
Sede prudente.
Pois quero,
e preciso avançar,
neste momento,
sobre a verdade!...

LULLIUS REI
(Irado)

Que verdade?
Tenho horror a verdades!...
Importuna-me esta palavra,
que agora virou febre,
em nosso Reino:
Satyagraha,
formada por duas outras,
que, em sânscrito,
querem dizer:
Satya - verdade
Agraha - busca.
busca da verdade!...
O autor desta peça sabe disso.
E sabe mesmo que há um dito,
entre os russos:
o archote da verdade
queima a mão de quem o leva!....
E como queima!...
Mas não vai queimar a minha.
Aprendi isso na minha viagem a Moscou!
Oh, são tantas as viagens!...
Tantas as viagens!...

(Tenso, alisa a barba, desde o canto da boca,
até o queixo. Depois, coloca a máscara no rosto,
e a retira logo, em seguida.)

A verdade, Dom Pagliari,
é quase sempre
de tendência destrutiva,
enquanto a mentira
é idealista,
de tendência construtiva...
O grande problema
é ser muito vullnerável.
Pois, como já observou alguém,
que, até por conveniência,
não me lembro,
se for muito repetida,
ou por muitas vezes dita,
acaba virando verdade!...
É um perigo!...
É uma desgraça!...

( Em outro tom)

Pois eu,
esperando, como estava
por boas mentiras,
por boas hipocrisias,
safadezas, e outras coisas mais,
para afastar, de vez, o escarcéu
do duque Corifeu,
e tu vens, Dom Pagliari,
me obrigar a dizer
frase de magistrado
do Reino antigo dos gregos?
Ora!...

DOM PAGLIARI

Não é isso,
Lullius nosso Rei!...

LULLIUS REI

(Sem ceder a deixa a Dom Pagliari)

Já não basta o sacrifícioo
de aturar os nossos
magistrados?...
Eu, quando olho,
para o outro lada da praça,
só não sinto mais engulhos
porque o cheiro de comida,
de linguiça e de chouriço,
deste nojento palácio,
a mim obriga,
todos os dias
tomar goles,
e mais goles,
de uísque,
porque nem cerveja
adianta mais!...

P.S. Autor desta peça, que é uma paródia de "Édipo Rei ", de Sófocles, lamenta profundamente, que neste país, não existam atores e diretores, corajosos, competentes, para encenarem um texto, como este seu!... O teatro brasileiro é lixo só.

 

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