Tem gente falando dos “desafios” que Magda Chambriard terá de enfrentar como nova presidente da Petrobras.
O desafio importante para quem ocupa essa posição, possivelmente o único, é resistir à instrumentalização da petroleira para fins políticos.
Como Magda foi escolhida com o endosso de Rui Costa, pela proximidade com Dilma Rousseff e por ter crenças “nacionalistas”, é forçoso concluir que ela não gastará um segundo de seu tempo (muito bem remunerado) tentando domar a sanha de Lula para mandar na estatal.
Só Lula manda
O recém-demitido Jean Paul Prates saiu atirando contra seus desafetos no primeiro escalão do governo – o próprio Rui Costa e o hiperambicioso ministro das Minas e Energia Alexandre Silveira. Disse que eles se “regozijaram” com a sua demissão.
Não duvido que seja assim. Mas a pressão desses adversários não deve ser superestimada. Sobretudo a de Silveira, que não é petista. Ninguém derrubaria um presidente da Petrobras respaldado por Lula. Supõe-se que Magda tenha equacionado a “questão Silveira” antes de sentar na cadeira.
Que ninguém se engane: Prates só caiu porque desagradou a Lula.
No episódio do bloqueio à distribuição de dividendos, o agora ex-CEO recusou-se a validar a escolha do Palácio do Planalto. Não aderiu ao desejo de Lula, para quem acionistas minoritários não são gente que decidiu confiar numa empresa, mas apenas e tão somente “o mercado financeiro”, essa abstração.
Prates foi defenestrado por cometer o erro de se posicionar contra uma ordem de Lula relativa à Petrobras, o fetiche máximo do chefão petista.
Em todo o resto, ele foi um cordeirinho. Mesmo assim, foi chutado.
Prates, o cordeirinho
Como Lula prometeu na campanha eleitoral, Prates “abrasileirou” o preço dos combustíveis, Em outras palavras, desmontou a política de paridade de preço de importação, não para aperfeiçoá-la (o que seria possível) mas para definir reajustes sem critérios transparentes.
Atenção, esse foi o verdadeiro sentido do “abrasileiramento”: a substituição de um critério claro por cálculos obscuros, de conveniência política.
Prates também retomou a agenda de investimentos que no passado, sob governos petistas, foi sinônimo de corrupção e perdas financeiras para a Petrobras.
Em meados de março, ele celebrou o encerramento da licitação que propicia a retomada das obras na refinaria de Abreu e Lima, símbolo máximo do esquema de cartel e desvio de dinheiro público desvendado pela Lava Jato.
Vencedoras do certame, por meio de subsidiárias, as empreiteiras Andrade Gutierrez e Novonor (a eterna ex-Odebrecht) puderam voltar ao local de seus crimes.
Pisar no acelerador
O que Magda Chambriard precisa fazer? Pisar no acelerador. Usar o peso mastodôntico da Petrobras para tirar do papel mais obras, mais investimentos.
Talvez o desastre ambiental do Rio Grande do Sul tenha tornado difícil neste momento fazer avançar a exploração de petróleo na foz do Amazonas, dado o estigma anti-ecológico que a empreitada carrega.
Magda deverá tirar do papel em breve até mesmo o incentivo eternamente fracassado a uma indústria naval, de plataformas e de sondas, que faça uso prioritário de conteúdo nacional.
Isso, sem se importar com o fato de que nem secou ainda a tinta do pedido de falência da fabricante de sondas Sete Brasil, outro delírio/falcatrua petista desmascarado pela Lava Jato.
Alma de intervencionista
Como os interesses do governo e da poderosa Federação Única de Petroleiros (FUP) estão em grande parte alinhados, Magda Chambriard não deverá encontrar grandes resistências internas na Petrobras. Ela mesma tem uma longa história profissional na empresa, o que ajuda.
Se entendeu direitinho a missão e beijou a mão de Lula, a nova presidente da Petrobras não tem desafios de monta a superar. No máximo, driblar algumas regras internas de conformidade e ignorar os interesses dos acionistas minoritários, tratando-os como inimigos.
Para quem tem alma de intervencionista, está fácil. |