Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: Eva Cassidy - A ALMA QUE CANTA!

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: dom., 16 de jun. de 2024
Subject: Eva Cassidy

A ALMA QUE CANTA!

Há muito mais do que o simples cantar. Há muito mais do que uma interpretação diferente para uma música executada por milhares de cantores em todo mundo. Na verdade, o mundo parece parar enquanto Eva canta. E seus melancólicos olhos passeiam em torno sem se fixarem em nada. Imersos nos sentimentos que se espalham pelas diferentes entonações, pelos voos atrevidos de seus agudos e a ternura da voz que ousa experimentar novos caminhos. Sem, contudo, perder o rumo.Ela suspeitava que sua vida seria breve? Que não teria oportunidade de ver a admiração que causava com seu canto? Muito além dos lugares onde se apresentava? Imaginaria que sua voz correria o mundo, comovendo a muitos? Levando-os para as mesmas paragens da finitude, dos limites, da solidão, da melancolia? E da beleza incontida?Eva cantava com uma liberdade nostálgica. Sem preocupação com a performance, com os resultados, com a impressão que poderia causar. Seu canto, um momento de infinita ternura, ecoa como a expressão de sua personalidade e circunstâncias, de sua timidez e força. Força ao recusar contratos que lhe impunham a obrigação de interpretar um só gênero de música. E seu profissionalismo e responsabilidade permitiram que a sensibilidade de sua voz inspirasse seus ouvintes, com a coragem de ousar sem limites. Como na aventura de “Over the Rainbow.” Onde encontra caminhos nos quais seus agudos se irradiam com naturalidade. E transbordam em formas que modificam o texto musical estabelecido, para se aventurarem em outras paisagens. Levando consigo a emoção de quem compartilha seu canto.

Ouvindo Eva mais uma vez, viajando em sua interpretação e voz, me convenço de que alguns de nós sabem o que a vida nos dará ou retirará. De alguma forma, é como se a alma antevisse a realidade, que poderá significar os contornos do irrecorrível, um sofrimento sem nenhum sentido, o prenúncio do fim. Como uma sombra que passa arredia e ligeira pelas entranhas do coração. Na angústia profunda da percepção intuitiva sobre o que nos reserva o futuro. A trágica noção da transitoriedade e dos estreitos limites da existência. Aconteceu assim com Eva? Ela morreu jovem, em 1996 aos 33 anos de idade, no rápido transcurso de um câncer descoberto em estágio incurável. Sem saber da emoção que levaria a milhões de pessoas ao ouvirem sua interpretação, nas músicas de álbuns que alcançaram sucesso após sua morte.

Quem passou por importantes perdas na vida reconhece essa melancolia. E a coragem de ousar porque escolheu a liberdade de se expressar livre de amarras e em mundos desconhecidos. E, mais do que nunca, em contato com sua alma. Da qual recolhe o melhor e nos concede, gentilmente, a possibilidade de nos aproximarmos através de seu canto. (06/2024/luiza)

 

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