Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: a obrigação de sermos cuidadosos com as palavras

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qua., 19 de jun. de 2024

LÁ VAMOS NÓS!

Por todos os santos deuses, é tão difícil assim tentarmos ser civilizados? Altos cargos não nos eximem, ao contrário, nos obrigam a sermos cuidadosos com as palavras. Não entre nós. Aqui, na pátria mãe, vivemos ainda no tempo da presunção, da onipotência, da insensatez dos boquirrotos. Então, se agride com facilidade qualquer autoridade. No caso, o Presidente do Banco Central, dr. Roberto Campos, eleito pela comunidade internacional o melhor do mundo. E por quais motivos o Presidente Luiz Inácio agrediu essa autoridade? Porque ousou comparecer a um jantar em sua homenagem, oferecido pelo governador de S. Paulo, Tarcísio de Freitas. Que tem possibilidades de se lançar candidato a Presidente do país nas próximas eleições. O S.r. Luiz Inácio, nosso presidente, afirmou que o Presidente do Banco Central agiu politicamente e seu propósito é acabar com a economia do Brasil, por manter os juros em um patamar considerado inviável pelo pessoal do governo. Como se um profissional altamente qualificado, reconhecido mundialmente por sua competência, fosse colocar sua atuação em jogo por motivos políticos. Ainda mais em relação à taxa de juros, cuja variação depende de vários fatores e não é produto de uma decisão monocrática.

Mesmo porque os planos do Ministério da Fazenda subestimaram o corte de despesas, enfatizando o aumento de receitas. Sendo que é impossível conviver com tantos subsídios, isenções, desonerações e o diabo a quatro. Por exemplo: Estado laico não tem que subsidiar Igrejas e suas atividades. Faz caridade quem pode. É um absurdo também conceder benefícios a 17 setores da economia sem um estudo sério, a fundamentar tal decisão, que retira do Orçamento Federal R$ 546 bilhões. A previsão de recursos para as emendas parlamentares em 2024 alcança R$ 53 bilhões. Para quem quiser verificar, este total é muito maior do que o Orçamento do Ministério do Meio Ambiente e da maioria dos Programas governamentais para a população mais pobre. Sendo que parte dos recursos podem ir para a corrupção. Recursos indevidamente empregados para a propaganda individual. Uma agressão ao processo democrático em sua substância: na escolha da distribuição dos recursos e no privilégio de exercê-la. Existem ainda os supersalários, as viagens desnecessárias do imenso número de ministérios. Para as quais os órgãos de fiscalização deveriam estar atentos.

Quanto às viagens, agora é moda a turma privilegiada da alta burocracia brasileira viajar constantemente para o exterior, participando de eventos onde discutem a situação do mundo e do Brasil. Lá fora. Inventam e chefiam estes eventos o Sr. João Dória nos EUA e creio que o Ministro Gilmar Mendes, em Portugal. Quem financia as passagens e estadias? O Estado? Empresas privadas também podem pagar passagens de participantes. É moral e legal Ministros do STF viajarem financiados por elas? Ao contrário do que penso, para minha surpresa, o Dr. Luiz Barroso concorda com a prática, segundo entrevista no Roda Viva. O Correio Braziliense de hoje informa que a turma já se prepara para o XII Fórum Jurídico de Lisboa: “Avanços e recuos da globalização e as novas fronteiras: Transformações jurídicas, políticas, econômicas, socioambientais e digitais”. Quem promove? O IDP, Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, fundado por quem? O Ministro Gilmar Mendes. Com quem, aliás, em tempos remotos, compartilhei uma primeira classe em um voo Portugal/ Brasil. Provavelmente, a minha primeira e última primeira classe.

 Dizia Brás Cubas em relação ao seu ambiente familiar que sua educação se caracterizava pela vulgaridade de caráter, amor das aparências, rutilante frouxidão da vontade e domínio do capricho. E fatos de sua trajetória demonstravam sua trivialidade e presunção. Machado de Assis, autor desta obra prima, estaria a fazer um julgamento da sociedade brasileira, tal como aparecia naquela época? A questão é: mudamos? Nos tornamos melhores? Ao final de suas análises, Brás Cubas, com a franqueza que ele afirma é a primeira virtude do defunto, afirma: “Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação” (pag.69). Para completar, adiante esclarece: “desta terra e deste estrume é que nasceu esta flor.” (06/2024/luiza)

 

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