Os memes sobre o ministro Taxadd, a versão popular do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, viralizaram nas redes sociais nos últimos dias, mas nem todo mundo está rindo com clássicos instantâneos como “Taxando na Chuva”, “Taxando o pobre adoidado”, “O taxador do futuro” e “Querida, taxei as crianças”.
O mau humor é particularmente notável pelas bandas do Palácio do Planalto.
Os governistas dizem que o deboche com a sanha arrecadatória do governo é injusto. Alguns se arriscam até a insinuar que há uma trama diabólica por trás da confecção de memes que parodiam filmes, séries, personagens e demais ícones do mundo do entretenimento.
O advogado-geral da União, Jorge Messias, compartilhou no X uma notícia sobre o meme “Taxa Humana”, estampado em telão da Times Square, em Nova York, e chegou a questionar:
“Quem financia a indústria dos memes? Seriam os mais humildes, contemplados na reforma tributária? Ou seriam os mais ricos, alcançados pela tributação depois de muitos anos de benefícios? Vale a reflexão. Acho que os mais pobres não gastariam seus recursos atacando quem os defende. Vamos aprofundar a justiça fiscal com firmeza e correção.”
Ímpeto persecutório
O resmungo do AGU ilustra o ímpeto persecutório dos lulistas, a tentativa de desqualificar como conspiração as críticas ao aumento dos impostos feitas por pagadores de impostos, a omissão das taxações que também atingem os pobres, e a tentativa populista de dividir a sociedade jogando pobres contra ricos, como se o governo Lula não viesse — e vem — articulando medidas favoráveis a empresários bilionários que confessaram suborno praticado durante outras gestões petistas, como os irmãos Batista e empreiteiros do petrolão.
A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), também saiu em defesa de Haddad, ou melhor, do governo.
“O que estão compartilhando sobre o ministro Fernando Haddad não é meme, é material de desinformação. A verdade é que a carga tributária no governo Lula não aumentou, como explico ponto a ponto para vocês neste vídeo.”
Gleisi se refere a 2023 no vídeo, desconsiderando, como Messias, a sanção da taxa das blusinhas, que derrubou a isenção para compras do exterior menores de 50 dólares, e o retorno do DPVAT.
Mas o discurso vitimista do governo tem encontrado reverberação até na imprensa.
Operação?
O repórter e comentarista Valdo Cruz, da Globonews, deu sua opinião ao vivo na emissora de TV sobre o caso, ecoando a narrativa da advocacia lulista e defendendo até que a “operação” dos memes seja “proibida”:
“É humor e você ir contra isso não é muito fácil. Agora, neste caso, a quantidade de peças produzidas e distribuídas, postadas nas redes sociais nos últimos dias, mostra que é uma coisa profissional.
Nessa situação, se você consegue identificar a origem, eu acho que, no futuro, você precisa regulamentar isso. Porque acaba virando uma operação para desmoralizar uma pessoa. Bom, é claro que o Haddad não vai se curvar por conta disso. Não vai ficar ali deprimido por conta disso.
Mas esse é um tipo de operação que tem de ser proibida, na minha opinião. Porque, se você faz uma campanha dessa, desqualificando uma pessoa nesta intensidade, isso tem um custo para aquela pessoa que acaba sendo atingida por isso.”
“Não estamos preocupados”
Valdo citou relatos de integrantes da equipe econômica de que “não estamos preocupados” e continuou:
“Mas eu acho que deveriam estar preocupados, sim. Porque eles falaram: ‘olha, o que o ministro produziu vai exatamente no sentido contrário’. Tudo bem, tem a taxação das comprinhas. Eu acho que tinha que taxar mesmo. É correta essa taxação. Agora, não dá pra não se preocupar com isso. É preciso tentar identificar a origem pra proibir, pra evitar que futuros ataques sejam feitos. É a minha opinião.
Eu acho até que isso tem que ser regulado. Você não pode, de repente, deixar que alguém resolva fazer uma campanha contra o Thomas, vai lá e quer destruir a reputação do Thomas. Não vão conseguir, né? Mas tentam. Você tem que descobrir quem está por trás disso. Quando é só um meme aqui, uma coisinha ali e tal, ok, faz parte do mundo aí. Aí [no caso dos memes sobre Haddad] não, é algo coordenado, produzido, que custou dinheiro isso aí. Inclusive tava na Times Square, né? Veicularam lá.”
40 gramas de meme?
Não sabemos se Valdo Cruz tem ideia da agilidade com que qualquer jovem com conhecimento mínimo de edição de imagem consegue fazer, até no celular, paródias de cartazes virtuais de filmes, trocando rostos, títulos e subtítulos. Nem se ele notou o desafio estabelecido a cada enxurrada temática de memes de que um supere o outro em inventividade e qualidade.
Tampouco sabemos qual quantidade corresponde a “um meme aqui, uma coisinha ali e tal”, ou seja, a cota permitida num projeto de regulação das redes sociais à moda Valdo (40 gramas de memes, talvez?).
Sabemos, porém, do incômodo do governo Lula, que não consegue emplacar sua própria onda, e ainda teve suspensa, graças ao jornalismo de O Antagonista, uma megalicitação que injetaria 197 milhões de reais nas redes sociais do Planalto para turbinar sua propaganda.
Sabemos, também, que ironizar medidas oficiais de um ministro de Estado, sem qualquer componente de calúnia, injúria, difamação, ou ameaça, não configura crime algum previsto em lei, mas, sim, um exercício das liberdades de expressão, crítica, oposição e imprensa, resumido na velha receita de Lima Barreto: “troça e simplesmente troça, para que tudo caia pelo ridículo”.
Jornalista que defende taxar e calar acaba caindo também. |