Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: A DISCUSSÃO!

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: seg., 26 de ago. de 2024
Subject: A discussão

A DISCUSSÃO!

O grupo se encaminhava para a calçada do aeroporto. Os aeromoços, mais novos, na frente, e em seguida, dois homens mais velhos. Quase todos de uniforme completo. Com exceção do mais velho, por volta dos quarenta e oito anos, alto, esbelto e relativamente bonito. Este não havia colocado seu paletó e avisou ao grupo que iria resolver alguma coisa, se afastando. Passou pelo café onde eu me encontrava observando a vida ao meu redor e seguiu para uma parte da calçada mais distante e sem trânsito de pessoas, ao final das construções e dos pontos de táxi. Logo em seguida saiu naquela direção uma mulher de seus trinta e tantos ou quarenta anos, cabelo solto meio jogado, feições delicadas, vestido simples e de saia rodada nos joelhos, deixando à mostra as pernas grossas. E carregando uma malinha de rodinhas. Ela entrara e saíra do café umas duas vezes. Como se esperasse por alguém.Ao vê-lo passar foi se encontrar com ele. Os dois começaram a discutir algo importante e não de uma forma tranquila. Ele mal continha os braços, com movimentos amplos e vigorosos. Como se estivesse reclamando de algo. Ela o olhava meio intimidada, mas sem arredar um pé da proximidade com ele. Como se pensasse: pode ser ameaçador, mas eu enfrento. E respondia gesticulando também e olhando-o meio confusa. Permaneceram assim um certo tempo. Um curto período de tempo, após o qual se separaram sem sinais de reconciliação. Pelo menos que eu visse. Ele voltou ereto, de cabeça erguida, como se tivesse cumprido uma missão. Ao passar de volta pelo café vestiu o paletó de seu uniforme. Quanto à moça, não a vi mais. Aparentemente, eles tinham vivido um momento de emoções intensas e perturbadoras.

Bem, são mil as suposições que podem aparecer na observação dos fatos. Tanto mais perto da verdade quanto mais verossímeis sejam nossas observações sobre eles. No entanto, quem garante que elas sejam assim? Não é nada fácil entender os significados dos gestos, das circunstâncias, do aparente modo como as emoções se expressam. Pois o problema é que todos nós vivemos a maior parte do tempo uma montanha russa emocional, que sobe muito para despencar em seguida. Como explica Marc Brackett autor de “Permissão para sentir”. E nem sempre desenvolvemos nossa inteligência emocional de forma a identificar nossos sentimentos, emoções e sentimentos dos outros. Utilizando-os para guiar pensamentos e ações.As dificuldades para compreender quem somos, como e porque agimos de tal ou qual maneira tem relação com o poder das emoções em nossas vidas. Brackett nos fala justamente no quanto elas influenciam: a direção de nossa atenção, a tomada de decisão, as relações sociais, nossa saúde, criatividade, eficácia e desempenho. E de quanto precisamos de afeto para compreender e controlar criativa e positivamente. De quanto é bem-vinda e importante uma afetuosa ajuda externa que nos pergunte. “Como você está se sentindo?” E nos ouça, acolhendo nossas palavras sem julgamentos, sem preconceitos, simplesmente interessados no que estamos sentindo. O autor cita o neurocientista Antônio Damásio, que afirma: “O afeto não é necessário apenas para a sabedoria. Também se encontra irrevogavelmente entrelaçado à tessitura de todas as decisões”. Espero que este afeto atencioso nos ajude a compreender cada vez mais nossas emoções e sentimentos. E assim nos aproxime cada vez mais da tranquilidade e força de viver. (08/2024/luíza)

 

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