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LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: OS IMEXÍVEIS!
De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: sex., 20 de set. de 2024
Subject: imexíveis
OS IMEXÍVEIS!
Não há uma autorização formal para usarmos o
termo imexíveis. E o Ciberdúvidas da Língua
Portuguesa me explica o porquê: não está
dicionarizado, nem sequer o adjetivo do qual
deriva (mexível) e geralmente não se usa. OK!
Com a devida vênia, adorei o termo que me chegou
à cabeça nesta manhã brasiliense cheirando a
fumaça. Sim! Porque, provavelmente, não existe
lugar nenhum do mundo onde vivam tantas pessoas
isentas de serem atingidas pela justiça ou pelos
limites da civilidade. Ou coisas mais.
Repórteres investigativos da Globo News
descobriram, por exemplo, mais de 70 candidatos
para a próxima eleição municipal que são réus de
homicídios e estupros de vulnerável. Um deles
esperando uma comunicação judicial há mais de 20
anos. Um outro grupo, na sua grande maioria,
culpados por não pagarem pensão alimentícia. Ou
seja, não há um arquivo nacional que possa
orientar os Tribunais Eleitorais sobre
candidatos a cargos públicos e seus crimes. O
desconhecimento e a lentidão da Justiça aumentam
a impunidade que se espalha como um polvo
assassino.
Entre nossos parlamentares existem os que são
alvos de processos pelos mais diversos motivos.
Incluindo os que se encontram paralisados no
STF. Muitos relacionados à corrupção nas emendas
parlamentares. Que continua impávida! A Proposta
para acabar com quase todas, deixando somente as
de Comissão e para projetos nacionais, está
arquivada arbitrariamente pelo Congresso. Para
pesquisadores do assunto, todas deveriam ser
extintas. Este deveria ser o desejo e a luta da
sociedade também.
Ao que parece, salvo engano, em um mesmo
movimento rumo à impunidade, as condenações e
multas estabelecidas pelo pessoal da Lava Jato
estão sendo questionadas e revistas. No entanto,
quem lê os livros de Deltan Dallagnol, - “A Luta
contra a Corrupção- a Lava Jato e o futuro de um
país marcado pela impunidade” e o de Malu
Gaspar, “A Organização – a Odebrecht e o esquema
de corrupção que chocou o mundo” - não tem
dúvidas de que o país estava imerso na
corrupção. Alguma coisa mudou?
E seria risível, se não fosse trágico, o fato de
algumas autoridades clamarem aos quatro ventos
que a Lava Jato acabou com empresas e quase
paralisa o país. E que também estamos
criminalizando a política. Querem passar por
inocentes os que naturalizam a corrupção,
comercializam as relações políticas
institucionais ou a irresponsabilidade na gestão
pública? Por acaso somos analfabetos mentais?
Quanto a Lava Jato, vale lembrar que o processo
envolveu a delação premiada de 78 executivos da
Odebrecht, que cumpriram ao todo 353 anos de
pena e devolveram 1.1 bilhão de reais aos cofres
públicos. (A organização: a Odebrecht e o
esquema de corrupção que chocou o mundo/ Malu
Gaspar. – 1 ed. - São Paulo: Companhia das
Letras, 2020)
O foro privilegiado, a impunidade seletiva que
pune os pobres e deixa os ricos e poderosos fora
da cadeia, a demora em fazer os processos
andarem como estratégia para acobertar
criminosos – tudo isto cria o insano mundo dos
imexíveis e a injustiça social estruturante. Os
outros são os cidadãos comuns e os pobres que
vão para cadeia por roubarem um pão. Como na
poesia de Vinicius, “O Poeta e a rosa” do livro
“Para viver um grande amor”, o poeta elogia a
rosa e se espanta quando ela, de “uma espécie
mais franca e da seiva mais raivosa”, responde:
“Calhorda que és! Pára de olhar para cima! /
Mira o que tens a teus pés”. E mais adiante: “–
São milhões! – a rosa berra/ Milhões a morrer de
fome/ E tu, na tua vaidade/ Querendo usar do meu
nome!..” (09/2024/luiza) |
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