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LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: DIVAGAÇÕES!
De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: qua., 9 de out. de 2024
DIVAGAÇÕES!
A protagonista sem nome anda pela cidade. Ela
pensa que é mais fácil lidar com a falta de
sentido do que com a falta de objetivos. Então
resolve criá-los seguindo mulheres que provam
roupas nas lojas. Esperando “ficar bela ao ponto
de finalmente existir.” Considera que a solidão
chegou muito cedo em sua vida, pois era moça
demais quando a conheceu. Adiante, afirma que
sempre teve inteligência para poupar os outros
de desgraças. Mas “nunca quando se tratava da
minha própria felicidade.’
Ok! Creio que muitos passam pela vida mais ou
menos incólumes de infelicidades, isentos de
traumas, com pequenas tristezas e alguma
nostalgia. Chegando à idade adulta em pleno
vigor e esperanças. Benditos sejam! Por todos os
deuses! Juro! Mas...confesso uma certa inveja.
Diz a protagonista:” A gente sai para dar uma
caminhada e o mundo se abre. E antes que a gente
tenha conseguido esticar as pernas, mais uma vez
ele se fecha. Daqui até ali é só um liga e
desliga de uma lanterna, e chamam isso de vida.
Nem vale a pena calçar os sapatos”. Ela vive um
tempo de ditadura com suas terríveis
consequências. No entanto, esta sensação de
desarraigamento, de desesperança nos serão
totalmente estranhas? Como vivem os que nada
possuem? Ou os que possuem e carregam a tristeza
e a desilusão por outras circunstâncias de vida?
Seguindo as mulheres na rua para compreendê-las,
em busca de objetivos na vida, a protagonista
esclarece que entrava nas lojas para
experimentar vestidos. Quem sabe assim ficaria
bela para finalmente existir? Todavia, ela
compreende: “Na verdade, não vou encontrar nada
nas roupas que desejam comprar, muito menos a
mim mesma’. Ou seja, o consumo para ser bela
provaria a nossa existência e preencheria o
vazio interior? Ou nos afastaria ainda mais da
compreensão do que realmente somos? A felicidade
é um desafio? Aparentemente sim. A nos
confrontar e exigir inteligência, conhecimento e
atenção plena no presente. Assim, nossa
protagonista afirma que não fora suficientemente
inteligente para ser feliz. “O fracasso da
felicidade transcorre sem erros e nos dobrou. A
felicidade se tornara um encargo, e minha
felicidade errada se tornara uma espécie de
armadilha”.
O fato é que reagimos a tudo como nos é possível
porque as circunstâncias de vida são bem
diferentes para cada um de nós. Como aqueles que
mesmo frágeis fisicamente são fortes para
superar intensos sofrimentos e sobreviverem de
bem com a vida. Ou aqueles que pressionados por
sérios problemas mantêm a esperança de viver.
Esperança por vezes desacreditada por quem está
perto de nós. E que nada sabem: “Nada sobre a
felicidade e razão, que juntas podem causar
amanhã algo que não posso prever hoje. E nada
sabem sobre o que o acaso pode trazer depois de
amanhã; afinal, eu estou viva”.
Portanto, nossa protagonista mantém a esperança
apesar de tudo. E quando a situação piora muito
ela começa a ter visões, a sofrer um
estranhamento diante da vida. Mas considera: “Eu
tinha mesmo perdido o juízo, todas as
mercadorias se confundiam na minha cabeça. Fui
até a quitanda e fiquei contente porque as
batatas do caixote não se transformaram em
sapatos ou pedras na balança. Levei dois quilos
de batata e na cabeça a irrefutabilidade das
coisas”. Sim, amigos, ao voltarmos de nossas
insanidades estejamos conscientes da
irreversível realidade e da impossibilidade de
encontrar respostas para tudo. Bom êxito para
vocês! Um dia eu chego lá. (10/2024/luiza)
PS: Divagações sobre o texto de Herta Muller em
seu livro: O Compromisso. |
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