Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: O INEXPLICÁVEL!



De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: dom., 13 de out. de 2024
Subject: inexplicável

O INEXPLICÁVEL!

Ah! Nossas mazelas! Com a devida vênia, não sei se sofremos de um realismo fantástico, como nos explica Alexandre Schwartsman em seu belo artigo na Veja, “Cem anos de Confusão”. Embora não duvide do sobrenatural no Orçamento Federal, com suas receitas e despesas tal qual uma gangorra imaginária, os pesos variando ao sabor dos ventos e justificativas oficiais. Esperando o milagre da multiplicação sem nunca admitir o corte de despesas. Nas relações políticas, contudo, salvo engano e perdão da má palavra, sofremos de impudência estruturante. Uma oposição radical, como explica Aurélio, às regras e convenções socioculturais. Um descaramento planejado.

Quando a representação no Legislativo, que deveria ser do povo e suas necessidades, se transforma no contrário. Segundo os observadores políticos, para uma parte de parlamentares, os votos dos eleitores tornam-se objeto da busca insensata de privilégios e mordomias, pagas com o dinheiro de nossos impostos. As relações de poder entre Legislativo e Executivo transformam-se em objeto da comercialização dos votos para aprovação de projetos de governo. E recursos públicos são distribuídos em Fundos Eleitoral e Partidário, emendas parlamentares e verbas indenizatórias.

Recursos que cevam, acalentam e estimulam o parasitismo da vida política, a estruturação de uma camada permanente e privilegiada de velhas lideranças políticas, além de contribuir para a criação de uma verdadeira dinastia, onde o poder se dissemina por toda a família. Já tivemos suplente de senador que era a mãe do próprio. Enquanto o financiamento das campanhas eleitorais também se realiza nos salários que continuam a ser pagos durante a paralisação dos trabalhos no Legislativo – quando os parlamentares viajam para trabalharem por suas candidaturas.

A impudência estruturante se espalha como veneno. Enquanto as notícias na imprensa nos dão conta de que ricos e políticos no país, com exceção da Lava Jato, em regra geral não irão para a cadeia. Mesmo condenados por sentenças de mais de 60 anos ou acusados por corrupção com verbas públicas. Assim, com sentenças alegadamente modificadas via propinas, ou a postergação de julgamento por intermédio do pedido de vistas.

O ralo por onde escoam os recursos públicos (nossos impostos), também se encontra na falta de isonomia salarial, em férias diferenciadas entre os três poderes e na falta de fiscalização das despesas de frequentes, bem frequentes viagens internacionais para encontros ou trabalho. Com um Orçamento Federal deficitário, viajam Ministros e suas equipes no Executivo, Ministros do STF, Presidentes do Senado e da Câmara Federal e outros. Exemplo ousado que deu o Presidente Luiz Inácio viajando quase todo o seu primeiro mandato. Assim, nosso Orçamento deficitário promove o turismo internacional, para os lucros de companhias aéreas, agências de viagem e rede de hotéis.

Como diz o nosso sábio Barão de Itararé: “Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades”. Gabriel Garcia Marques que “deu forma ao realismo fantástico” entre nós latinos, afirmou: “A realidade é que é fantástica. Não invento nada. Não tenho imaginação”. Sabem, Schwartsman tem razão. O Orçamento Federal parece se caracterizar por um realismo fantástico, mágico, também chamado de maravilhoso. No entanto, parece que de modo geral, no Brasil inteiro aparecem situações absurdas, sem sentido, aparentemente irracionais, mas de uma impudência estruturante inexplicável. Quanto ao estranhamento e ao vazio existencial decorrentes, sentimos nós, os cidadãos comuns. (10/2024/luiza)
 

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