Theresa Catharina de Góes Campos
Autor de inúmeros roteiros, textos teatrais, romances e livros sobre cinema, parceiro de trabalho de cineastas como Luis Buñuel, Andrzej Wajda, Peter Brook, Milos Forman, Jean-Luc Godard e Volker Schlöndorff, Carrière se firmou como um dos principais roteiristas contemporâneos. Sua experiência, marcada pela diversidade dos realizadores com quem trabalhou e pelo compromisso com a reflexão sobre a escrita cinematográfica, permitiu que forjasse uma concepção original não só da natureza do roteiro como também do próprio ofício do roteirista. Para Carrière, antes de ser uma peça literária, o roteiro é uma ferramenta de passagem, um texto portador de outro estado, em cujas linhas se encontram latentes imagens e sons. Distante da suposta nobreza e inviolabilidade da obra literária, o roteiro é submetido a leituras específicas, é dissecado, anotado e finalmente descartado pela equipe. Desta forma, ao invés de reivindicar um lugar no panteão dos tradicionais criadores, cabe ao roteirista, neste ponto do processo, abandonar inevitavelmente a devoção por seu trabalho e transferir seu entusiasmo para a realização efetiva do filme: idealizado no papel, o roteiro é exposto à concretude das filmagens e assim, diante da prática, uma metamorfose indispensável o aguarda. Peça na engrenagem do cinema, o roteirista, segundo Carrière, deve ser o primeiro a achar que, pela própria natureza de seu ofício, a noção de obra pessoal, que no cinema toma proporções questionáveis, decaiu há muito tempo. Shakespeare, da mesma forma que Flaubert e outros escritores realistas, "escondeu-se" por trás de suas peças, "sacrificou" sua projeção pessoal em favor de uma obra que, hoje, é de domínio público. Herdeiro desta linhagem, o roteirista é, na verdade, um elo entre o público e a experiência do real e seu objetivo seria transmiti-la por meio de instrumentos modernos, ou seja, pelo próprio cinema. Desta forma, ele atualizaria uma antiga tradição narrativa cuja formatação teórica podemos encontrar nas idéias de Walter Benjamin acerca do "narrador".
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Núcleo de Programação
Sala Cinemateca
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana
próxima ao Metrô Vila Mariana
Maiores Informações pelos telefones: 5084-2177 (ramal 210) ou 5081-2954
ingressos: R$ 8,00 (inteira)
R$ 4,00 (meia-entrada)
Atenção: Estudantes do Ensino Fundamental e Médio de Escolas Públicas têm direito à entrada gratuita mediante a apresentação da carteirinha.
Ficha técnica e sinopse:
Brincando nos Campos do Senhor (At play in the Fields of the Lord), de Hector Babenco
Estados Unidos, 1991, 35mm, cor, 186’
Elenco: Tom Berenger, John Lithgow, Daryl Hannah, José Dumont
Roteiro: Hector Babenco e Jean-Claude Carrière
Baseado no romance homônimo de Peter Matthiessen
Sinopse: Um casal de evangélicos embrenha-se na selva amazônica brasileira para catequizar índios ainda arredios à noção de Deus. As intenções religiosas e a harmonia entre brancos e índios no local tornam-se instáveis com a presença de um mercenário descendente de índios americanos.
(Agência Senado)
Na passagem da semana do índio, a TV Senado lança o especial A História de um Karajá, que conta a história de um personagem que foi destaque no filme Brincando nos Campos do Senhor, do diretor Hector Babenco, produzido em 1990. Dezesseis anos depois, a emissora promoveu o reencontro do cineasta com o indígena, cujo nome é Samuel Yriwana Karajá, agora advogado militante em defesa das causa do seu povo. O especial vai ao ar sexta-feira (21), às 17h30, e sábado (22), às 11h e 16h30.
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