LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: O IMBRÓGLIO DAS
EMENDAS PARLAMENTARES
De: <luizaccardoso@gmail.com>
Date: seg., 23 de dez. de 2024
Subject: imbróglio
O IMBRÓGLIO DAS EMENDAS PARLAMENTARES
O termo imbróglio, provavelmente, não consiga
abranger todo o significado das estratégias que
envolvem as emendas parlamentares. Porque não se
trata unicamente de uma situação confusa, de
mal-entendidos, intrincada, de difícil solução.
Há muito mais: uma ganância incontida por poder
e dinheiro, uma vontade sem controle por
aumentar e tornar permanente o poder político
através da propaganda eleitoral gratuita com o
dinheiro do contribuinte. E mais: em muitos
casos a corrupção desviando para fins privados
os recursos públicos. Em um país de extrema
desigualdade social e justamente por aqueles que
se dizem nossos representantes. E, por todos os
deuses, não banalizem nem naturalizem as
emendas. Elas se dirigem a obras que, se são
importantes, já estão previstas no planejamento
estrutural de cada município. E se não estão,
parlamentares se apossarem individual e
diretamente dos recursos públicos é uma perversa
distorção de função. E não é porque existe em
outros países que devemos aceitar como viável.
Ministros e gestores municipais nunca deveriam
depender de parlamentares para desenvolverem as
políticas públicas.
No entanto, o problema não se relaciona
somente à essência das emendas. Mas também ao
modo como são distribuídas, sem a transparência,
sem a rastreabilidade exigidas nos artigos da
Constituição brasileira. A partir das emendas de
Bancada e Comissão com tentativas frequentes de
omitir ou esconder os verdadeiros responsáveis
pelas indicações. Assim, os líderes partidários
se escondem sob os mais estranhos pretextos. Sem
qualquer deliberação das Comissões. Ou as
emendas Pix, individuais e sem que se saiba onde
foram empregadas. Os Prefeitos recebem os
recursos sem nenhuma fiscalização. Como por
exemplo, kits de informática para escolas sem
luz no interior de Alagoas. Ou o escândalo dos
recursos da saúde para cidades do interior
mostrados pela Revista Piauí. Ou o que está
agora para estourar envolvendo vários Estados
Brasileiros.
O que o STF está exigindo é o mínimo:
transparência. Respondendo aos solicitantes:
PSOL, NOVO, a Associação Contas Abertas e a
Transparência Internacional no Brasil. Qual a
resposta do Parlamento diante das exigências de
tornar as emendas transparentes? Atrasar
votações, parar com as reuniões de Comissões.
Tornando cada vez mais evidente e natural a
comercialização das relações políticas, na venda
de nossos votos por dinheiro das emendas. O que
degrada e esvazia a nossa representatividade.
Não mais fundamentada no diálogo democrático de
decisões baseada em valores e interesses dos
eleitores. Mas mercantilizada em proveito
próprio; em propaganda eleitoral gratuita e,
muitas vezes, em enriquecimento ilícito.
A continuar desse modo, ignoramos e excluímos
a verdadeira substância do processo democrático,
estendendo oportunidades e privilégios a quem
está eleito e usufrui no Parlamento de - Fundos
Partidário e Eleitoral, de verba indenizatória
mensal de mais de R$ 100 mil e de recursos para
ressarcimento de despesas outras. Além da
extraordinária soma de R$ 53 bilhões anuais para
gastar em emendas. Mais da metade do déficit do
país este ano. O que aumenta as necessidades do
povo brasileiro que precisa das Políticas
Públicas para viver. E o que faz o Parlamento
brasileiro o segundo mais caro do mundo. Atrás
somente dos EUA, a maior potência mundial.
As emendas são fruto de decisão pessoal, tem
caráter coloquial, muitas vezes sem estar
inserida em um planejamento institucional. Não
alcança a universalidade das Políticas Públicas.
Criando uma situação de dependência
administrativa, não somente de gestores locais
como de Ministros. Se encontra em mãos de quem
tem por obrigação constitucional a
fiscalização do Orçamento Federal. E não
a alocação corporativa de recursos públicos.
Enfim, precisamos conversar sobre a
possibilidade de extinção das emendas
parlamentares por exigência da sociedade.
Acabando com as distorções de objetivos e a
corrupção. Que o PSOL, o NOVO, a Associação
Contas Abertas e a Transparência Brasil não
permaneçam sozinhas.
Que venham a OAB, as ONGS, as Universidades,
a sociedade em geral. (12/2024/luiza) |