O
Plenário
realiza
sessão
especial na
quarta-feira,
10 de maio,
às 11h, para
inaugurar as
comemorações
pelos 180
anos do
Senado. A
Agência
Senado
passa a
publicar, a
partir desta
sexta-feira
(28), uma
série de
reportagens
sobre os
momentos e
personagens
mais
marcantes da
história da
Casa.
Entre os
fatos que
fazem parte
do que se
poderia
chamar de
história
informal do
Senado,
consta que o
mais
celebrado
escritor
brasileiro,
Machado de
Assis,
iniciou suas
atividades
profissionais
como
jornalista,
aos 20 anos,
fazendo a
cobertura
das sessões
do Senado do
Império, em
1860.
O jornal
era o
Diário do
Rio de
Janeiro,
órgão
liberal, da
oposição,
suspenso
certa época,
e que
retornava
agora sob a
direção de
Saldanha
Marinho.
Quintino
Bocaiúva,
grande amigo
de Machado,
era o
redator-chefe
do Diário
e lhe fez o
convite.
Coube a
Machado a
resenha dos
debates do
Senado e,
esporadicamente,
outras
tarefas,
como a
crítica
teatral.
Para a
biografa
Lúcia Miguel
Pereira,
"convidando-o
para lá o
tirou o
Quintino do
amadorismo
das revistas
literárias,
pô-lo na
obrigação de
enfrentar o
grande
público, de
dar a sua
opinião
sobre os
assuntos do
dia, fê-lo
refletir,
pensar."
Por meio
da prática
diária da
crônica na
imprensa, o
futuro
escritor
obteve, além
do sustento
material,
oportunidade
para iniciar
uma
profissão
que
exerceria
praticamente
pelo resto
da vida,
seja na
crônica
política, na
crítica de
idéias, de
livros, e de
espetáculos,
seja como
veículo para
divulgação
dos seus
contos e
romances.
O tom
pessoal com
que Machado
de Assis
escrevia
suas
crônicas
permitia-lhe
"o devaneio
e as
apreciações
subjetivas".
No entanto,
é o próprio
escritor
quem afirma
que "um povo
forte pinta
e narra
tudo".
Nota-se, de
outra parte,
como seu
amadurecimento,
favorecido
pela
experiência
adquirida na
cobertura da
atividade
parlamentar,
o levaria a
deslocar
suas
críticas das
pessoas para
as
instituições:
"Os homens
que não são
sérios e
graves -
escreve
Machado -
são
exatamente
os homens
sérios e
graves".
Do ponto
de vista
político,
1860, ano em
que Machado
de Assis
entrou para
a imprensa,
assinalaria
o começo da
inversão de
um período
que durava
já três
décadas,
marcado pela
vitória dos
conservadores,
dando início
à ascensão
do Partido
Liberal.
Àquela
altura, o
desenvolvimento
das cidades
e o
crescimento
da classe
média
favoreciam a
que os
profissionais
liberais
aumentassem
sua presença
no
Legislativo.
Seria em
meio a essa
classe,
conforme
Daniel Piza,
autor de
Machado de
Assis - Um
gênio
brasileiro,
principalmente
na província
de São
Paulo, que
iniciava um
arranque de
desenvolvimento
graças ao
café e às
ferrovias,
que nasceria
o movimento
republicano
alguns anos
mais tarde.
Machado foi
testemunha
ocular dessa
transição.
Embora
liberal e
abolicionista,
além de
antiimperialista,
Machado de
Assis
preferia a
monarquia
constitucional
quando se
tratava do
Brasil.
Marcado por
uma história
de ascensão
em meio à
corte do
Segundo
Reinado,
achava que a
nova classe
dirigente,
republicana,
não poderia
servir de
exemplo para
a população,
porque era
desprovida
de tradição,
cultura e
moral. Nesse
ponto, sua
opinião
coincidia
com a do
amigo
Joaquim
Nabuco, com
quem já
partilhava a
defesa do
abolicionismo.
Em
Minha
Formação,
texto
autobiográfico,
Nabuco
revela seu
pensamento
sobre a
possibilidade
de uma
república
brasileira,
quando diz
que "países
sem uma
aristocracia
natural e
culta como o
Brasil não
tinham
estrutura
moral para
aderir à
república
sem arriscar
com isso a
estabilidade
da
federação".
O
contra-exemplo,
aponta o
autor, era
toda a
América
hispânica,
em que o
território
terminou
dividido
pelo domínio
de surtos
republicanos.
Defensor
da ciência
sem
superestimá-la,
Machado de
Assis também
não era
religioso.
Em suas
crônicas
ironiza o
disfarce de
"bom humor e
jovialidade
que os
políticos
usam para
esconder seu
despreparo e
seus
interesses".
Em 1865,
ainda no
Diário do
Rio de
Janeiro,
Machado é um
cronista
combativo e
mordaz, e
suas
críticas não
raro são
rebatidas na
tribuna.
No que
diz respeito
à sua
participação
nas lutas e
debates
sobre as
questões
políticas de
seu tempo,
observa-se
que, mesmo
havendo se
empenhado
para marcar
sua própria
imagem
desgarrada
de uma
efetiva
militância,
seus
críticos e
estudiosos
assinalam
que "a
partir de
1860, com
intervalos,
Machado de
Assis se
tomou de
comichão
política",
mesmo sem
nunca haver
se filiado a
partido
político.
O
Velho Senado
Em 1989,
por ocasião
das
comemorações
do
sesquicentenário
de
nascimento
de Machado
de Assis, o
Senado
publicou o
célebre
texto
evocativo
O Velho
Senado,
juntamente
com dez
artigos
produzidos
por
intelectuais,
políticos e
conhecedores
da obra
machadiana.
Seus autores
apontam
aspectos das
relações do
escritor com
a atividade
política.
Assinam
esses textos
Nelson
Carneiro,
Afonso
Arinos de
Melo Franco,
Afrânio
Coutinho,
Austregésilo
de Athayde,
Carlos
Castello
Branco, José
Sarney,
Josué
Montello,
Luiz Viana
Filho,
Marcos
Vilaça e
Raymundo
Faoro.
Em
"Lições
políticas de
Machado de
Assis", que
integra o
citado
volume,
Sarney
discute a
vocação
política do
autor de
Memórias
Póstumas de
Brás Cubas
e conclui
que nosso
personagem
teria tido
essa
vocação:
"Apenas,
em vez de
fazer
política, no
plano da
vida
executiva ou
parlamentar,
ele preferiu
fazer a alta
política, no
plano da
vida
literária,
de que a
Academia,
com o
reconhecimento
de sua
incontestável
liderança
intelectual,
constituiu o
ponto
culminante,
a realização
maior".
Em 1867,
o Diário
do Rio de
Janeiro
foi vendido
a Sebastião
Gomes da
Silva
Belfort.
Poucos meses
depois,
Machado
deixaria
seus
quadros. Mas
continuou
escrevendo
para outros
jornais e
revistas,
nos quais
viria a
publicar,
como
folhetim,
vários dos
sues futuros
romances.
Tendo
como
companheiros
de ofício
Bernardo
Guimarães,
pelo
Jornal do
Commercio,
e Pedro
Luís, pelo
Correio
Mercantil,
a partir do
dia 25 de
março de
1860 o jovem
Machado
passou a
freqüentar o
Solar do
Conde dos
Arcos, no
antigo campo
de Santana,
local onde o
Senado
funcionou
entre 1826 a
1925, em
demanda das
suas novas
atribuições
como
setorista da
área.
Cerca de
40 anos
depois, em
1899,
Machado de
Assis
publicaria
O Velho
Senado.
Trata-se,
como já foi
dito, de um
texto
evocativo no
qual faz
admirável
reconstituição
da
instituição
e dos homens
que a
integravam,
naquele
período.
Nutrido
pelas
lembranças
de
impressões e
de
conhecimentos
adquiridos
na época em
que suas
atribuições
o levavam a
conviver,
diariamente,
com os
senadores,
Machado de
Assis, ao
escrever
O Velho
Senado
tomaria o
jovem
repórter que
ele havia
sido, como
fonte para o
alto
escritor no
qual se
tornara. A
memória saiu
publicada em
uma
coletânea
intitulada
Páginas
Recolhidas,
lançada
1899, que
viria a ser
seu livro de
melhor
aceitação
pelos
leitores de
sua época.
Pretendendo
assinalar o
impacto que
significou
para ele o
início da
sua
experiência
como
cronista
parlamentar,
Machado
adverte para
que, "diante
daqueles
homens que
eu via ali
juntos,
todos os
dias, é
preciso não
esquecer que
não poucos
eram
contemporâneos
da
maioridade
(1840),
algum da
Regência, do
Primeiro
Reinado e da
Constituinte
(1824).
Tinham feito
ou visto
fazer a
história dos
tempos
iniciais do
regímen,
e eu era um
adolescente
espantado e
curioso".
Sobre
O Velho
Senado,
Carlos
Castello
Branco,
reconhecido
como modelo
de
jornalista
político
brasileiro a
partir da
segunda
metade do
século
passado
escreve:
"Obra
mestra de
evocação que
nos repõe
viva a
instituição
do Império e
traça para a
posteridade
retratos
imperecíveis
dos modelos
de sua
paisagem
humana,
entre eles
alguns
homens
excepcionais
como
Paranhos do
Rio Branco,
modelo de
parlamentar
e de homem
público que
é um
paradigma
dos grandes
vultos que
dotaram um
país pobre e
ainda em
formação de
figuras
titulares."
Trechos de
O Velho
Senado,
de Machado
de Assis
Primeiro
parágrafo:
"A
propósito de
algumas
litografias
de Sisson,
tive há dias
uma visão do
Senado de
1860. Visões
valem o
mesmo que a
retina em
que se
operam. Um
político,
tornando a
ver aquele
corpo,
acharia nele
a mesma alma
dos seus
correligionários
extintos, e
um
historiador
colheria
elementos
para a
história. Um
simples
curioso não
descobre
mais que o
pinturesco
do tempo e a
expressão
das linhas
com aquele
tom geral
que dão as
coisas
mortas e
enterradas."
Último
parágrafo:
"E
após ele
vieram
outros, e
ainda
outros,
Sapucaí,
Maranguape,
Itaúna, e
outros mais,
até que se
confundiram
todos e
desapareceu
tudo, cousas
e pessoas,
como sucede
às visões.
Pareceu-me
vê-los
enfiar por
um corredor
escuro, cuja
porta era
fechada por
um homem de
capa preta,
meias de
seda preta,
calções
pretos e
sapatos de
fivela. Este
era nada
menos que o
próprio
porteiro do
Senado,
vestido
segundo as
praxes do
tempo, nos
dias de
abertura e
encerramento
da
assembléia
geral.
Quanta coisa
obsoleta!
Alguém ainda
quis obstar
à ação do
porteiro,
mas tinha o
gesto tão
cansado e
vagaroso que
não alcançou
nada: aquele
deu volta à
chave,
envolveu-se
na capa,
saiu por uma
das janelas
e esvaiu-se
no ar, a
caminho de
algum
cemitério,
provavelmente.
Se valesse a
pena saber o
nome do
cemitério,
iria eu
catá-lo, mas
não
vale;todos
os
cemitérios
se parecem."
Projeto
institui Ano
Nacional
Machado de
Assis