Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
Reynaldo Ferreira recomenda artigo de Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* sobre: 

 
Desmonte amazônico e flexibilização das fronteiras

De: Reynaldo Ferreira <reydferreira@gmail.com>
Date: qua., 15 de jan. de 2025 
Subject: Fwd: Desmonte amazônico e flexibilização das fronteiras

REPASSANDO: Desmonte amazônico e flexibilização das fronteiras

COM A COMPLACÊNCIA DO GOVERNO BRASILEIRO, A VENEZUELA DO TIRANO NICOLAS MADURO AVANÇA NO SENTIDO DE AGITAR A FRONTEIRA NORTE DO BRASIL EMPURRANDO POPULAÇÕES FAMINTAS, MISERÁVEIS PARA A ÁREA, E TENTANDO INVADIR TERRITÓRIOS DA GUIANA E DO NOSSO PAÍS. E, PARA COMPLETAR, DESATIVA  O PROGRAMA CALHA NORTE, DE PROTEÇÃO E SEGURANÇA DE NOSSAS FRONTEIRAS COM OITO PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL, O QUAL ESTÁ SENDO RETIRADO DO COMANDO MILITAR DA AMAZÔNIA PARA O INEFICIENTE MINISTÉRIO DE INTEGRAÇÃO E DESENVOLVIMENTO REGIONAL (MDIR). 
 
LEIAM O ARTIGO DO JORNALISTA AYLÉ-SALASSIÉ FILGUEIRAS QUINTÃO.
 
Vizinhança  incômoda, parceiro indigesto
 
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* 
 
A Amazônia tem sido uma das vítimas da descontinuidade das atividades  dos Governos brasileiros na região Norte . É bom ficar atento. Na medida em que se trata de uma área declarada  "patrimônio da humanidade"  corre o risco de ter  sua gestão considerada insatisfatória  para proteção de um bioma tido como fundamental para o equilíbrio climático no Planeta. O ano de 2025 será marcado no espaço do meio ambiente pela realização da   30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas,  em novembro, em Belém, no Pará. Pode surpreender.
 
Parceira do Brasil  na região, a Venezuela  parece não se incomodar com o problema. Seu presidente , Nícolas Maduro,   age no sentido de agitar a fronteira  Norte, empurrando populações para  a área,  reclamando territórios 
da Guiana, e até  do Brasil, e posicionando tropas nas divisas. Para completar, aderiu à "Rota da Seda" dos chineses. 
 
 O Brasil, por motivos pouco explícitos,  prepara-se, ao contrário, para  desativar um dos programas mais importantes na região, conhecido como  Calha Norte, de proteção e segurança   nas fronteiras brasileiras com oito países da América do Sul , todos amazônicos. O Programa é  ligado ao Comando Militar da Amazônia. Está sendo  transferido  para o Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional (MDIR).
 
Os atuais governantes brasileiros, civilistas, entenderam que o Projeto Calha Norte ,  já com 40 anos de existência,   teria melhor desempenho no ministério do Desenvolvimento e Integração Regional  que, até hoje, não disse a que veio, embora seja abastecido por  uma  larga parcela dos  recursos do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento,  e  se constitua num  desaguadouro para emendas parlamentares invisíveis. 
 
O Calha Norte , que começou  em 1986, no Amapá e Roraima,  fronteira com as Guianas e   a Venezuela, com finalidades fronteiriças específicas, por conveniências de políticos regionais foi ampliado de 1,6 mil quilômetros , por 150 de largura,  para  quase 14 mil quilômetros de extensão, chegando  à tríplice fronteira Brasil -Peru-Bolívia , no Acre. 
 
  Pulou de 74 municípios amazônicos fronteiriços   para   789, estendendo-se para o sul da Amazônia até alcançar o  Pará, o Mato Grosso e  Tocantins. Atropelou diversos programas, projetos  e instituições, inclusive ambientais.  Atravessa rios, maciços montanhosos, florestas densas, territórios indígenas, áreas de preservação e até  de mineração ativa. Um verdadeiro desatino no planejamento  da ocupação do território brasileiro.   Suas funções originais de ocupação (militar) das fronteiras e proteção da floresta foram  definhando até, parece,  a sua desativação. Nessa região acumulam-se os maiores problemas ambientais brasileiros como o desmatamento e as queimadas,  sem explicação adequada, os culpados identificados , rota  do tráfico de cocaína na calha do Javari. Concomitante, remanescências das Forças Revolucionárias de Colômbia (FARC) e outros movimentos insurretos  regionais transitam por cidades fronteiriças. 
 
Com a ampliação irresponsável do Calha Norte e a sua transferência para MDIR, procura-se, mais uma  "sarna para coçar".  Por experiência própria,  nas três a quatro  vezes de passagem por ali, observei  que são os militares  que, de fato,  marcam presença nessas regiões isoladas  de fronteira .  Ninguém faz nada na região sem a ajuda deles, e são eles que dão atendimentos regulares  à saúde das populações isoladas e distribuem suprimentos , inclusive às populações indígenas. Suas ações sociais na fronteira tem  vieses de sensatez   desconhecidos da politicagem . Só eles toleram aquele isolamento no maciço da Guianas ou na imensidão da floresta. Os demais órgãos federais estão quase sempre fechados ou são omissos com relação aos problemas da região que, aos poucos,  vai se  tornando abrigo de milhares de imigrantes,  expulsos da  Venezuela, e vindos de outros países à procura de paz e emprego no Brasil.
 
Os esvaziamentos do  Calha Norte, portanto, e a sua transferência para  um ministério civil, de visibilidade gestora pouco conhecida,  tende a provocar   uma desarrumação  institucional na região,   atravessando a governabilidade, e podendo inviabilizar muitos projetos , ambientais inclusive, tocados  com financiamentos externos, via Fundo da Amazônia . Vai desarticular  a estrutura militar regional  e interferir na vida de grupos indígenas, que transitam de um lado para  o outro das fronteiras, sem preocupação com a  nacionalidade de origem. 
 
Essa  mexida na política de fronteiras não vai deixar o Brasil muito à vontade. Está na moda falar em se apropriar do território do outro. Historicamente, a margem esquerda do Amazonas pertenceria  à Espanha. A ocupação do território pelos portugueses ocorreu  por meio de avanços  da catequização , da captura de índios para o trabalho nas capitanias e fazendas  e da exploração dos produtos naturais da floresta (as drogas do sertão). Os franceses  tentaram se apropriar da margem esquerda do Amazonas, integrada à Província do Grão Pará -Maranhão , colonizada por eles, os  holandeses  e ingleses . A região já teve a sua autonomia , relacionando-se  diretamente com Portugal.
 
Em 1750, com a assinatura do Tratado de Madri,  os reis de Portugal e Espanha entraram em acordo sobre os novos limites entre os territórios de seus países na América do Sul. A maior parte da desconhecida Amazônia  coube  aos portugueses. A Espanha ficou com os  territórios amazônicos, onde já  se começava a  falar  o espanhol: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Bolívia. As chamadas Guianas e Suriname foram posteriormente invadidas  e colonizadas por ingleses,  holandeses e franceses.
 
A região amazônica sempre foi frequentada clandestinamente  por estrangeiros à procura de riquezas extrativas e já foi palco de muitas insurreições e investimentos perdidos   Os  norte-americanos chegaram a propor a compra da Amazônia para  ocupá-la  com escravos libertos. Japoneses  queriam enviar famílias   para a região.  Ford   tentou explorar a borracha ; Ludwig  fabricou  celulose , a Bethlehem Steel esgotou as reservas de  manganês. A  região foi   palco de guerrilhas e, em seguida, de organizações não governamentais até estrangeiras. Prestem atenção! Limites históricos estão sendo revisados no mundo. 
 
Tudo isso desencadeou campanhas nacionalistas do tipo " A Amazônia é nossa" , inspirando  a consequente  criação de unidades militares treinadas no combate nas  selvas. O governo  brasileiro mapeou tudo com  radar  (projeto Radam) e criou um programa  de monitoramento  eletrônico  (SIVAM). Mesmo assim,  os governantes de plantão  nunca souberam dar-lhe  um tratamento adequado . Ao longo do tempo, foram criados e substituídos  dezenas de  órgãos regionais, secretarias, bancos e até ministérios que operavam na região. Agora vem o Calha Norte, que não é um projeto explicitamente militar. 
 
 A Amazônia  é vista como parte da solução para as ameaças climáticas.   O ex-presidente socialista francês, François Mitterrand, chegou a declarar em fóruns europeus que " A Amazônia não pertence ao Brasil (e  vizinhos).  É Patrimônio Mundial da Humanidade." A Organização das Nações Unidas para a Ciência e Educação (Unesco) veio para dar legitimidade ao insolente discurso colonialista  de Mitterrand. 
 
Ora, são   6,74 milhões de km²  distribuídos entre oito países ricos em recursos naturais.  Os interesses regionais levaram ao  retórico  Pacto Amazônico, uma política comum, integrada, no qual a Venezuela está presente, o  que é delicado. O bolivarianismo  venezuelano, por exemplo, não tem limites. Com o aval do Brasil e da Argentina,  Chávez conseguiu entrar no Mercosul , e quase destruiu o Tratado ,  tentando politizá-lo. "Por que não te calas?!" - foi advertido, devido a intromissões discursivas inoportunas.
 
 Nícolas Maduro acaba de colocar o exército venezuelano na fronteira com o Brasil,  invadiu o espaço aéreo  brasileiro e  despachou para o Brasil e a Colômbia 5,2 milhões de venezuelanos. Estão sendo abrigados por municípios do Calha Norte.  E ainda diz: "O Brasil não é confiável..." . Não dá para esperar muito mais do inescrupuloso chavista, que teria alterado a certidão de nascimento. Ele nasceu na Colômbia.
 
* Jornalista e professor
 

Jornalismo com ética e solidariedade.