Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: Arritmia

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: sex., 14 de fev. de 2025
Subject: arritmia

ARRITMIA!

Ontem passei a noite acordando com o coração disparado. Normalmente, nesta hora tomo remédio para a pressão e tudo melhora. Mas não naquela ocasião. Assim, quando me levantei pela manhã já havia tomado, no decorrer da madrugada e começo da manhã, três remédios para baixar a pressão e os batimentos cardíacos continuavam acelerados. Foram 2.5 mg de Novanlo e 20mg + 20mg de Benicar. E havia duas angústias: o coração velho não iria aguentar muito tempo aquele trabalho forçado. Em segundo lugar, eu morreria de medo se me internassem. Observação: eu não estava abusando dos remédios. Juntos eles faziam parte de uma prescrição médica chamada BenicarAnlo. Eu só os estava tomando separadamente.Fomos ao Hospital do Coração. Naturalmente preocupada, o atendimento pareceu um pouco mais demorado do que queríamos, mas todos os profissionais que me atenderam foram muito delicados e atenciosos. Fiz exames e tive de esperar umas duas horas ou um pouco mais pelos resultados. Mas estava tudo bem. Inclusive o eletro e a melhora nos batimentos, que haviam diminuído. O médico me pergunta se dormi bem. Nunca durmo realmente bem, a não ser com Lexotan, que evito tomar frequentemente pois sei dos efeitos colaterais. Agora falam até em demência.

Dificuldades para dormir talvez sejam inerentes aos idosos, por muitas razões. As mais comentadas são as frequentes idas ao banheiro ou o sono que demora muito para chegar. E não são os filmes que perturbam. Quando o sono vem, simplesmente apago, independente do filme. O médico me pergunta também se algo me aflige. Sim, respondi: não ter rotas de fuga. Não ter saídas. O fato é que a vida também se chama finitude. E por mais que queiramos racionalizar, os mais velhos sofrem mais com esta realidade. Por outro lado, há situações nas quais quase todos nós podemos sentir um certo estresse crônico, por nossa incapacidade de aceitação. Então, como dizia alguém na minha infância: é aí que a porca torce o rabo. Absolutamente não sei o que isto significa, mas me parece algo sério. O que me perturba é que os batimentos apressados demais não são fruto de alguma meditação sobre minha vida ou acordar com a certeza de que os limites estão postos para qualquer mudança. Eu acordo com eles ou por causa deles. Enfim, me assustam um pouco. Para dizer o mínimo. No entanto, como diz Conceição Evaristo: “Apesar das acontecências do banzo/ há de nos restar a crença/ na precisão do viver/ e a sapiente leitura/ das entre-falhas da linha-vida.” E mais: “Apesar de.../ uma fé há de nos afiançar/ de que mesmo estando nós/ entre rochas, não haverá pedra/ a nos entupir o caminho”. De seu poema: “Apesar das acontecências do banzo”, do livro “Poemas da recordação e outros movimentos.” Que eu possa assimilar para a vida as palavras de Conceição. (02/2025/luiza)

 

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