Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO: JUSTIÇA!

De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: ter., 25 de fev. de 2025
Subject: justiça

JUSTIÇA!


Acabei de assistir na Netflix a um documentário sobre um crime em Perúgia, uma pequena cidade da Itália. Em uma casa com quatro estudantes estrangeiras, uma é assassinada com a garganta cortada. A principal suspeita, uma estudante americana chamada Amanda, afirmou que passara a noite com o namorado. Descrevendo detalhes de tudo quanto fizeram. Narrativa que deixou desconfianças, sendo desmentida mais tarde pelo próprio, também acusado. Ele informou que ela chegara de madrugada na casa dele. Um outro envolvido era um homem desempregado que vivia nas redondezas. O qual Amanda disse conhecer, já tendo conversado algumas vezes com ele. Havia manchas de sangue no banheiro, digitais e, provavelmente, muitas outras evidências que não foram referidas e talvez tenham passado despercebidas pela polícia da cidade.

Os três terminaram acusados. Havia vestígios de sêmen e a faca utilizada no crime foi encontrada na casa do namorado de Amanda, com as digitais dela no cabo e as da vítima na lâmina. Por outro lado, os policiais comentavam sobre sua fria reação ao fato tão doloroso. Pois ao chegarem na casa o casal estava do lado de fora, calmamente, se beijando. Cena que aparece no documentário. Investigações mostraram que a vida sexual de Amanda fora estranha e extensa. As contradições a levaram a ser considerada culpada, juntamente com os outros dois: seu namorado e o desempregado. Foram presos de imediato e no julgamento considerados culpados. Alguns anos depois, a Suprema Corte Italiana, após pedido de recurso, declarou Amanda e o namorado italiano inocentes. Sendo que o desempregado permaneceu preso, embora se declarasse inocente.

O documentário em questão me fez lembrar o quanto é importante o profundo conhecimento da cena do crime, descrito nos bons romances policiais. A cena é a primeira parte de um longo processo de investigação e é estudada cuidadosamente pelos peritos e detetives. Juntamente com as entrevistas com amigos e vizinhos, constituem uma boa parte dos dados que serão analisados. Além da necropsia. Nos romances de Sherlock Holmes, é sua dedicação extrema em analisar o cenário do crime que o leva a descobrir o que aconteceu. Em uma de suas histórias, na primeira hora no quarto da vítima e olhando pela janela, afirmou que o assassino foi um indígena de uma tribo anã, que usou um veneno para matar e entrou pela claraboia, saindo pela janela, além de mancar de uma perna e usar uma carroça com defeito na roda.

Brevemente teremos em Brasília novo julgamento do crime que envolveu um casal da alta sociedade e a empregada da família. Ele, respeitado desembargador. Com os acusados revelando que foram contratados pela filha das vítimas. Assisti ao julgamento e ela foi considerada culpada, com uma pena de 67 anos de prisão. No entanto, defendida por um dos mais conceituados advogados da cidade, a ré nunca foi presa. O pedido de recurso, como acontece na justiça brasileira, demorou anos para ser considerado. Os assassinos continuam presos.

Coincidentemente, a Globo Play vai apresentar, talvez no tempo do novo julgamento, um documentário sobre o caso. Usando como peça publicitária a afirmação de que aparecerão novas visões do fato. Talvez, quem sabe, sejam abordados os estranhos trâmites da justiça - que deixam em liberdade por tanto tempo uma pessoa julgada e condenada. Ou talvez possamos entender as íntimas ligações, similitudes, relações de convivência e influências do grupo de poder da elite social. Enquanto isto, a estátua da deusa grega da Justiça, Themis, permanece impávida em toda a sua beleza na Praça dos Três Poderes. Ela tem os olhos vendados para garantir a imparcialidade dos julgamentos. Em suas mãos, uma balança, para demonstrar a igualdade entre todos os homens, independentemente de sua cor, raça ou posição social. (02/2025/luiza)
 

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