Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO:  DIVAGAÇÕES

 
De: LUÍZA CAVALCANTE CARDOSO <luizaccardoso@gmail.com>
Date: seg., 7 de abr. de 2025 
Subject: divagações
 

                                                                      DIVAGAÇÕES

 

Um famoso cantor americano apareceu em um vídeo falando sobre a rapidez com a qual os anos passam. Quarenta anos se estabelecem em nossas vidas, dizia, de repente já não somos mais adolescentes. Para quem é idoso trata-se de uma verdade incontestável e inconsolavelmente presente. Preta Gil também apareceu falando de sua luta contra o câncer e prestes a começar, depois da cirurgia, uma nova rodada de quimioterapia. O tratamento continua e sua força, explicava, vinha da confiança na medicina e nos médicos, no apoio dos amigos e amor da família. E, por fim, em um programa de entrevistas, um terapeuta dizia que o assunto de suas entrevistas terapêuticas era de fato a questão dos relacionamentos.

Ao que parece, temos duas questões relevantes na vida, mas cuja importância varia de acordo com cada um e suas circunstâncias: a passagem do tempo e o que fazemos com ele, em termos de nossas necessidades. O terapeuta explica que o grande fator de felicidade é um casamento feliz. Pensando bem, amigos e familiares são importantes, mas quem substitui com efetividade o grau de confiança, aconchego, cumplicidade e entrosamento de duas pessoas que convivem diariamente? Juntas aprendendo a lutar, vencer ou fracassar, com as doenças dos filhos, educação, falta de recursos, períodos de vida no qual tudo parece dar errado. Ou, quem substitui a alegria compartilhada por duas pessoas que, juntas, aprenderam a descobrir e aproveitar das belezas da vida, dos momentos de extrema intimidade diante do outro, exatamente como ele é?

Os amigos e a família como um todo serão menos importantes? Não! Sem dúvida ocupam um lugar de afeto e companheirismo aos quais podemos recorrer quando necessitamos. No entanto, quando o terapeuta fala em casamento feliz ele provavelmente se refere ao conhecimento que cada um desenvolveu de seu cônjuge, desvendando o que cada um dos dois é realmente. Com a aceitação e o carinho implícito nos gestos do cotidiano, naquela capacidade de adivinhar os pensamentos do outro e de estar atento. Na confiança que destrói muros e defesas e facilita ver cada um no que tem de melhor. Em um tipo de comunicação que propicia uma convivência diária facilitada, proveitosa, gostosa. E ajuda nos momentos de raiva e desentendimentos que possam ocorrer.

Parece que tudo aponta para uma boa comunicação. Como se encontram as nossas? Quando a convivência com o próximo flui naturalmente e os desacordos são resolvidos com naturalidade, progredimos na arte de estar com os outros. Quando preservamos nossa independência e facilitamos a dos que nos cercam. Quando silenciamos se necessário e não invadimos a intimidade de quem quer resguardá-la. Quando podemos proporcionar compreensão e aconchego a quem precisa. E escolhemos as melhores palavras.

Por trás de tudo, a atenção. Sem ela, a comunicação é tosca, não leva a nada. E quando falamos em atenção, o Aurélio é generoso. Do latim attentione, quer dizer aplicação cuidadosa da mente em alguma coisa; exame atento, reparo, consideração, urbanidade para com alguém. E Pare, Cuidado! O que é importante até conhecermos realmente com quem estamos lidando. Enfim, dá trabalho, mas sem estarmos atentos ao que o outro faz e diz é quase impossível uma convivência proveitosa para o bem-estar na vida. Para nosso conforto, entretanto, às vezes desenvolvemos com nossos amigos ou amores esta aproximação gostosa e feliz, sem nos darmos conta das dificuldades.  Às vezes, até sem o espanto diante das diferenças, dos incômodos e dos estranhamentos.

Espanto citado por Vinicius em seu “Soneto de luz e treva”, dedicado à sua Gesse. “Ela tem uma graça de pantera/ No andar bem-comportado de menina. /No molejo em que vem sempre se espera/ Que de repente ela lhe salte em cima. / Mas súbito renega a bela e a fera/ Prende o cabelo, vai para a cozinha/ E de um ovo estrelado na panela/Ela com clara e gema faz o dia. / Ela é de capricórnio, eu sou de libra/ Eu sou o Oxalá velho, ela é Inhansã/ A mim me enerva o ardor com que ela vibra/ E que a motiva desde de manhã. /– Como é que pode, digo-me com espanto/ A luz e a treva se quererem tanto...” (04/2025/luiza)           

 
 

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