Theresa Catharina de Góes Campos

 

 

 
ylê Quintão: Nosso encontro para trocar livros e as minhas novidades

De: ayle quintão <ayleq@yahoo.com.br>
Date: sáb., 19 de abr. de 2025
Subject: Re: Agradecimentos por nosso encontro para trocarmos livros e saborear um cafezinho
To: Theresa Catharina de Goes Campos <theresa.files@gmail.com>


Nobre Catharina,

(...)
Aquela história de troca de livros foi com a intenção de dar maior leveza para nossa conversa digital: uma brincadeira...
É que às vezes a escrita não consegue dar uma face para esse tipo de comportamento. Estou escrevendo sobre línguas indígenas, e lá
a gente depara com linguagens de sinais, assovios, variação de tonalidades para uma mesma palavra , olhares e até expressões pela arte
corporal.

A propósito, li "A luz entre oceanos", mas "O médico de homens e de almas " ainda não. Estou meio centrado na leitura sobre "índios".
Na primeira oportunidade o farei. Mas, a história de uma vida poética comum isolada num farol é deliciosa. Fora o fato de se conhecer
uma parte romântica da Austrália. Gostei muito.

Quanto ao "Território Livre", eu o escrevi porque, como você teve oportunidade de vivenciar , a UnB é cheia de organizações políticas e ideológicas, e cada geração de professores e estudantes que passa por ali reconta a história do que eles não viram . Geram novas e falsas narrativas, heróis e heroísmos. Parece até que os dez primeiros anos da UnB - os mais duros - não existiram. Ficava injuriado com as falas
e os livros que foram escritos por esse povo. Observei que aquele nosso mantra "Território Livre" ninguém conseguia captar.
Concluí: "É por aqui!" .

Lançado o livro, os estudantes de História fizeram uma passeata dentro do campus pregando o "Território Livre!" e pichando vários lugares
com a frase. Fui convidado a falar na semana universitária sobre o tema e o Diretório Central dos Estudantes fez um lançamento do livro.
No mínimo, provoquei os arrogantes protagonistas da história da UnB a engolir seco seus relatos sobre o que só ouviram falar... sem dar a
devida atenção.

Mas, confesso que gosto mesmo é do "Lanternas Flutuantes". Ele poderia ter saído melhor, mais apurado, mas eu mesmo fiquei angustiado
para dar-lhe uma amarração final, porque recebi um convite para publicá-lo também na Alemanha. O que eu queria mesmo era escrever, no mínimo, o "libreto" para um musical : adoro musicais. Não encontrei compositores que topassem o desafio. O Holderlin me provocava:
"Viver poeticamente". o Jung dizia: "Há algo lá", e ainda encontrei pela frente o Marcel Proust valorizando histórias do cotidiano como fenomenologia.

Na condição de jornalista militante, tenho tantas histórias!... Mas aquelas, de antigas namoradas, são demais: uma linda fazendeira, vivendo
num cantão da Serra da Mantiqueira , num lugar silvestre e selvagem; uma norte-americana que apareceu de repente; uma maluca, notívaga, que vivia intensamente a ideia de ser uma valkyria perdida e queria ser uma deusa nórdica (Freya). Uma linda índia dessana (Dyakapiro).
Uma charmosa pregadora dessas Assembleias Pentecostais. E, finalmente, uma linda e exímia pianista (Sou um músico frustrado: estudei
canto lírico em teatro de ópera). A política na UnB me desviou desse tipo de encantamento. Em Londres era frequentador da Royal Opera
e dos musicais: Oklahoma, Evita e outros.

Como o percurso e a construção de uma vida é cheio de pequenas passagens virtuosas e também enganosas!!!. Elas vão dando forma a
nossa inserção e visão de mundo, sem que percebamos. A escola nos passa o saber; a vida, a sabedoria. Não leva a nada, mas , pelo menos,
não fomos omissos diante da existência. Demos nossa contribuição para que outros fizessem os próprios percursos. E é só. Por isso, o
Holderlin tem razão: "viver poeticamente". O Heidegger completa: "Intensamente...".
Abraços, e vamos breve para um outro café. Obrigado pela atenção.
Aylê
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Ver também:

https://www.theresacatharinacampos.com/comp12539.htm
 

Jornalismo com ética e solidariedade.